O antigo ministro das Infraestruturas, João Galamba, elogiou a “boa escolha” do XXIV Governo Constitucional para a pasta do Ambiente e Energia, ainda que tenha notado que a nova governante, Maria da Graça Carvalho, terá de atualizar o discurso sobre o hidrogénio, uma vez que “ficou parado em 2019/20”.
“Boa escolha para a Energia. Só um reparo: talvez atualizar o discurso sobre H2, porque ficou parado em 2019/20. As apostas ligadas a indústria que a nova ministra defende já estão todas em curso há anos e o projeto que critica foi abandonado, também há anos”, escreveu o antigo governante, na rede social X (Twitter).
É que, de acordo com Galamba, tudo aquilo que a ministra ontem anunciada defende está “em curso”, nomeadamente “projetos descentralizados e ligados a indústria e a produtos verdes de elevado valor acrescentado – amónia, metanol, aço verde, jet fuel”.
“Sobre os projetos solares de grande dimensão, espero que a nova ministra não ceda ao populismo dos micro projetos e reconheça que não há descarbonizacão sem aceleração de todos os projetos - grandes, médios e pequenos - e combata o populismo em torno dos projetos solares. E faça uso do regulamento europeu que considera os projetos renováveis de ‘overriding public interest’ para garantir que a maior oportunidade industrial que este país já viu (as renováveis) avança mesmo”, complementou.
Boa escolha para a Energia. Só um reparo: talvez atualizar o discurso sobre h2 da @mgracacarvalho, porque ficou parado em 2019/20. As apostas ligadas a indústria que a nova ministra defende já estão todas em curso há anos e o projeto que critica foi abandonado, também há anos.
— Joao Galamba (@Joaogalamba) March 29, 2024
Na ótica do ex-ministro socialista, o “gasoduto de H2 deve ser abandonado e todo o H2 nacional usado para a indústria que temos e, sobretudo, para a que estamos a atrair, seja para descarbonizar consumos energéticos, seja para produção de novos produtos verdes (aço, metanol, amónia)”.
“Sobre os 10gw de eólico, também sou contra. Como horizonte futuro, acho bem, como projeto presente não faz sentido. O que faz sentido é aproveitar cabo existente em Viana e lançar leilão o mais pequeno possível (500mw a 1gw) para viabilizar indústria nos portos nacionais”, complementou também.
Mas Galamba não se ficou por aqui, tendo ainda adiantado que “a grande aposta no eólico offshore é industrial: investir nos portos e usar os portos como 1) base industrial 2) transitoriamente exportar para quem tem de instalar já hoje eólico offshore e consolidar base para fornecer projetos futuros em Portugal”.
“O imediato, a prioridade não é offshore, é mesmo o onshore, em concreto, viabilizar o repowering dos parques existentes. Isso, sim, prioridade absoluta imediata para o país”, concretizou.
O primeiro-ministro indigitado, Luís Montenegro, e os ministros do XXIV Governo Constitucional tomam posse na terça-feira, e os secretários de Estado na sexta-feira. O debate do programa de Governo está marcado para 11 e 12 de abril.
Recorde-se que João Galamba, que foi constituído arguido no âmbito da Operação Influencer, pediu a demissão do cargo de ministro das Infraestruturas em novembro, o que justificou com a necessidade de assegurar tranquilidade e discrição para a sua família.
João Galamba já tinha apresentado a sua demissão em maio do ano passado, após incidentes no Ministério das Infraestruturas. Na altura, contudo, o primeiro-ministro, António Costa, não aceitou esse pedido.
A investigação aos negócios do lítio e hidrogénio, que deu origem à demissão do primeiro-ministro, tem nove arguidos, cinco dos quais estão detidos: Vítor Escária, Diogo Lacerda Machado, Nuno Mascarenhas, presidente da Câmara de Sines, Afonso Salema e Rui Neves, administradores da sociedade Start Campus.
Entre os arguidos estão ainda João Tiago Silveira, advogado e antigo porta-voz do PS, e a empresa START - Sines Transatlantic Renewable & Technology Campus SA.
No âmbito desta investigação, António Costa é alvo de um inquérito autónomo do MP no Supremo Tribunal de Justiça, após suspeitos do processo terem invocado o seu nome como ter tido intervenção para desbloquear procedimentos administrativos e legislativos relacionados com os projetos.
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