O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, salientou, esta segunda-feira, que Portugal apoia a Ucrânia “sem hesitação”, tendo considerado que a visita do chefe de Estado ucraniano, Volodymyr Zelensky, a solo nacional e a consequente assinatura de um acordo bilateral representa a “intensificação da cooperação” entre os dois países.
“Acho muito importante a assinatura desse acordo, que significa a intensificação da cooperação bilateral entre os dois países, em continuidade com o que se vinha fazendo. Confio plenamente no Ministério dos Negócios Estrangeiros e na diplomacia portuguesa, que sabe muito bem trabalhar nestas matérias, e é isso que se espera”, disse o também ex-presidente da Assembleia da República, em entrevista à SIC Notícias.
Santos Silva apontou que Zelensky deverá ser recebido “ao mais alto nível”, na terça-feira, tendo sublinhado que não o surpreenderia “que o Presidente da República se deslocasse ao aeroporto”, à semelhança do que fez o rei de Espanha, esta segunda-feira.
“Haverá um encontro bilateral no Palácio de Belém, é muito provável que também haja um encontro com o primeiro-ministro, e esses são os momentos principais. A duração da visita não permite uma deslocação ao Parlamento e julgo que não está prevista uma sessão de boas-vindas. De qualquer modo, a Assembleia da República já recebeu o presidente Zelensky numa sessão por via digital e, portanto, esse ponto está cumprido”, equacionou.
O responsável recordou ainda tanto a sua visita da Kyiv, como as do antigo primeiro-ministro, António Costa, e de Marcelo Rebelo de Sousa, tendo justificado que “os contactos bilaterais ao mais alto nível entre Portugal e a Ucrânia são muito importantes e têm sido feitos na cadência possível”.
Nessa linha, Santos Silva reforçou que “os dois estados da península ibérica têm sido impecáveis no apoio político e diplomático e na cooperação aos mais diversos níveis com a Ucrânia”, notando que “Portugal foi dos primeiros países europeus a cumprir os seus compromissos, designadamente na disponibilização de tanques Leopard”.
“Durante algum tempo fomos os únicos, juntamente com a Alemanha, que estávamos a cumprir esse compromisso. Nas nossas capacidades, temos feito sempre isso. Somos um país que não só anunciamos coisas, como cumprimos”, complementou.
Questionado sobre o contacto que manteve com Zelensky, o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros deu conta da coragem demonstrada pelo chefe de Estado, que demonstrou “uma enorme coragem e uma enorme responsabilidade”.
“É privar com uma pessoa que demonstrou uma enorme coragem e uma enorme responsabilidade, além de sentido de Estado. Nos dias imediatamente seguintes a 24 de fevereiro de 2022, houve até propostas feitas pelos norte-americanos de acolherem e protegerem o presidente Zelensky, se ele o entendesse, coisa que recusou. Até agora, a Federação Russa ainda não conseguiu alcançar nenhum dos seus objetivos”, disse, referindo-se, neste último ponto, à ocupação de Kyiv, à queda do regime ucraniano, à ‘desnazificação’ da Ucrânia e ao estancamento da extensão da NATO.
Ainda que a Rússia tenha tido “derrotas políticas, internacionais e diplomáticas evidentes”, Santos Silva reconheceu que “o curso da guerra no terreno não tem sido favorável à Ucrânia nos últimos meses, mas as guerras não são processos lineares”. Destacou, por isso, que “os objetivos da Ucrânia, que apoiamos sem hesitação, são muito simples e legítimos”, já que o país “limita-se a lutar pela sua independência, pela sua soberania e pela sua integridade territorial dentro das fronteiras internacionalmente reconhecidas até pela própria russa no seu tempo”.
O antigo presidente da Assembleia da República não deixou de destacar que “Zelensky tem Portugal e os portugueses em muito boa conta”, não só “pela forte presença da comunidade ucraniana em Portugal desde os anos 90”, mas também “pela rapidez da reação portuguesa aquando da invasão russa na condenação sem mas e na disponibilização de todo o apoio a ucranianos que precisassem de se refugiar entre nós”.
Recorde-se que o presidente da Ucrânia assinará um acordo bilateral de segurança com o primeiro-ministro da Bélgica na manhã de terça-feira, em Bruxelas, antes de viajar para Lisboa, onde firmará um acordo com Portugal, que inclui a "assistência humanitária, financeira, militar, política" no que diz respeito ao processo de integração na União Europeia.
A deslocação de Zelensky ocorre numa fase em que a Rússia intensificou a sua ofensiva no leste da Ucrânia e abriu desde o início de maio uma nova frente de combate no nordeste, na região de Kharkiv, que se somam aos bombardeamentos intensivos contra infraestruturas vitais do país e que atingem também alvos civis. O líder ucraniano continua a pedir insistentemente apoio militar aos seus aliados ocidentais para contrariar a superioridade russa em efetivo, armamento e munições.
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