A coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, rejeitou, esta quarta-feira, que haja apoiantes do partido ligados ao movimento climático que hoje levou a cabo um ataque contra o líder do PSD, Luís Montenegro.
"Não há pessoas do Bloco de Esquerda neste tipo de movimento", disse a bloquista, em declarações aos jornalistas durante uma arruada em Moscavide, Lisboa. "Tenho ouvido algumas insinuações, não percebo a que é que se referem. Se alguém tem provas de alguma coisa acho que deve avançá-las. O debate democrático faz-se assim mesmo, com clareza", acrescentou.
Posteriormente, a coordenadora do BE repudiou o ataque contra o líder social-democrata, afirmando que tipo de ato "é injustificável, é inaceitável, é intolerável e deve ser condenado".
"O que aconteceu hoje a Luís Montenegro não deveria nunca ter acontecido numa campanha eleitoral, deve ser condenado, deve ser repudiado e espero que não volte a acontecer", disse.
"O Bloco desde o primeiro momento repudiou e repudia este tipo de ações. O direito democrático não pode ser condicionado. Nada justifica o condicionamento do debate democrático e a livre ação dos candidatos e candidatas às eleições legislativas em Portugal", apontou.
Sobre a segurança pessoal disponibilizada pelo primeiro-ministro, António Costa, aos líderes partidários após este ataque, Mariana Mortágua explicou que a avaliação de segurança que o partido faz neste momento "não justifica" esta medida. "Não estamos a falar de ataques à segurança pessoal dos candidatos, são ataques à democracia e à forma como a democracia funciona. A avaliação que fazemos neste momento de segurança não justifica esse tipo de medidas, mas em momento nenhum tira gravidade ao que aconteceu e o que aconteceu foi um condicionamento do livre decorrer das eleições", explicou.
Sobre se esta situação é desconfortável para o partido já que apoia muitos movimentos climáticos, a líder do BE deixou claro o apoio aos "jovens que estão contra as alterações climáticas, que querem construir uma grande maioria social pelo clima".
"Este tipo de ações são contrárias a esse objetivo, são contrárias aos objetivos do movimento climático e, na verdade, vão contra essas iniciativas de jovens, vão contra a vontade de construir uma maioria que apoie as medidas para a transição climática e por isso devem ser repudiadas, devem ser condenadas", defendeu.
Na opinião de Mortágua, atos como este "em vez de ajudarem qualquer causa" estão "a fazer exatamente o contrário", com a agravante de condicionarem o debate democrático.
"Não é a primeira vez que acontece, o Bloco de Esquerda já teve uma parte da sua propaganda vandalizada. Não aceitamos que o debate democrático seja condicionado desta forma", repudiou.
Recorde-se que o presidente do PSD foi atacado com tinta, durante uma visita à Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), no âmbito de uma ação de campanha eleitoral da AD.
Os ativistas do movimento Fim ao Fóssil reivindicaram entretanto a ação em comunicado, argumentando que "nenhum partido tem um plano adequado à realidade climática". Inicialmente, o movimento Climáximo chegou a ser associado a esta ação.
Aborto? "Essa Direita foi derrotada, essa Direita perdeu"
Mariana Mortágua acabou ainda por comentar as declarações de Paulo Núncio, vice-presidente do CDS-PP, que defendeu que deve ser feito um novo referendo ao aborto.
"Essa Direita foi derrotada, essa direita perdeu. Perderam. A sociedade ganhou, ganhou a civilização, ganharam as mulheres, ganharam os direito humanos. Essa Direita perdeu, está derrotada e não vai conseguir impor nenhuma outra lei que não seja um aborto seguro, livre. Mais nenhuma mulher em Portugal vai ser julgada ou condenada por uma interrupção da gravidez e essa é uma garantia que dou eu e dão todas as mulheres em Portugal que lutaram por esta lei e que a vão defender com unhas e dentes", afirmou.
A bloquista assinalou ainda que nenhum partido da direita parlamentar "se atreveu" a pôr em causa a lei do aborto que gerou um "consenso inviolável", mas cujo acesso considerou ser preciso garantir a todas as mulheres.
"Vamo-nos debater para haver condições para que as mulheres possam exercer esse seu direito", defendeu.
"Há muito para fazer para consagrar os direitos das mulheres, mas também valorizo que nenhum partido da direita parlamentar se atreva a pôr em causa, e esta campanha serviu para essa clarificação, uma lei histórica e tão importante como a lei da interrupção voluntária da gravidez", enfatizou.
[Notícia atualizada às 19h18]
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