"Não escondo aqui [que] a minha estratégia possa passar por acordos [com] partidos que estejam dispostos de uma forma genuína e não se queiram vender como outros partidos já se venderam, como o PAN, como o próprio CDS", disse Paulo Cafôfo à agência Lusa numa antecipação do XXI Congresso Regional, que decorre no sábado e no domingo, no Funchal.
Para o dirigente, em causa estão acordos com "partidos que verdadeiramente são autonomistas" e não querem apenas juntar-se àqueles que costumam criticar.
O líder regional destacou ter um compromisso de liderança com o PS para quatro anos que passa pela realização de vários atos eleitorais e tem como meta as legislativas madeirenses de 2027. Essas regionais, sublinhou, "começam a ganhar-se agora".
Segundo o socialista, o PS/Madeira "será o grande impulsionador de uma solução governativa que está neste momento a construir de uma forma muito comprometida e responsável", porque os madeirenses "têm de experimentar algo diferente" (desde as primeiras eleições em democracia, o executivo do arquipélago teve sempre um presidente social-democrata).
Neste contexto, além da abertura à sociedade civil, "o PS tem de ter a perspetiva de agregar outras forças políticas que desejem a verdadeira mudança na região".
"No congresso vou anunciar a formação de um governo sombra, não só para fazermos marcação cerrada àquilo que são as políticas deste governo do PPD/Madeira, mas também apresentarmos soluções para os problemas que existem", afirmou.
A reunião magna dos socialistas madeirenses realiza-se depois de o novo líder regional ter sido eleito em 02 de dezembro de 2023, num processo interno em que foi o único candidato e reuniu 1.450 votos (98,65%) dos militantes, substituindo Sérgio Gonçalves no cargo.
Paulo Cafôfo - que foi presidente da Câmara do Funchal, quando conseguiu derrotar a maioria absoluta que o PSD sempre tinha detido no principal município da Madeira -- tinha já liderado a estrutura regional, ao vencer as eleições internas de 25 de julho de 2020.
Após as autárquicas de 2021, em que os sociais-democratas recuperaram a presidência do município do Funchal, renunciou aos cargos de presidente do PSD/Madeira e de deputado na assembleia do arquipélago, devido aos maus resultados. Foi substituído por Sérgio Gonçalves, que anunciou não ser de novo candidato à liderança depois de o partido ver o grupo parlamentar reduzido de 19 para 11 deputados, nas regionais de 2023.
Cafôfo também integrou o Governo da República liderado por António Costa, agora demissionário, desempenhando o cargo de secretário de Estado das Comunidades.
O agora líder socialista madeirense considera que o congresso acontece num "contexto de muita incerteza nacional e regional", devido às eleições nacionais antecipadas, e vai marcar o arranque da campanha e a mobilização para os próximos desafios eleitorais.
"Sabemos quais as exigências. A situação política nacional complexa não favorece o PS/Madeira, porque há uma interrupção da legislatura do Partido Socialista e isso é sempre mau", observou, acrescentando que o partido está "mobilizado e motivado" para ter um bom resultado em 10 de março.
Após o congresso -- no qual está prevista a presença do secretário-geral socialista, Pedro Nuno Santos, no encerramento -, será aprovada uma "forte" lista de candidatos à Assembleia da República.
O perfil passa por ter "experiência política, conhecimento dos meandros da política a nível nacional, dos dossiês e de pessoas que possam influenciar de forma positiva o que o PS pretende ver resolvido na região", independentemente da solução governativa e da geografia dos assentos na Assembleia da República.
O PS, referiu Cafôfo, "não está em condições de prescindir de préstimos de qualquer militante", mas "ninguém também pode ter a presunção de estar agarrado ao lugar".
Sobre os temas da Madeira que têm de ser resolvidos com a República, indicou a mobilidade aérea e marítima, a revisão do Estatuto Político-Administrativo da região e da Constituição, o Centro Internacional de Negócios e a Universidade da Madeira.
No congresso regional será abordada "uma agenda clara" e um programa de "reformas estruturante" para acabar com o atual ciclo no arquipélago. O plano inclui o aumento dos rendimentos dos madeirenses, que "não estão condenados a trabalhar e ser pobres", bem como soluções para o flagelo da habitação na região e o acesso à saúde.
"Aquilo que preconizamos é que a Madeira possa ser outro postal que não este que nos envergonha a todos, das desigualdades, da pobreza, das dificuldades no acesso à habitação e à saúde e dos fracos rendimentos que a generalidade dos madeirenses tem", salientou.
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