"Cuidado, se António Costa, que é jurista como eu, foi capaz de perante a notícia daquele último parágrafo da Procuradoria apresentar a demissão, dizer que poderá ser provavelmente constituído arguido, que poderia ter um processo criminal contra ele... Tudo isto, no fundo, o que ele está a fazer é um teatro em três atos", afirmou.
Para o antigo dirigente do PSD, o primeiro ato foi o de falar num processo-crime contra ele "que não existe", na possibilidade de ser constituído arguido "que não está em cima da mesa".
"Nesta dramatização, cumpre-se o primeiro passo a que se segue os seus 'compagnons de route' virem todos exigir que a investigação relativamente a António Costa termine antes das eleições", disse.
Isto para que, concluiu, "o terceiro ato seja, antes das eleições, António Costa ser ilibado de qualquer suspeita e poder surgir nesse momento como o António Costa inocente".
"E nesse momento conseguir apagar que o processo que está em curso envolve o seu chefe de gabinete, o seu melhor amigo", frisou, acusando Costa de não ter hesitado "em pôr em causa o funcionamento das instituições fundamentais do nosso sistema político" para se defender.
O antigo dirigente pediu ainda ao PSD que se foque nas próximas legislativas e no PS como seu adversário, e que não se distraia do que ainda pode acontecer até 10 de março.
"Vamos ter nestes quatro meses o que não esperamos e porventura nunca esperávamos ver no combate do PS, nas investigações e nos processos que correm, na relação entre o Presidente da República e o primeiro-ministro", antecipou.
Para Morais Sarmento, tudo isto poderá distrair os sociais-democratas, a quem aconselhou a "manter cabeça fria e ter sempre presente que o foco são as eleições e o adversário o PS", "todo o PS".
"Um PS que, encontrando-se já numa situação muito difícil, vive agora uma uma disputa interna que obrigatoriamente vai ter consequências", disse.
Morais Sarmento diz não ver como Pedro Nuno Santos poderá conviver bem com a viabilização de um Governo não socialista por José Luís Carneiro, ou como este poderá "sorrir se o PS, com Pedro Nuno Santos, correr para os braços do BE e do PCP".
"É que uma coisa é uma geringonça por necessidade, outra bem diferente é uma geringonça por opção", disse, lembrando as posições de BE e PCP sobre a Nato ou o conflito entre Israel e o Hamas.
O primeiro-ministro apresentou a sua demissão em 07 de novembro, por causa de uma investigação judicial sobre a instalação de um centro de dados em Sines e negócios do lítio e do hidrogénio, que levou o Ministério Público a instaurar um inquérito autónomo no Supremo Tribunal de Justiça em que é visado.
Perante essa decisão, que aceitou, o Presidente da República anunciou que vai dissolver o parlamento e marcar eleições legislativas antecipadas para 10 de março.
Contudo, Marcelo Rebelo de Sousa decidiu adiar a demissão formal do Governo, que é feita por decreto, para permitir a aprovação final do Orçamento do Estado para 2023, marcada para 29 de novembro, e a sua entrada em vigor. Só nessa altura o executivo ficará limitado a atos de gestão.
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