As respostas de António Costa continuam a gerar críticas na oposição e, esta noite, o antigo líder do PSD e ex-primeiro-ministro, Pedro Santana Lopes, reiterou que as palavras do chefe de Governo apontam para uma "versão contraditória que fica muito mal a todos", deixando ainda palavras elogiosas mas crípticas sobre o Presidente da República.
Em declarações à SIC Notícias, o antigo líder social-democrata, e agora presidente da câmara de Figueira da Foz, comentou a última sondagem do ICS/ISCTE para a SIC/Expresso, na qual a maioria dos portugueses não concordaram com a manutenção de João Galamba no Governo, mas a mesma maioria deixou de parte uma dissolução do Parlamento (pedindo antes uma remodelação).
Para Santana Lopes, o resultado demonstra que "os portugueses, apesar desta confusão, mantêm a serenidade e a lucidez". "São respostas que podemos considerar o 'common sense', a reação comum dos cidadãos que acham que o ministro ter ficado é complicado, portanto dão razão ao Presidente da República", referiu.
Santana Lopes elogiou a forma como se tem comportado o Presidente da República, apontando que Marcelo Rebelo de Sousa teve "intuição e faro político" ao discordar publicamente da manutenção de Galamba, mas salientando que isto "tenha sido um juízo próprio, mesmo sem pensar nos sentimentos dos cidadãos, de ter achado mal tudo o que viu".
"A convocatória do Conselho de Estado, o ouvir os partidos, os comentários que vai fazendo, a expressão que ele põe - Marcelo gosta muito de brincar e não tem brincado -, tudo dá a entender que o Presidente sabe que há algo de grave", disse.
O autarca, que foi eleito para a autarquia da Figueira da Foz em 2021, comentou brevemente a troca de farpas entre PSD e António Costa sobre a divulgação das respostas na comunicação social, afirmando que "se é verdade que o PSD também fez saber as perguntas pela comunicação social, compreendo a reação do primeiro-ministro". Mas o que saltou à vista "foram as diferentes versões", sobre quem ligou ao Serviço de Informações de Segurança (SIS).
"É horrível para nós todos estarmos a falar de novelas na política ao mais alto nível, mas é uma novela de mau gosto. Há aqui muita versão contraditória que fica muito mal a todos", afirmou também o antigo primeiro-ministro, salientando que "é grave haver versões diferentes sobre uma noite que se revelou politicamente muito complicada".
Maioria quer remodelação e confia na decisão de Marcelo
Voltando a 'pegar' na sondagem, o social-democrata lamentou que o caso se esteja a arrastar para mais uma polémica, defendendo que os portugueses "querem estabilidade, não querem eleições, querem sossego e a vida a melhorar". "Agora, com isto é impossível. Em nenhum país democrático de Estado de Direito um primeiro-ministro e um ministro podem estar em contradição relativamente a um facto importante sobre temas sensíveis do Estado", rematou.
A verdade é que a grande maioria dos portugueses preferia, de facto, que João Galamba tivesse saído do Governo após a crise desencadeada pela noite de 26 de abril, no Ministério das Infraestruturas. Cerca de 64% dos inquiridos respondeu que Costa "fez mal" em manter o ministro, e apenas 17% concordou com a decisão.
No entanto, a nova crise em torno de Galamba e a atuação do SIS não convencem os portugueses a voltar às urnas. Quanto à forma como reagiu Marcelo ao anúncio de que Galamba ficaria no executivo - discordando publicamente da decisão enquanto Costa falava e prometendo estar mais atento -, mais de metade (53%) concordou com o Presidente da República sobre não dissolver a Assembleia da República e acha que o chefe de Estado está mesmo mais ativo.
Por outro lado, ainda de acordo com a sondagem apresentada pelo canal de televisão, 22% preferiam uma dissolução e eleições, e apenas 13% queria que o Governo fosse demitido, mas sem novas eleições.
Sendo a relação entre o Presidente o primeiro-ministro um grande motivo de discussão, 56% dos inquiridos não acha que a relação entre ambos vá alterar, um terço acha que vai piorar mas, ainda assim, a maioria acha que o Governo vai chegar ao fim da legislatura, em 2026.
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