A Aliança Democrática (AD) venceu a corrida eleitoral de domingo, com 28,63% de votos e 79 deputados, abrindo assim caminho a Luís Montenegro para ser indigitado como próximo primeiro-ministro de Portugal. A destacar o aumento significativo de número de votos do Chega e do Livre, assim como a mais baixa abstenção registada desde há 25 anos.
Já com todas as freguesias fechadas, o Partido Socialista (PS) ultrapassa por margem muito mínima a AD em termos percentuais - com 28,66% e 76 deputados - mas a coligação à Direita segue na frente, uma vez que se juntam os três deputados do PSD eleitos pelo círculo da Madeira (0,86% dos votos). Saliente-se que faltam ainda aferir os votos dos emigrantes, correspondentes a quatro mandatos.
O Chega (Ch) ultrapassou as previsões mais otimistas, conquistando mais de um milhão de votos e 18,06%, quadruplicando o seu grupo parlamentar, que passa de 12 para 48 dos 230 deputados da Assembleia da República.
A Iniciativa Liberal (IL) reelegeu oito deputados e conseguiu 5,08% da votação (312.033 votos), mantendo-se assim como a quarta força política em Portugal.
O Bloco de Esquerda (BE) conquistou 4,46%, com cerca de 274 mil votos, subindo em cerca de 30 mil votos face às últimas legislativas e mantendo os mesmos cinco mandatos, fixando-se como quinta força política.
O Livre (L) foi uma das grandes surpresas da noite com um dos melhores resultados desta eleição. Conquistando pela primeira vez um inédito grupo parlamentar de quatro mandatos, o Livre obteve 3,26%, o equivalente a 199.890 votos.
A CDU obteve 3,30%, com 202.565 votos, vendo assim consumada a redução da sua representação parlamentar - agora com quatro deputados - e com uma percentagem abaixo dos resultados de 2022.
Por fim, o PAN - Pessoas, Animais e Natureza conquistou 1,93% (118.574 votos), mantendo a sua representação parlamentar com apenas uma deputada e falhando o objetivo a que se tinha proposto de voltar a formar grupo parlamentar.
Por agora, faltam apenas contabilizar os círculos eleitorais da Europa e de fora da Europa, ficando por atribuir ainda quatro mandatos - resultados esses que serão conhecidos a 20 de março.
Abstenção? Taxa de "33,77%", a mais baixa desde há 25 anos
Ao todo, 66,23% dos eleitores foram às urnas. A taxa de abstenção neste sufrágio situou-se nos 33,77% e foi a mais baixa desde 1999, quando se fixou nos 38,91%.
Nas legislativas anteriores, em 30 de janeiro de 2022, a taxa de abstenção situou-se nos 48,54%, verificando-se já uma participação eleitoral superior à registada nas legislativas de 2019, ano em que a abstenção atingiu o recorde de 51,43%.
As reações. AD vence, sem "impasse constitucional" do PS. Mas com forte "oposição" à Esquerda
Luís Montenegro (AD) foi o candidato mais votado e compareceu, por volta das 1h00 da madrugada desta segunda-feira, no Epic Sana, em Lisboa, local onde a AD tinha a sua sede de campanha, que tinha sido, horas antes, alvo dos ativistas climáticos, que atiraram tinta vermelha contra os vidros e para o interior.
Ladeado por Gonçalo da Câmara Pereira e Nuno Melo, o presidente do PSD congratulou-se por ter "a candidatura que venceu estas eleições", o que implicaria "ter mais um voto que qualquer uma candidatura".
"Pois bem, parece incontornável que a AD venceu as eleições e que o Partido Socialista perdeu as eleições", afirmou Montenegro, acrescentando ter "a expectativa fundada de que Sua Excelência, o Presidente da República, depois de ouvir todas as demais forças políticas, me possa indigitar para formar governo".
Além disso, deixou clara a sua posição sobre uma eventual coligação com o Chega, dizendo que vai cumprir "a palavra" que deu durante a campanha eleitoral. "Nunca faria a mim próprio, ao meu partido e à democracia portuguesa tamanha maldade que seria incumprir compromissos que assumi de forma tão clara", assegurou.
Pedro Nuno Santos (PS) assumiu a derrota, pura e simplesmente, descartando de forma perentória uma nova 'gerigonça' à Esquerda.
"Sempre" disse que "não criaria" um "impasse constitucional" e, por isso, não irá obstaculizar a formação de um governo, embora tenha deixado evidente que não irá aprovar "moções de rejeição", mas também não irá aprovar "moções de confiança".
"O PS não ganhou as eleições. O PS vai liderar a oposição. O PS nunca deixará a liderança da oposição para o Chega ou para André Ventura", atirou, salientando que "a Direita ou a AD que não conte com o PS para governar. Não somos nós que vamos suportar um Governo da AD".
"E não vai haver divisão no PS", atirou Pedro Nuno, fazendo ainda sobressair: "Trabalharemos ao longo dos próximos meses, no futuro, para conseguir convencer e voltar a ter connosco todos os que estão descontentes com o sistema político e com o PS. O nosso caminho começa agora, hoje", acentuou.
André Ventura (Ch) sublinhou os resultados esmagadores obtidos nas eleições, considerando que "esta vitória tem de ser ouvida em muitos locais do país", enfatizando especificamente o Palácio de Belém, onde, considerou, "um Presidente da República procurou à última hora condicionar o voto dos portugueses".
"Há um dado desta noite que já temos a certeza e que podemos anunciar aqui: esta é a noite em que acabou o bipartidarismo em Portugal", garantiu, insistindo num possível acordo de governo com o PSD.
Ventura defendeu ainda que o Chega foi "o partido mais perseguido em toda a história da democracia portuguesa", lançando farpas a comentadores e jornalistas e falando em "ataques jornalísticos sem precedentes" a um partido político.
Rui Rocha (IL) afirmou que o cenário político que saiu das eleições legislativas é complicado e que "os próximos dias" serão determinantes para a sua clarificação, mostrando-se disponível para "assumir responsabilidades e contribuir para as soluções".
"Seremos responsáveis nos cenários que se venham a colocar, não será pela Iniciativa Liberal que não haverá uma solução estável de governação. Portanto, cabe aos outros assumirem", declarou o líder liberal.
Por sua vez, Mariana Mortágua (BE) assegurou que o partido será parte de uma "solução que afaste a direita do Governo", considerando que a "inegável viragem à direita" é resultado da "política desastrosa" da maioria absoluta do PS.
"Somos a Esquerda de confiança e aqui estaremos a cada dia, aconteça o que acontecer, venha o que vier para erguer neste país uma alternativa para defender o nosso país", prometeu.
Paulo Raimundo (PCP) assumiu que o resultado da CDU nas eleições legislativas constituiu "um desenvolvimento negativo".
No entanto, o líder comunista garante que "não deixa de constituir uma importante expressão de resistência, com tanto mais valor e significado quando a sua construção teve de enfrentar o prolongado enquadramento caracterizado pela hostilidade e menorização".
Rui Tavares garantiu, no seu discurso, que o Livre "sabe crescer bem e com responsabilidade" e definiu como principal alvo o Chega, afirmando que quer "rebentar o balão" da extrema-direita. Vincou ainda que o partido está disponível para dialogar.
"Mais do que nunca é preciso espírito de convergência, solidariedade, e união contra o autoritarismo. Estamos juntos, da parte do Livre só podem contar com convergência e cooperação perante os desafios que nos apresentam", garantiu Rui Tavares, vangloriando que "há espaço para uma esquerda verde europeia em Portugal".
Inês Sousa Real foi eleita para mais um mandato na Assembleia da República, enfatizando um "contexto político bastante adverso" e responsabilizando Marcelo Rebelo de Sousa por ter contribuído para a instabilidade política no país
"Não posso deixar de lamentar que o Presidente da República tenha contribuído, de alguma forma, para toda a instabilidade política que temos vivido, para que a descrença das pessoas se tenha transformado num voto de protesto ao invés de um voto de confiança nas forças políticas do espetro democrático. Marcelo Rebelo de Sousa tem repetidamente levado o país para ciclos eleitorais. Já é o segundo mandato que temos interrompido, mesmo perante o perigo de estendermos a passadeira à extrema-direita no nosso país", observou Inês Sousa Real.
Leia Também: AO MINUTO: AD vence por dois deputados. Coligação com Chega? "Não é não"