"Brilhante" ou "assustador"? A apresentação de Passos do livro polémico
O ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho apresentou, na segunda-feira, o livro 'Identidade e Família' que pretende alertar para a "destruição da família" tradicional e a "ideologia de género". Aproveitou para elogiar o Governo e garantir que não há que ter medo de os espaços políticos "se diluírem ou confundirem entre si".
© Álvaro Isidoro / Global Imagens
Política Passos Coelho
O livro 'Identidade e Família' reúne um conjunto de textos escritos de figuras de direita, que pretendem alertar para a "destruição da família" tradicional e sobre a "ideologia de género", posicionando-se contra o aborto, a eutanásia e, até, a "legislação" que considera facilitar o divórcio. Foi apresentado pelo ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, na segunda-feira e, no evento, que decorreu na Livraria Buchholz, Passos rejeitou a ideia de estar a marginalizar famílias fora do padrão ao defender um conceito de família tradicional.
O antigo liderado PSD foi questionado sobre as críticas por se ter associado à visão de família de alguns dos autores do livro, lamentando que no espaço público existam "cada vez mais rótulos e caricaturas" apenas com a intenção de "agredir e desqualificar".
Sobre a temática do livro, o antigo presidente do PSD defendeu como consensual que "a família representa o primeiro espaço de socialização" e que, apesar de não ser perfeita e haver muitas disfuncionais, deve ser nela que começa a transmissão de valores.
Voltou também a pronunciar-se contra a despenalização da eutanásia, questionando "por que razão as políticas públicas pretendem ajudar as pessoas a morrer em vez de lhes dar condições para viver".
O antigo líder do PSD quis ainda voltar ao tema da segurança e imigração, que causou polémica quando marcou presença na campanha eleitoral da AD. "Eu sei que há muitas pessoas sensíveis que acham um ex-primeiro-ministro não pode misturar na mesma frase imigração e segurança, apesar de uma parte significativa das políticas públicas que tratam da imigração estejam no sistema de segurança interna", disse.
Na apresentação da obra, Passos Coelho aproveitou para elogiar o Governo liderado por Luís Montenegro por ter aprovado como primeira medida a alteração do logótipo da comunicação do executivo, exortando a que "não se fique por aqui".
Sem explicitar os destinatários, mas numa aparente referência a PSD e Chega, o antigo primeiro-ministro disse que "quando há identidades firmadas" não há que ter medo de os espaços políticos "se diluírem ou confundirem entre si".
Presente no evento esteve o líder do Chega, André Ventura, que no final fez questão de cumprimentar Passos Coelho e de o elogiar. "Foi brilhante, como sempre", garantiu. Aos jornalistas, Ventura considerou que a intervenção de Passos Coelho tocou mais "em bandeiras do Chega, como a ideologia de género, a família ou a imigração", considerando, por isso, que "há um caminho de convergência".
O líder socialista, Pedro Nuno Santos, considerou, por seu lado, "assustador" que o antigo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho "tenha alinhado no discurso da extrema-direita", pedindo aos jovens que se juntem ao combate a este "regresso ao passado". Apontando ainda que o "Chega não hesitou em elogiar" a intervenção desta tarde de Passos Coelho, Pedro Nuno disse não acreditar que os jovens portugueses, incluindo os que votaram no Chega, aceitem que se recue na forma como se vê o relacionamento entre as pessoas.
Já a antiga dirigente do CDS Cecília Meireles comentou, na segunda-feira, as declarações do ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, que pressionou Luís Montenegro a 'dar a mão' ao Chega. Confrontada com o peso político de Passos Coelho como antigo chefe de governo, e com a possibilidade de esta ser uma tentativa de condicionamento, a ex-deputada considerou que "era o que faltava que Pedro Passos Coelho não pudesse vir dar a sua opinião".
Através da rede social X (antigo Twitter), a deputada socialista Isabel Moreira abordou a apresentação do livro, referindo: "Antigamente, quando as esposas tinham os direitos na posse dos esposos e não tinham direitos sexuais e reprodutivos não havia ideologia de género alguma. Os homossexuais não serem gente e explicar - se isso desde criança também não era ideologia".
Antigamente, quando as esposas tinham os direitos na posse dos esposos e não tinham direitos sexuais e reprodutivos não havia ideologia de género alguma. Os homossexuais não serem gente e explicar - se isso desde criança também não era ideologia.
— Isabel Moreira (@IsabelLMMoreira) April 8, 2024
Pedro Costa, deputado municipal socialista em Lisboa e filho do agora ex-primeiro-ministro, António Costa, salientou que a apresentação de um livro com uma mensagem onde os autores atacam a igualdade de género, o feminismo entre outros direitos, "chama-se normalização e não é um acaso, é uma opção tática de Passos Coelho para o futuro".
Isto chama-se normalização e não é um acaso, é uma opção tática de Passos Coelho para o futuro. https://t.co/WjET4tURBp
— Pedro Costa (@pedrorcosta) April 8, 2024
Recorde-se que entre os autores do livro estão figuras como César das Neves, Jaime Nogueira Pinto, Ribeiro e Castro ou Manuel Monteiro. O livro já está à venda desde o dia 12 de março.
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