Prigozhin? "Entre dois amores, Putin preferiu o seu ministro da Defesa"

Antigo ministro da Defesa comentou os mais recentes acontecimentos a afetar a Rússia e criticou algumas teorias criadas em torno da curta rebelião.

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Notícias ao Minuto
27/06/2023 08:44 ‧ 27/06/2023 por Notícias ao Minuto

Política

Rússia/Ucrânia

O antigo ministro da Defesa José Azeredo Lopes considerou, esta terça-feira, que há duas verdades "objetivas" que levaram o líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, a espoletar uma rebelião na Rússia, após sentir que "as suas vantagens" e "o seu poder" estavam a ser "atacados". 

Em declarações na CNN Portugal, Azeredo Lopes começou por criticar algumas "teorias" em torno dos acontecimentos, nomeadamente a de que "foi tudo combinado com Putin" para agora o chefe de Estado russo ter "uma espécie de testa-de-ferro na Bielorrússia".

"Eu, sinceramente, acho que, na vida e na realidade, quase sempre é mais interessante procuramos o que é razoável do que procurarmos verdadeiras alucinações", apontou.

Assim, o antigo ministro notou que há "duas coisas" que são "verdade" e que podem explicar a reação de Prigozhin.

Primeiro, "estava a a ver a ação do seu grupo cada vez mais limitada e é sabido que ele tinha um prazo, até 1 de julho, para ceder ou não a um ultimato que dizia que o grupo Wagner morria na Rússia e morria na Ucrânia".

"Se pensarmos naquela que era a dimensão do poder que Prigozhin detinha por controlar estes milhares de combatentes, também se compreende facilmente a raiva profunda que fazia com que ele se visse perante um ultimato e considerasse também, aliás, que tinha sido, de alguma maneira, 'traído' por Vladimir Putin. Entre dois amores Vladimir Putin, muito claramente, preferiu o seu ministro da Defesa e preferiu a sua estrutura de comando militar formal", considerou.

Em segundo, explicou o antigo ministro, "Prigozhin já se vinha queixando de que os contratos fabulosos que detinha para o fornecimento de alimentação para as Forças Armadas ou até para escolas russas, estavam a ser atacados, corroídos, digamos assim, por parceiros de negócio, justamente ligados aos seus ódios de estimação e, nomeadamente, ao ministro da Defesa".

"Portanto, [Prigozhin] via em duas frentes as suas vantagens enormes, a sua capacidade e o seu poder a serem atacados, ficando ele, no fundo, numa situação de alguém que, pouco a pouco, se via encerrado entre dois muros que apertavam lentamente", destacou.

De realçar que, no mesmo comentário, Azeredo Lopes considerou ainda "surpreendente" que o presidente da Bielorrússia, Aleksander Lukashenko, tenha assumido o papel de mediador entre o Grupo Wagner e o Kremlin.

"Temos depois negociações que são elas próprias extraordinárias. O ator principal, o mediador, é aquele em que eu menos teria apostado para poder chegar a uma solução, qualquer que ela fosse", afirmou.

"Ver o chefe de estado da Bielorrússia a assumir esse papel é uma coisa que eu acho absolutamente surpreendente", considerou.

Recorde-se que o líder do grupo paramilitar Wagner, Yevgeny Prigozhin, avançou, na sexta-feira, com uma rebelião na Rússia, que acabou por suspender menos de 24 horas depois, já após ter ocupado Rostov, uma importante cidade no sul do país para a logística da guerra na Ucrânia.

Prigozhin acusara antes o Exército russo de atacar acampamentos dos seus mercenários, provocando "um número muito grande de vítimas". As acusações foram negadas pelo Ministério da Defesa da Rússia.

Vladimir Putin discursou ao país e falou numa "ameaça mortal" ao Estado russo e numa "traição". 

Leia Também: "Não há uma visão perfeitamente clara daquilo que se passou na Rússia"

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