"Há uma coisa que me surpreende um pouco, que é a forma como em Portugal, de repente, se desvaloriza a relevância da quebra de segurança quanto a documentos classificados. Todos nós nos recordamos como muito recentemente um ex-Presidente dos Estados Unidos e o Presidente dos Estados Unidos foram objeto de investigação", apontou António Costa.
Falando à imprensa portuguesa no final da segunda cimeira da Comunidade Política Europeia, na cidade moldava de Bulboaca, o chefe de Governo reiterou que "ninguém acionou o SIS [Serviço de Informações de Segurança], ninguém deu instruções ao SIS, já toda a gente sabe a história".
"A chefe de gabinete do senhor ministro das Infraestruturas comunicou ao SIS que houve uma quebra de segurança com documentos classificados e o SIS agiu em conformidade", insistiu, apontando que "foi da sua própria iniciativa que ela ligou ao SIS". "Isto é claríssimo", salientou.
"Eu gostava de saber o que é que a oposição diria se eu perdesse um documento classificado, se houvesse uma quebra de segurança num documento classificado meu, e não comunicasse às autoridades, o que é que diria", questionou António Costa, pedindo "uma reflexão" sobre "o que se anda a dizer porque é fundamental preservar as instituições".
Quando questionado sobre as perguntas que o PSD lhe dirigiu sobre a ação do SIS na recuperação de um computador levado do Ministério das Infraestruturas, o primeiro-ministro salientou que respondeu "pela mesma via", ou seja, através da comunicação social.
"Falta de respeito era não ter respondido às perguntas. [...] Eu recebi as perguntas pela comunicação social e respondi pela mesma via e dizem-me até - mas eu nem quero acreditar - que o PSD nem sequer tinha formalizado ainda as perguntas junto à Assembleia da República", disse.
O Governo ainda não recebeu formalmente as perguntas que o PSD dirigiu ao primeiro-ministro sobre a ação do SIS na recuperação de um computador levado do Ministério das Infraestruturas, disse hoje à Lusa fonte do executivo socialista.
Segundo a mesma fonte, o gabinete de António Costa tomou conhecimento "pela imprensa" das perguntas formuladas pelo PSD sobre este caso que envolve o SIS.
"Mas há mais: o PSD divulgou publicamente as suas perguntas bem antes de as submeter formalmente à Assembleia da República. Pela nossa parte, as respostas do primeiro-ministro foram divulgadas pela mesma via e estão desde o início desta manhã publicadas no portal do Governo", refere.
Também a ministra da Presidência tinha alegado o mesmo na conferência de imprensa no final do Conselho de Ministros. Mariana Vieira da Silva contrapôs que as respostas do Governo às perguntas formuladas pelo PSD "foram dadas nos exatos meios em que foram recebidas" pelo executivo.
"E, para não criar uma perceção de que há perguntas lançadas sem resposta, foram respondidas. Da mesma maneira que me perguntam, também respondo que não tínhamos formalmente recebido as questões" do PSD, frisou.
Horas antes, o líder parlamentar do PSD afirmou que as respostas do primeiro-ministro sobre o SIS ainda não tinham dado entrada na Assembleia da República, acusando António Costa de "desrespeito ao parlamento" e "atropelo às instituições".
"É um desrespeito para a Assembleia da República que as eventuais respostas do senhor primeiro-ministro às perguntas que o PSD ontem [quarta-feira] colocou sobre a atuação do SIS no caso do portátil do adjunto do ministro das Infraestruturas ainda não tenham dado entrada no parlamento, mas desde as 06:30 da manhã já estejam na comunicação social", criticou Joaquim Miranda Sarmento, em declarações aos jornalistas no final da reunião do grupo parlamentar.
O líder parlamentar social-democrata escusou-se a comentar o conteúdo das respostas divulgadas hoje Lusa, "enquanto não forem oficiais".
As respostas do primeiro-ministro, divulgadas pela Lusa, já foram, entretanto, publicadas no portal do Governo na Internet, mas no site do parlamento - no separador dedicado a "perguntas e requerimentos" - não consta nem a pergunta do PSD, anunciada na quarta-feira, nem a respetiva resposta.
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