"Vejo o Bloco a recuperar. Espero que na Europa o caminho seja o mesmo"
A bloquista Catarina Martins considerou que era importante manter os dois eurodeputados, mas que o partido queria "o melhor resultado" que possa ter. A ex-coordenadora do Bloco de Esquerda falou ainda sobre o Governo e a "coligação" entre o Partido Socialista e o Chega.
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Política Bloco de Esquerda
A cabeça de lista pelo Bloco de Esquerda (BE) às eleições europeias, Catarina Martins, falou, esta quinta-feira, sobre o ato eleitoral dos 27, que se disputa daqui a um mês.
Questionada sobre a possibilidade de os bloquistas perderem um eurodeputado face ao aumento da Extrema-Direita no território, a bloquista mostrou-se "confiante". "Claro que o resultado da Extrema-Direita em Portugal e no resto da Europa preocupa não só toda a Esquerda, como qualquer pessoa que ache que os Direitos Humanos são uma coisa boa. Que perceba que a política de virar uns contra os outros não traz nada de bom para ninguém", começou por considerar, em entrevista à CNN Portugal.
Sublinhando que apesar de o grupo parlamentar do BE se ter mantido, o número de votos no partido do qual já foi ex-coordenadora aumentou e apontando ainda para o regresso da representação do partido na Madeira, Catarina Martins observou: "Vejo o Bloco a recuperar e espero que nas eleições europeias esse caminho possa continuar".
Catarina Martins afirmou que o objetivo da candidatura do Bloco é de conseguir o "melhor resultado que podemos ter" e que seria importante manter os dois eurodeputados.
"Se sempre foi verdade que na Europa se decide tanto as nossas vidas, este mandato que aí vem vai ser fundamental", considerou, exemplificando não só com as questões climáticas como também com a questão da paz.
Confrontada novamente com a ascensão da Extrema-Direita, Catarina Martins apontou que estas forças criam "conflitos todos os dias", enquanto o Bloco tenta defender os direitos relacionados não só com a habitação, mas também com a mobilidade ou subida de salários. "Isso é o que nos importa. E a Europa vai ser fundamental para esse projeto também", apontou.
Sublinhando o trabalho "extraordinário" de Marisa Matias e José Gusmão em Bruxelas, Catarina Martins considerou: "É importante que o Bloco de Esquerda mantenha esta capacidade de intervenção num grupo parlamentar mais alargado. Tudo indica que o grupo da Esquerda no Parlamento Europeu pode crescer. É um grupo de Esquerda verde, social, que está a ter mais força de outros países e isso vai ser importantíssimo para os desafios que temos pela frente".
Governo começou com "vitimização". CSI? "PSD anuncia esta medida quando sabe que o Parlamento a vai aprovar"
Catarina Martins falou ainda sobre o "investimento" dos grupos religiosos na Extrema-Direita que não existia, assim como o aproveitamento desta força através de "mentiras" que que causam indignação e "polémicas". "À boleia desta indignação e destas polémicas, ganham imenso espaço público, não só nas redes sociais, como também na comunicação social. Nunca nenhuma força teve tanto espaço para ideias que, na verdade, não passam de mentiras e da criação de falsos problemas", defendeu.
Questionada sobre se perante uma possível vitória dos sociais-democratas nas europeias, a situação poderia dar 'uma folga' ao Partido Social Democrata na medida em que o Governo sairia reforçado, a bloquista defendeu: "Não acho que o PSD esteja sob stress na sua governação por causa do resultado [das legislativas]. Acho que o PSD teve uma estratégia de início do mandato que a mim me parece errada, que foi mais do que ter proposta e criar solução de Governo, foi fazer oposição à Oposição. É uma estratégia de vitimização. O Governo está muito empenhado em tentar provar que tem obstáculos mais do que empenhado em criar soluções". E a ex-coordenadora do BE exemplificou a sua 'tese' com as medidas aprovadas esta quinta-feira, nomeadamente, em relação ao Complemento Solidário para Idosos.
"É uma boa notícia. Ainda bem que se avança - o Bloco apresenta esta proposta há muito tempo. E acho que pode indicar uma mudança do PSD. Porque o PSD anuncia esta medida quando sabe que o Parlamento a vai aprovar. Então, decidiu avançar, em vez de ser forçado pelo Parlamento - porque tanto a proposta do Bloco de Esquerda como do Partido Socialista lá estava, com condições para serem aprovadas. Acho que talvez o PSD tenha pensado que estava na altura de ficar menos zangado com um Parlamento, que, na verdade, o que está a aprovar - sem o PSD - são as próprias promessas que o PSD fez na campanha eleitoral", apontou, aludindo ao facto de esta medida não constar do programa eleitoral da Aliança Democrática.
E o Partido Socialista?
Confrontada com uma possível "coligação negativa" do Partido Socialista com o Chega, expressão utilizada na questão da eliminação das portagens nas ex-SCUT, Catarina Martins rejeitou a ideia de haver uma coligação negativa. "As coligações são positivas quando servem interesses do país. Acho, por exemplo, que medidas do IRS podem ser muito importantes em nome dos interesses do país", afirmou, falando sobre as negociações do PS e do PSD em relação a este imposto, onde "espera" que não sejam retiradas medidas conquistadas pelo Bloco para os jovens na altura de pedir um crédito à habitação.
"Vi André Ventura votar três vezes, em menos de 24 horas, de forma diferente a mesma proposta sobre um problema importantíssimo do sistema financeiro. O que eu digo é que já se sabe que com aquele partido não se pode contar para nada. Se de vez em quando votam propostas de outros partidos - às vezes até do Bloco - eu diria: um relógio parado também acerta duas vezes ao dia. O Chega não conta para o que é responsabilidade ou criar uma solução", acusou.
Sublinhando que até antes das legislativas alertou para um problema que a Direita enfrenta, Catarina Martins especificou: "A enorme fragmentação da Direita e a ausência de um projeto para o país de Direita é um probelma. Mas, agora, a responsabilidade é do PSD, e tem de encontrar soluções".
E quanto à polémica das reparações das ex-colónias?
Também a questão lançada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, em relação à reparação das ex-colónias foi tema durante a entrevista. Catarina Martins defendeu que o chefe de Estado "levantou um tema justo da forma errada" e que Portugal já fez reparações históricas, exemplificou com os judeus sefarditas. "E fez bem em fazê-lo", afirmou, acrescentando depois que a questão das reparações está a ser discutida por toda Europa.
"Diria até que as desigualdades que permanecem hoje na sociedade portuguesa com pessoas que são afastadas vêm ainda dessa história. Há tanta reparação a fazer até no próprio território nacional - para que todos tenham condições de vida. Mas também na relação com os países", indicou, considerando que era preciso fazer o contrário do que tem sido feito até aqui - e defendendo que a discussão deve ser feita de forma "serena".
"Não acho que Portugal precise de uma reconciliação. Há problemas, desequilíbrios, desigualdades, que é preciso abordar e é preciso reagir sobre elas. Não acho mal que haja processos, como há noutros países da União Europeia, por exemplo, em que se juntam estudiosos da cultura, da arqueologia, da museologia de vários países. E tentam perceber quais são os objetos culturais que estão num país ou noutro e deviam estar nos seus países da origem", explicou.
[Notícia atualizada às 23 horas]
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