Portugueses não responderam a apelo ao voto útil. Chega é grande vencedor
Os portugueses não responderam aos apelos ao voto útil nas eleições legislativas de domingo, resultando no parlamento "mais fragmentado de sempre" e com o Chega a ser o "grande vencedor", segundo politólogos consultados pela Lusa.
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Política Eleições
"É um resultado que mostra que os portugueses não responderam ao apelo ao voto útil e decidiram votar sinceramente, porque temos o parlamento mais fragmentado de sempre, temos de recuar até 1985 para termos uma eleição em que PS e PSD juntos tinham tido menos que 64%", disse à Lusa a cientista política Marina Costa Lobo.
Numa altura em que os resultados ainda não estão fechados, faltando apurar os resultados dos círculos da emigração, a investigadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL) salientou que ainda não se sabe se, por exemplo, a Aliança Democrática (PSD, CDS-PP e PPM) ficar em primeiro lugar, se terá mais votos e mais mandatos do que uma "geringonça de esquerda".
"Abre-se aqui uma enorme incerteza, um período de incerteza não só em relação à instabilidade, mas em relação à formação de Governo", apontou.
Marina Costa Lobo salientou que a eleição de domingo foi muito participada e, ao contrário do que aconteceu em 2022, em que o PS obteve maioria absoluta, devido ao "voto útil para impedir uma maioria de direita", desta vez decidiram "devolver aos políticos e aos parlamentares a capacidade de formar alianças", o que "vai depender não só de quem formar Governo, mas também da ação do Presidente da República e da ação dos partidos".
A politóloga realçou que mais de um milhão de portugueses votaram no Chega, que se tornou numa "força consolidada que vai condicionar os trabalhos da Assembleia da República", restando saber se o PS e o PSD se vão apoiar mutuamente fazendo frente" ao partido de André Ventura, isolando-o, "ou se se empreende um caminho de reforço da bipolarização esquerda/direita, no sentido de deixar o PSD entregue ao Chega e de não fazer pontes entre a esquerda e a direita".
Quanto ao papel de Marcelo Rebelo de Sousa, Marina Costa Lobo considerou que se o PS ganhar em termos de mandatos, será "uma desfeita bastante grande para o Presidente da República" e, relativamente ao Chega, o Chefe de Estado "fará os possíveis para criar um entendimento de bloco central" que exclua aquele partido.
Já António Costa Pinto, investigador do ICS-UL, considerou que "o Chega é o grande vencedor da noite", que conseguiu não apenas crescer, mas estruturar-se em termos nacionais, pelo caráter homogéneo de distribuição nacional dos mandatos obtidos "e por ter condicionado uma vitória da AD".
Quanto a cenários de formação de Governos, o investigador considerou que o mais provável é a AD formar um Governo de coligação com a Iniciativa Liberal, partindo do princípio que a coligação PSD/CDS-PP/PPM tem mais deputados do que o PS.
"Portugal está habituado a ter governos minoritários, aqui o efeito novidade é o Chega, que é, de facto, um partido antissistema que cresceu muito", realçou António Costa Pinto, prevendo não ser provável uma coligação negativa da esquerda a curto prazo, caso a AD tenha mais deputados e, em conjunto com a IL, mais assentos parlamentares do que a esquerda.
A Aliança Democrática é a força política mais votada com 28,67% dos votos e 74 mandatos nas eleições legislativas de domingo, quando estavam apurados os resultados provisórios em 3.091 das 3.092 freguesias.
O PS é o segundo partido mais votado com 28,67% às 00:55, segundo dados da Secretaria-Geral do Ministério de Administração Interna - Administração Eleitoral.
Segundo a Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna (SGMAI), estavam inscritos para votar 10.819.122 eleitores.
Concorreram a estas legislativas antecipadas 18 forças políticas, menos três do que nas eleições de 2019 e 2022.
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