Estas posições foram assumidas pelos antigos deputados da Constituinte, que entre junho de 1975 e abril de 1976, elaboraram a primeira Constituição do regime democrático, instaurado após o 25 de Abril de 1974, que hoje assinala o seu cinquentenário.
Em entrevista à agência Lusa, o antigo secretário-geral do PCP Jerónimo de Sousa manifestou preocupação com a atual precariedade laboral que os jovens enfrentam e rejeitou a tese de que as novas gerações não têm consciência política ou são indiferentes à realidade social que os rodeia.
O histórico comunista lembrou os seus tempos como jovem deputado da Constituinte, altura em que tinha 28 anos, e apontou que as novas gerações hoje em dia não vão debater um determinado artigo constitucional, mas participam em processos reivindicativos.
"Não é fácil, porque mesmo os mais velhos, por exemplo, muitas vezes argumentam que a juventude não quer saber, não querem saber de nada. Não é verdade. A juventude quer saber e quando percebe, participa. É uma das lições e ensinamentos que eu tive ao longo desta vida", frisou.
Para Jerónimo de Sousa, "Abril valeu a pena" e "ainda tem futuro", rejeitando que se esteja perante "um fim de ciclo".
Também à Lusa, o antigo dirigente do CDS-PP e atual presidente da Câmara Municipal de Sintra, eleito pelo PS, Basílio Horta, disse entender "perfeitamente que os jovens estejam profundamente desagradados, desiludidos" e que alguns até queiram sair do país.
Para o antigo deputado centrista, "os jovens compreendem, percebem, que o futuro deles está na política e nas decisões políticas que se tomam" mas reconheceu que há dificuldade no recrutamento de novas gerações para a participação política, defendendo "uma reflexão muito forte e profunda sobre o prestígio das instituições".
Segundo este antigo parlamentar, um político não pode estar constantemente a ser "julgado e condenado em praça pública" e defendeu que esta classe deveria ser mais bem remunerada.
A primeira sessão solene no parlamento que assinalou a revolução dos cravos decorreu em 1977, após três anos de alguma instabilidade política. O Presidente da República da altura, general Ramalho Eanes, afirmou perante os deputados que a cerimónia marcava "o ponto mais alto nos atos com que o povo português" tinha vindo a celebrar o 25 de Abril até então.
Jerónimo de Sousa, à data um jovem metalúrgico e sindicalista, disse ter sentido uma "imensa alegria" por se estar a celebrar "o processo mais avançado, mais moderno e avançado da nossa história contemporânea".
Basílio Horta recordou o processo de elaboração da Constituição de 1976 como "um momento ímpar" que juntou "o melhor da sociedade política e portuguesa", elencando nomes como os de Marcelo Rebelo de Sousa, Mário Soares ou Freitas do Amaral.
"Para mim, foi dos momentos mais significativos da minha vida política", recordou.
O antigo deputado centrista, questionado sobre recém-eleita composição parlamentar, na qual se destacou o crescimento do Chega, com 50 deputados no hemiciclo, salientou que "a democracia tem a enorme generosidade de acolher no seu seio mesmo quem às vezes não a respeita".
Contudo, Basílio Horta salientou que "a democracia é isso mesmo" e que se deve respeitar a escolha dos eleitores, mesmo que não se concorde com algumas posições, por vezes contrárias aos "valores democráticos de Abril".
Interrogado sobre a criação, por parte do Governo minoritário PSD/CDS-PP, de uma comissão para as comemorações dos 50 anos da operação militar do dia 25 de Novembro de 1975, o antigo dirigente do CDS-PP disse que não vê mal em assinalar a data mas sem se esquecer o 25 de Abril, que foi "a porta de entrada para tudo".
Jerónimo de Sousa salientou que a diferença entre as duas datas é que o 25 de Abril "é do povo".
O antigo deputado comunista deixou ainda um aviso.
"Os que pensam que Abril acabou, estão enganados, porque é um valor que não pode ser arrancado. Não é conquista, é apenas valor de referência. Será. Mas Abril continuará cada vez mais latente com o sentido da necessidade desse Abril", sublinhou Jerónimo de Sousa, crente na vontade das futuras gerações para mais 50 anos de democracia.
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