O líder do Partido Socialista (PS) na Madeira, Sérgio Gonçalves, acusou "preocupação com os acordos que estão a ser feitos" entre a coligação PSD/CDS-PP e o PAN, para garantir a continuidade dos 'laranjas' no poder.
Acordos que "parecem ser mais importantes para manter lugares e manter-se no poder do que para resolver os grandes problemas que a Madeira tem", acusando o socialista não ver "serem discutidas soluções para esses problemas em todo este processo".
"Toda a instabilidade em torno da escolha de lugares, de tachos, é uma preocupação e mais do mesmo", acusou ainda Sérgio Gonçalves, cujo futuro político se mantém incerto.
O líder socialista remeteu, no entanto, qualquer análise dos resultados nas eleições regionais da semana passada - em que o PS arrecadou apenas 21,3% dos votos, passando de 19 deputados para 11 - para amanhã, sexta-feira, dia em que está marcada uma reunião do secretariado regional do partido.
Aos jornalistas, Sérgio Gonçalves preferiu atacar o eventual acordo entre PSD/CDS-PP e PAN, afirmando que "a alternativa, com soluções, era o PS" e que "a dispersão de votos por partidos ditos mais pequenos levaria a soluções governativas semelhantes àquela que aconteceu em 2019 [coligação entre PSD e CDS-PP]", sendo que "toda esta instabilidade que pode ser criada não é favorável à região".
"Assistimos também com preocupação às declarações do Sr. Presidente do Governo [Regional] que, ainda ontem, admitiu que mentiu aos madeirenses. Disse que se demitia caso não tivesse maioria absoluta para colocar pressão sobre o eleitorado e que os políticos não são santos. Não posso concordar, de forma alguma, com essas afirmações", atacou ainda Sérgio Gonçalves. Em entrevista à RTP, Miguel Albuquerque, líder do PSD/Madeira e do Governo Regional, disse que “os políticos não são santos, nem se vai tirar a política da política”.
A grande preocupação dos socialistas, disse Sérgio Gonçalves, é que não ver discutidas "as grandes questões que preocupam os madeirenses - o custo de vida, a necessária redução de impostos, a construção de mais habitação, o acesso à saúde - nos acordos".
"Acordos seriam, sempre, negociados"
Sérgio Gonçalves admitiu, no entanto, que, caso fosse ele no lugar de Miguel Albuquerque - ou seja, o vencedor da noite eleitoral na Madeira - também procuraria fazer acordos.
"Os acordos seriam, sempre, negociados. Sempre disse que, se o resultado eleitoral permitisse chegarmos a soluções de entendimento que permitissem assumir a posição de Presidente do Governo Regional, faria os acordos que fossem necessários, caso tivessem viabilidade", garantiu o líder socialista na Madeira. Isso sim haveria "uma grande diferença": "Estariam sempre nesses acordos presentes as soluções para os problemas dos madeirenses, e é isso que não vemos hoje."
Sérgio Gonçalves falava aos jornalistas no Palácio de São Lourenço, no Funchal, depois de ter sido recebido pelo representante da República, Ireneu Barreto, que hoje conclui a audição com os partidos que conseguiram representação parlamentar nas eleições legislativas regionais de domingo.
A coligação PSD/CDS-PP (partidos que governam atualmente o arquipélago) venceu no domingo as legislativas regionais, mas ficou a um deputado da maioria absoluta, tendo sido anunciado na terça-feira um acordo de incidência parlamentar com o PAN, que conseguiu um mandato.
Nas eleições de domingo, a coligação PSD/CDS-PP elegeu 23 deputados, o PS 11, o JPP cinco e o Chega quatro, enquanto a CDU (PCP/PEV), o BE, o PAN e a IL elegeram um deputado cada.
Foi a deputada eleita do PAN, Mónica Freitas, que anunciou na terça-feira o acordo de incidência parlamentar com a coligação.
Depois de o presidente do CDS-PP, Nuno Melo, ter afirmado que o acordo "resulta de um entendimento do PSD com o PAN, no qual o CDS não participou", o líder regional do partido na Madeira, Rui Barreto, confirmou não ter participado na negociação, sublinhando, porém, que isso "não tem mal nenhum".
"Esse assunto não foi comigo. Foi um acordo feito entre o partido liderante da coligação Somos Madeira [o PSD] e está correto, porque deve ser o partido liderante da coligação Somos Madeira a encetar os contactos com os partidos que mostraram disponibilidade na noite eleitoral para fazer um acordo o quão mais robusto possível", disse.
[Notícia atualizada às 12h45]
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