No comício da Incrível Almadense, a cabeça de lista do BE pelo distrito de Setúbal, a deputada Joana Mortágua, dedicou a reta final do seu discurso àquilo que considerou ser a "maior insegurança que se vive em Portugal" que "é a desigualdade de género", focando-se nas dificuldades de acesso à interrupção voluntária da gravidez no SNS.
"Tenho ouvido Pedro Nuno Santos a dizer que tem orgulho na governação dos últimos anos e é daqui, de Almada, que lhe quero dizer, em nome de todas as mulheres que lutaram pelo direito ao aborto legal e seguro, que está enganado", disse.
Recorrendo àquilo que a ex-líder do BE Catarina Martins e a deputada Isabel Pires disseram ao ministro da Saúde, Manuel Pizarro, no parlamento, Joana Mortágua lamentou que o Serviço Nacional de Saúde esteja a falhar "às mulheres deste país" e considerou que "essa irresponsabilidade tem de acabar".
"Nós, mulheres deste país, somos credoras do progresso que conquistámos em todas as lutas pela igualdade e contra a violência de género e não tenham dúvidas de que vamos cobrar aquilo que nos é devido. Nós não pusemos o barco ao mar para ficar pelo caminho, mas também sabemos que para mudar não é preciso fazer um pacto com o diabo", defendeu.
Foi então que o discurso da candidata bloquista se virou para o PSD ao apelar à necessidade de não esquecer aquilo que foi a posição deste partido.
"Quem impôs reversões à lei do aborto assim que pôde, quem utilizou a sua maioria absoluta para penalizar as mulheres que pretendiam aceder ao aborto, quem quis que fossem aconselhadas por profissionais objetores de consciência, quem obrigou as mulheres a estatutos de menoridade na sua decisão, quem, por fim, impôs disciplina de voto à sua bancada contra o direito das mulheres quando uma maioria de esquerda quis retomar o direito das mulheres ao aborto em pleno e essa pessoa tem um nome: Luís Montenegro", acusou.
De acordo com Joana Mortágua, "Luís Montenegro esteve contra o direito ao aborto sempre que pôde no parlamento".
É daqui que a bloquista partiu para um apelo ao voto numa altura em que "estão em causa os direitos das mulheres" e "contra todos os conservadorismos".
"A todas as mulheres deste país deixo uma garantia: no dia 10 de março toda a força do bloco será feminista, toda a força do bloco levará mais longe os direitos que conquistámos e deixo um apelo a que no próximo dia 8 de Março enchamos as ruas na manifestação do Dia das Mulheres", apelou, pedindo uma "manifestação histórica".
Seguiu-se no palco o fundador do BE Fernando Rosas - o também fundador Francisco Louçã estava na plateia, mas esta noite não teve intervenção - que fez uma intervenção focada naquilo que foram as consequências nos últimos 20 anos do voto útil em Portugal.
Dando os exemplos dos Governo de Durão Barroso, de José Sócrates e de Pedro Passos Coelho, o fundador bloquista alertou que no executivo PSD/CDS-PP do período da troika "o voto útil traduziu-se num rasto de destruição económica e social sem precedentes na democracia".
Apontando o "rancor da direita" com a geringonça, a fita do tempo de Fernando Rosas foi até às últimas eleições antecipadas de 2022 onde o voto útil resultou em "dois escassos, confusos e palpitantes anos de maioria absoluta".
"A história do voto útil é a história do arrependimento em que ele sempre tardiamente acaba. Acaba sempre no arrependimento, mas nessa altura já é tarde porque já se votou", alertou.
O fundador do BE deixou três razões para votar no partido: o passado de luta do BE, a juventude que "não se rende e não desiste" e a garantia que "aconteça o que acontecer daqui ninguém arreda pé".
Mais de 10,8 milhões de portugueses são chamados a votar em 10 de março para eleger 230 deputados à Assembleia da República.
A estas eleições concorrem 18 forças políticas, 15 partidos e três coligações.
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