"Dizer que vamos crescer 2,4% num contexto em que temos dezenas de milhares de milhões de euros de fundos europeus e uma inflação histórica, sem dizer quanto é que os portugueses e as famílias vão ter a mais, quanto é que os pensionistas vão ter a mais e quanto é que vai reduzir a carga fiscal soa a muito poucochinho por parte do Ministro das Finanças", disse o líder do Chega, André Ventura, em declarações na sede do partido, em Lisboa.
Ventura afirmou que o Governo "em nada beneficiou ou contribuiu" para aquelas que considera serem as causas do crescimento económico, como o turismo ou o consumo interno, sublinhando que o país "não está a exportar mais tecnologia, não está a exportar mais matérias-primas, não está a exportar mais 'know-how', não está a exportar mais têxtil, não está a inovar".
"O crescimento de 2,4% anunciado para a economia portuguesa é um crescimento anémico. E é anémico quando temos em conta que estão dezenas de milhares de milhões de euros disponíveis de fundos comunitários para fazer a economia portuguesa crescer. Portugal devia estar a crescer muito mais com os fundos que tem do PRR neste momento à sua disposição", considerou.
O deputado do Chega defendeu que "todos os fatores de crescimento económico não são fatores de crescimento estrutural" e que reconheceria "se o Governo estivesse a fazer um bom trabalho nesta matéria".
Em declarações aos jornalistas no parlamento, o deputado da Iniciativa Liberal João Cotrim Figueiredo defendeu, também, que esta é uma oportunidade para "produzir uma redução fiscal generalizada para estimular" a economia em vez de fazer aquilo que considera ser uma "forma assistencialista" de distribuir o excesso de receitas.
Cotrim Figueiredo afirmou que "o que União Europeia veio dizer é que o Governo vai ser o grande beneficiário da inflação, porque vai cobrar muito mais impostos do que tinha orçamentado" e acusou o Governo de "pouco ou nada" ter feito para valorizar o turismo.
"E tem que ser dito que em relação a esse setor [o turismo], o Governo tem feito pouco ou nada. E o que tem feito é no sentido de desvalorizar e atacar o setor turístico, nomeadamente, com aquilo que tenta fazer ao alojamento local no pacote Mais Habitação", afirmou.
O deputado da IL disse também que todos os países elegíveis para o Fundo de Coesão da UE "vão crescer mais" em 2024 do que Portugal e que "isso deve ser citado ao mesmo tempo que citamos as boas notícias relativamente a 2023".
"É caso para dizer que uma andorinha também não faz o boletim da primavera e, portanto, há no meio destas boas notícias que saudamos, há estas sombras, e estas nuvens que nos dão a entender que o futuro não tão risonho como pode parecer", concluiu.
Bruno Dias, deputado do PCP, alertou para a necessidade de distribuir a riqueza gerada no país, salientando que "os trabalhadores que estão a criar riqueza estão a empobrecer a trabalhar" e pediu mais investimento nos serviços públicos.
"Quando nós falamos de resultados e estatísticas positivas para Portugal no contexto europeu, etc, tudo muito certo. Falta o investimento público, falta o investimento nos serviços públicos e falta a distribuição dessa riqueza. E isso significa salários e pensões e prestações sociais", defendeu.
O comunista lembrou a polémica frase do presidente dos sociais-democratas, Luís Montenegro, em 2014, quando era líder parlamentar do PSD -- partido que governava o país em coligação com o CDS-PP nos tempos do memorando da 'troika' -- que numa entrevista afirmou que "a vida das pessoas não está melhor, mas o país está muito melhor".
"Pelos vistos é o mote outra vez em 2023. (...) A vida das pessoas é que conta. Nós precisamos que os portugueses, todos aqueles que vivem cá, tenham uma vida melhor. Há condições para isso. Vamos então para as opções políticas que criam condições para isso", insistiu.
A Comissão Europeia reviu hoje em alta a projeção de crescimento da economia portuguesa para este ano, para 2,4%, a terceira maior taxa da zona euro, revelando-se mais otimista do que o Governo. Bruxelas prevê também que o défice português diminua para 0,1% este ano, o menor da zona euro.
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