Costa quis "manter autoridade". Marcelo? "Muito barulho e tudo na mesma"?

Na ótica do politólogo José Adelino Maltez, António Costa optou por "jogar pelo seguro", em detrimento de convocar o agora ex-adjunto do ministro das Infraestruturas, Frederico Pinheiro, escolhendo, "entre dois males, o mal menor". Por seu turno, António Costa Pinto equacionou que o chefe do Governo terá procurado, acima de tudo, "manter a sua autoridade enquanto primeiro-ministro".

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Daniela Filipe
03/05/2023 14:02 ‧ 03/05/2023 por Daniela Filipe

Política

Governo

No rescaldo do pedido de demissão do ministro das Infraestruturas, João Galamba, e da consequente rejeição dessa saída por parte do primeiro-ministro, António Costa, o politólogo José Adelino Maltez considerou que, apesar deste "barulho", vai "continuar tudo na mesma", atrevendo-se a dizer que "a 'bomba atómica' não está a caminho". António Costa Pinto partilhou da mesma opinião, ressalvando que o chefe do Governo terá procurado, acima de tudo "manter a sua autoridade enquanto primeiro-ministro".

Face à 'manobra' do chefe do Governo, José Adelino Maltez recordou, em declarações ao Notícias ao Minuto, que o primeiro-ministro "tem, em funções, ministros que ficaram totalmente 'queimados' em operações mediáticas onde se empenharam e, depois, desapareceram mediaticamente e parece que são governantes".

"É uma decisão de um primeiro-ministro. Só ele é que tem poder para a proposta de exoneração e nomeação de ministros; está decidido", complementou, atirando que os visados até podem "ficar melhor; não têm de se preocupar com a comunicação social".

Na mesma linha, António Costa Pinto apontou, também em conversa com o Notícias ao Minuto, que Costa pretendeu com esta decisão "manter a sua autoridade enquanto primeiro-ministro perante o Presidente da República, e perante a opinião pública, inclusivamente os partidos políticos".

"O que provavelmente está na base não é tanto a grande proximidade e outro tipo de fatores entre Galamba e o primeiro-ministro, mas simplesmente o manter a autoridade política. Ou seja, [António Costa] assume a plenitude dos seus poderes e desafia indiretamente, porque tem maioria absoluta, o Presidente da República", esclareceu o politólogo.

Confessando não saber se esta decisão poderá vir a provar-se um 'tiro no pé' para o chefe de Governo, Adelino Maltez equacionou que, entre as opções à disposição de Marcelo Rebelo de Sousa, a mais viável "é fazer muito barulho e continuar tudo na mesma".

"Não acho que a 'bomba atómica' esteja a caminho, porque a 'bomba atómica' não é arbitrária", disse, indicando que "os resultados das eleições resultantes desta dissolução [da Assembleia da República] são sempre uma maioria parlamentar diferente da que está e, consequentemente, um novo Governo".

"Até agora, nunca falharam. Há aqui uma limitação objetiva dentro da praxe constitucional", apontou, dando ainda conta de que há "algo de inédito neste processo".

Já Costa Pinto ressalvou que "não vale a pena estar a entrar na cabeça" de Marcelo, uma vez que "o poder de dissolução é uma característica do órgão unipessoal do Presidente da República e, portanto, depende exclusivamente da avaliação política".

"Se o Presidente for coerente com o que tem anunciado serem os fatores que o levam a não dissolver a Assembleia da República, [nomeadamente] o Governo relativamente jovem, a maioria absoluta, e a necessidade de estabilidade para a utilização dos pontos do PRR, como nenhum destes fatores esteve em causa, não vai dissolver", complementou o politólogo.

Ainda assim, Costa Pinto salientou que, tendo em conta o cenário atual, "neste momento, existiria uma maioria de Direita na Assembleia da República". "Mas, tal como verificámos nas eleições de 2022, com um resultado surpreendente, não é nada claro", contrariou, atirando que "quem tiver opiniões muito firmes sobre isso, fala, mas não sabe".

E prosseguiu: "Quer Marcelo Rebelo de Sousa, quer António Costa são atores políticos muito experientes e, no caso do Presidente da República, o chamado 'pré e pós' não tem grande sentido. Ou seja, cada um tem uma noção clara de quais são os seus poderes e de qual é o seu lugar, pelo que não vale a pena entrarmos no binómio amizade antes ou depois, porque isso nunca moldou a relação."

José Adelino Maltez lembrou, por seu lado, que "o senhor primeiro-ministro fez um longo direto, entre 'conversa em família', 'exame de consciência', em que se justificava, e, ainda estava ele a falar, surgiu uma nota da Presidência da República com uma manifesta discordância".

Na sua ótica, Costa optou por "jogar pelo seguro" em detrimento de convocar o agora ex-adjunto do ministro das Infraestruturas, Frederico Pinheiro, escolhendo, "entre dois males, o mal menor".

"Quem faz as remodelações é o primeiro-ministro, não são os jornalistas, nem os comentadores, nem o Presidente", lançou, considerando ainda que "a política está a voltar a ser interessante".

"Isto não é um caso nem um casinho, é um casarão. Se fosse maquiavélico, diria que finalmente ganhou um ministro que vai governar sem se preocupar com os jornais e as televisões, mas isso é muito maquiavélico", rematou.

Recorde-se que em causa está a ‘salvação’ de João Galamba, cujo pedido de demissão foi recusado por António Costa, que optou por remar "contra a maré" – chocando mesmo com a posição de Marcelo Rebelo de Sousa.

De notar ainda que a polémica 'estalou' com demissão do ex-adjunto, que acusou o responsável de "querer mentir" à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à gestão da TAP sobre a existência de notas de uma reunião entre membros do Governo, o Grupo Parlamentar do Partido Socialista (GPPS) e a ex-CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener, antes da audição da mesma no Parlamento.

Após a exoneração, Frederico Pinheiro ter-se-á dirigido às instalações do Ministério, em Lisboa, "procurando levar o computador de serviço" com informações classificadas, "recorrendo à violência junto de uma chefe de gabinete e de uma assessora".

Leia Também: Costa contraria "maré". Salvou Galamba e deixou Marcelo 'à deriva'

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