A comentadora política e antiga deputada do CDS-PP Cecília Meireles comentou, esta segunda-feira, a polémica em torno da proposta de corte de impostos feita pelo Governo da Aliança Democrática (PSD/CDS-PP).
"Não mentiu, mas não contou a história toda e devia ter contado. Devia ter dito 'Já houve uma descida de IRS este ano, vamos fazer uma nova descida'". Assim respondeu, em declarações na SIC Notícias, a centrista, considerando que "quando se fala no IRS", fala-se também "da medida relacionada com o IRS Jovem e com os prémios de desempenho".
Para Cecília Meireles, "é vital que este Governo seja o adulto na sala e seja rigoroso e criterioso na maneira de comunicar e diga as coisas de uma forma absolutamente cristalina".
"Espero que isto tenha sido uma lição aprendida. Não podemos ter consecutivamente momentos destes", reiterou. Defendeu, porém, que "muitas vezes", a comunicação política é feita "numa base muito propagandística".
"É normal e é natural que assim seja. Mas este Governo, que é de maioria relativa, vai ter uma oposição feroz, e a tendência para entrarmos consecutivamente em leilões de medidas, em que de cada vez que propõe uma medida, haver sempre uns à Esquerda, outros à Direita, a proporem mais, mais, mais, é muito grande", considerou.
Cecília Meireles aproveitou o espaço de comentário para defender, por outro lado, que "esta medida vai ter um impacto concreto na vida das pessoas e é o início de uma descida de IRS para ser ao longo da legislatura".
"Não tenho dúvidas que a frase verdadeira, mas não conta a história toda e aqui era importante que se tivesse contado a história toda, é uma evidência", continuou, admitindo parecer-lhe haver "um certo exagero imaginar que havia aqui uma tentativa de enganar alguém em massa".
"A ideia de que houvesse uma tentação de enganar as pessoas seria difícil, porque a proposta de lei vai ser aprovada esta semana, vai dar entrada no Parlamento e, depois, sendo aprovada, a medida é sentida no bolso das pessoas. Sabem muito bem ver, quando chegam ao fim do mês, aquilo que recebem e aquilo que não recebem", disse também a centrista.
O ministro das Finanças, Miranda Sarmento, defendeu, na sexta-feira, que a redução de IRS prometida pelo Governo é "mais ambiciosa" do que a medida que vigora desde o início de 2024, mas clarificou que rondará os 200 milhões de euros.
Em entrevista à RTP, Miranda Sarmento clarificou assim que os 1.500 milhões de euros de alívio no IRS referidos pelo primeiro-ministro esta quinta-feira, no início do debate do programa do Governo, não vão somar-se aos cerca de 1.300 milhões de euros de redução do IRS inscritos no Orçamento do Estado para 2024 (OE2024) e já em vigor.
Confrontado com o facto de o "mérito da redução do IRS ser em grande parte devido à medida já em vigor (e tomada pelo anterior governo) e de a nova redução que agora vai ser aprovada corresponder a cerca de 200 milhões de euros, Miranda Sarmento confirmou que o valor adicional do alívio fiscal será dessa ordem de grandeza, mas reivindicou para o seu executivo o "mérito" da medida.
"Não. O mérito é deste Governo que vai baixar ainda mais [o imposto] e vai baixar para todos os escalões de rendimento, com exceção do último, e portanto abrange muito mais contribuintes", afirmou o ministro.
Sobre o valor exato de redução adicional que está em causa - face às medidas já inseridas no OE2024 de atualização dos escalões, redução de taxas e subida do mínimo de existência - Miranda Sarmento referiu que a medida ainda está a ser calibrada e que "será mais do que 200 milhões de euros", sem precisar.
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