O líder do Partido Social-Democrata (PSD) encerrou, esta terça-feira, as jornadas parlamentares do partido na Madeira, onde o partido governa desde 1976, com um discurso em que deixou farpas ao primeiro-ministro e ao Partido Socialista (PS).
Falando sobre a proposta de revisão constitucional assinada pelo PSD, Luís Montenegro deixou bem claro: "Estamos a seguir serenamente os trabalhos da comissão de revisão constitucional, mas só vai haver revisão se for para mudar algumas coisas. O PSD não vai dar borlas constitucionais ao PS. Se o PS quiser manter tudo na mesma e mudar só aquelas coisas que considera mais importantes, não vai haver revisão constitucional."
No seu discurso, o líder do PSD disse que "ou é para mudar aquilo que é importante mudar, ou então não vai haver adesão do PSD", garantindo que o partido não quer "criar uma constituição ideológica", mas sim "retirar as amarras ideológicas que o PS teimosamente quer continuar a ter na Constituição da República".
As jornadas parlamentares do PSD decorreram na Madeira entre segunda-feira e terça-feira, servindo para, entre outros assuntos, preparar a campanha eleitoral do partido para as eleições regionais deste ano.
Esta não foi, no entanto, a única 'farpa' que Montenegro atirou em direção ao Governo socialista. "Tem sido também reconfortante e indutor da nossa motivação e mobilização o trabalho que temos feito em articulação e coordenação entre o PSD nacional, os deputados na Assembleia da República e o PSD regional e os deputados na Assembleia Legislativa. Não é fácil, mas estou muito agradado por, apesar dessa dificuldade, ser muito mais fácil a articulação entre o PSD nacional e o PSD da Madeira do que entre os membros do Governo da República", disparou.
Aliás, Montenegro garante que os sociais-democratas estão mais articulados "do que os membros do Governo uns com os outros, e deles com o primeiro-ministro, inclusivamente numa coisa basilar como relatar um determinado acontecimento". Referia-se, indiretamente, Montenegro ao polémico caso da exoneração do ex-adjunto do ministro das Infraestruturas e das várias versões sobre esse acontecimento que têm sido ouvidas.
"No Governo, parece que cada acontecimento tem sempre duas ou três versões, é a tal nova forma de lidar com a verdade. Cada um depois tem a sua e isso não é bom, porque tira confiabilidade e credibilidade à ação dos poderes públicos e do Governo em especial", lamentou o líder do PSD.
"O poder não é eterno"
O presidente do PSD deixou, ainda, um aviso ao primeiro-ministro: "O poder não é eterno". No entender do líder social-democrata, os socialistas "já tiveram a sua oportunidade e desperdiçaram-na", dizendo estar a chegar "a vez" de os sociais-democratas governarem.
Luís Montenegro aconselhou também António Costa a "tomar um banho de realidade" e a ser mais humilde.
"O poder não é eterno, o poder serve para mudar e transformar a vida das pessoas, e é preciso saber conviver com a circunstância de umas vezes sermos nós a protagonizar essa mudança e outras vezes serem outros", afirmou.
Montenegro acrescentou que "o mundo não vai acabar quando acabar o Governo do PS": "Não é preciso estarem tão agarrados, estão ali como lapas, ali agarradinhos, a democracia é isto, já tiveram o vosso tempo, já tiveram a vossa oportunidade e já a desperdiçaram. Está a chegar a nossa vez, vamos estar no sítio certo para ganhar eleições e governar Portugal", disse.
As viagens de Costa
Luís Montenegro falou extensivamente sobre a insularidade e o contexto regional da Madeira, o "último reduto do PSD no território nacional". Lembrou que, nas eleições regionais de 2019, António Costa visitou o arquipélago 7 vezes. "Foi um esforço grande, desta vez vai ter de ficar cá 14 e logo se vê o resultado. Eu quero aqui instar António Costa a manifestar o seu empenho e dedicação de igual modo àquilo que fez há quatro anos. É a melhor maneira de termos o esclarecimento cabal dos eleitores", atiçou Montenegro.
De seguida, ainda disse: "Acho que tem, aliás, essa responsabilidade e pode agora até trocar algumas das viagens que muito empenhadamente tem feito ao estrangeiro e estar aqui um bocadinho mais no território nacional."
Nesse âmbito, Montenegro garantiu mesmo que uma prova da melhor preparação do PSD para governar está "na confrontação entre o que faz ou não faz o Governo da República e o que faz ou não faz o Governo da região". "O Governo da República facilita muito a campanha aqui na Madeira", ironizou.
[Notícia atualizada às 13h47]
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