O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, salientou, esta quinta-feira, que as medidas anunciadas na quarta-feira pelo primeiro-ministro, António Costa, são "importantes", ainda que tenha ressalvado que o chefe do Governo é "mais otimista" do que o próprio. Apontou, além disso, que as propostas "dão jeito em termos eleitorais".
"Todas as medidas que são positivas para a juventude, para a minha provecta idade, para quem está nos estratos intermédios, são muito importantes. Pensando na juventude, há um problema de habitação, sinal de que subiu aquilo que é o número de estudantes no ensino superior, nomeadamente na área da Grande Lisboa", começou por dizer o chefe de Estado, em declarações aos jornalistas durante a inauguração do Percurso Ribeirinho de Loures, que liga aquela localidade a Lisboa e a Vila Franca de Xira.
E realçou: "Para o ensino secundário é importante, para o ensino superior é importante, para o lançamento da vida profissional é importante o IRS com um regime que seja atrativo, é importante a contratação de técnicos que saiam das escolas, é importante a devolução das propinas, há uma série de medidas que são importantes."
Ainda assim, Marcelo não deixou de sublinhar que partilha "uma diversidade de fundo" com António Costa que, a seu ver, é "mais otimista".
"Sabem que temos uma diversidade de fundo. O senhor primeiro-ministro é mais otimista do que eu. Eu baixo sempre as expectativas, parto do princípio de que não se deve esperar muito e, depois, tenho boas notícias. O senhor primeiro-ministro coloca a fasquia sempre muito alta e, às vezes, eu digo, ‘olhe, não é alta demais?’, mas ele lá sabe", indicou.
Questionado quanto à possibilidade de estas medidas serem uma consequência da "folga" orçamental proporcionada pelos fundos europeus, Marcelo foi taxativo: "Isso tem de perguntar ao Governo, o Governo é que sabe. Posso desconfiar, sabendo o que o senhor primeiro-ministro me diz, mas o Governo é que tem de dizer até onde é que quer utilizar a folga", disse.
O Presidente da República apontou ainda que, na sua ótica, as rentrées partidárias são momentos a considerar pelo anúncio de medidas que trazem "sinais de esperança para o futuro". Caso disso foi o anúncio da extensão até ao final do ano da medida IVA zero, que estaria em vigor apenas até outubro. Na verdade, o comentador e conselheiro de Estado, Luís Marques Mendes, já tinha avançado que o Governo pretendia prorrogar a medida, tendo elogiado o seu impacto, apesar de ter considerado que o preço do cabaz alimentar continua a ser muito elevado.
Para o Presidente da República, por seu turno, o pacote, que contempla 46 produtos alimentares, "faz a diferença" entre os mais carenciados. "Por pequena que seja a diferença que introduz, essa pequena diferença em quem tem muito pouco, e há muitos portugueses que têm muito pouco, faz a diferença", disse.
Na mesma linha, Marcelo recordou que as medidas "dão jeito em termos eleitorais", altura em que "o português aguça o seu olhar a ver se pode ser um bocadinho melhor".
Estas novas medidas, que foram anunciadas durante o discurso do secretário-geral do Partido Socialista (PS) na Academia Socialista, que decorre em Évora, já foram amplamente criticadas tanto à Esquerda, como à Direita. Na verdade, se o Partido Social Democrata (PSD) acusou António Costa de ser "não um fazedor, mas um mau seguidor que copia mal", o Bloco de Esquerda denunciou que a devolução de propinas, em concreto, não resolve "o problema central do nosso país, que é a habitação".
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