Catarina Martins, antiga coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), respondeu, esta sexta-feira, ao candidato à liderança do Partidos Socialista (PS) José Luís Carneiro, que defendeu que os parceiros à esquerda decidiram "derrubar o Governo" em 2021, apesar dos esforços dos socialistas, apelando a que não se "tenham ilusões" sobre estes entendimentos após 2019.
"Diz José Luís Carneiro que é importante ter memória. Lembremos, então: Após as eleições de 2015, o Bloco assinou um acordo com o PS para a legislatura. Afastou-se a direita do poder, repuseram-se, salários, pensões e até feriados, como o de hoje. Houve tensões, mas é justamente lembrado como período de estabilidade e melhoria das condições de vida", começou por escrever Catarina Martins, numa publicação divulgada na rede social X (antigo Twitter).
Após as eleições de 2019, refere a antiga líder do BE, "o PS recusou acordo com o Bloco e decidiu governar sem apoio maioritário". "O Bloco ainda se absteve nos orçamentos de 2020 (OR e retificativo) para proteger o SNS. O Governo não cumpriu e a crise do SNS, já exangue pelo combate à pandemia, agudizou-se", apontou.
"O Bloco chumbou então os Orçamentos para 2021 e para 2022. Porque eram maus Orçamentos, que desprotegiam trabalhadores e serviços públicos (algo que hoje ninguém consegue desmentir)", atirou, acusando o PS de "criar uma crise política" para alcançar a desejada maioria absoluta.
"Quanto ao PS, tudo o que lhe interessou foi criar uma crise política e tentar a desejada maioria absoluta em eleições antecipadas. Poder-se-ia dizer que o PS foi oportunista, mas tenho para mim que Portugal precisa sobretudo de discutir o futuro e que tudo isto interessa pouco", defendeu.
Na ótima de Catarina Martins, tudo o que se seguiu à maioria absoluta do PS, em 2022, é da sua "responsabilidade", referindo que o partido só se pode "queixar de si mesmo".
"Uma coisa é certa: em 2022 o PS conseguiu a maioria absoluta que desejou. O que veio depois é da sua absoluta responsabilidade. Na degradação do governo, incapacidade de responder às crises, casos que degradam as instituições, o PS só pode queixar de si mesmo", rematou.
“Oportunismo político”?
— Catarina Martins (@catarina_mart) December 1, 2023
Diz José Luís Carneiro que é importante ter memória. Lembremos, então:
🧶 pic.twitter.com/lJx8TjkjgC
Recorde-se que, num discurso perante militantes do PS no concelho de Loures, esta quinta-feira, José Luís Carneiro recordou que, em 2015, o primeiro-ministro, António Costa, rompeu "com as amarras que impediam o diálogo" com os partidos à esquerda do PS, numa referência à constituição da 'geringonça'.
"Fizemo-lo por termos autonomia para o fazermos. (...) Mas convém que não nos iludamos: é que o alcance político desse suporte parlamentar entre 2015 e 2019 foi diferente do que se passou depois das eleições de 2019", observou, salientando que "é importante ter memória" e que, após as legislativas de 2019, Costa "fez tudo para encontrar um equilíbrio de soluções" com os parceiros à esquerda.
"Não valeu a pena todo esse esforço, porque os nossos parceiros com suporte político no parlamento já tinham determinado que queriam derrubar o Governo", apontou.
Leia Também: José Luís Carneiro promete dedução no IRS dos juros do empréstimo da casa