"Naturalmente, o senhor representante da República perguntou-nos quem é que devia convidar para formar Governo", disse Roberto Almada, depois de ser ouvido pelo juiz conselheiro Ireneu Barreto, no Palácio de São Lourenço, no Funchal.
A coligação PSD/CDS-PP venceu no domingo as legislativas regionais, mas ficou a um deputado da maioria absoluta, tendo sido anunciado na terça-feira um acordo de incidência parlamentar com o PAN, que conseguiu um mandato.
O BE foi o primeiro partido a ser ouvido pelo representante da República, que hoje está a receber os partidos políticos que conseguiram representação parlamentar, antes de convidar a coligação de direita a formar o executivo regional.
Segundo Roberto Almada, BE transmitiu que, "naturalmente, o partido que venceu as eleições deve ser convidado a formar Governo".
Contudo, acrescentou, o partido também manifestou "preocupações relativamente à situação em que será formado esse Governo".
"Parece que vai haver um acordo de incidência parlamentar. Manifestámos a nossa preocupação relativamente à durabilidade desse acordo", salientou o deputado, que regressa ao parlamento madeirense.
Roberto Almada argumentou ainda: "Se funcionar e tivermos uma legislatura de quatro anos sem haver problemas, melhor para a Madeira e para os madeirenses, desde que o Governo Regional mude também as políticas, desde que vá ao encontro da resolução dos problemas dos madeirenses e dos porto-santenses".
"E só temos a dizer aos eleitores do Bloco de Esquerda e a outros eleitores que não votaram no Bloco de Esquerda que, se estiverem desiludidos, aqui têm uma esquerda que defende também os direitos dos animais, aqui têm uma esquerda que defende os direitos LGBTI, aqui têm uma esquerda que defende a natureza e que é eco socialista", declarou.
O deputado referiu ainda que o facto de o BE ter feito parte de uma solução parecida na República "não é contraditório".
"Houve acordos firmados com partidos e com propostas concretas e com um caderno reivindicativo muito extenso. Não quatro ou cinco ou dez propostas que nos parecem muito fáceis de comprar", realçou, numa referência às dez exigências feitas pelo PAN à coligação PSD/CDS-PP.
Roberto Almada destacou o facto de o partido ter recuperado a representação parlamentar, "após muito trabalho", depois de quatro anos de ausência do hemiciclo.
A coligação PSD/CDS-PP venceu no domingo as regionais com 43,13% dos votos (58.399 votos), conseguindo 23 dos 47 lugares no parlamento regional, falhando assim, por um deputado, a maioria absoluta.
Miguel Albuquerque, que no rescaldo eleitoral fechou a porta a qualquer acordo com o Chega, confirmou na terça-feira um acordo de incidência parlamentar de quatro anos com o PAN, viabilizando assim uma maioria absoluta no hemiciclo.
A deputada eleita do PAN, Mónica Freitas, assegurou que o partido "não irá assumir qualquer função governativa, nem irá assumir qualquer Secretaria".
Há quatro anos, o PSD elegeu 21 deputados, perdendo pela primeira vez a maioria absoluta que detinha desde 1976, e formou um governo de coligação com o CDS-PP (três deputados).
A segunda força política mais votada no domingo foi o PS, com 21,30% dos votos e 11 mandatos, quando há quatro anos tinha conseguido 36,59% dos votos e 19 mandatos.
O JPP passou de três para cinco mandatos, enquanto a CDU (PCP/PEV) conseguiu manter o deputado único que tinha.
No hemiciclo regional haverá duas estreias: o Chega, com quatro deputados, e a IL, com um deputado.
Por sua vez, BE e PAN regressam à Assembleia Legislativa Regional, com um deputado cada.
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