"É uma estranha coincidência que no dia original em que ele era para ser ouvido pela comissão é o dia em que sabemos que ele é constituído arguido", disse à agência Lusa Rui Paulo Sousa (Chega), referindo que só teve conhecimento da situação pelas notícias.
O ex-secretário de Estado da Saúde António Lacerda Sales era para ser ouvido hoje, mas pediu para a adiar, alegando motivos profissionais para não estar presente.
"Mesmo quando falei com ele, inclusive esta semana, para agendar nova reunião -- a sua ida à comissão para o dia 17 -- ele nunca referiu que seria constituído arguido ou que já tinha sido", salientou o também deputado do Chega.
À Lusa, Rui Paulo Sousa recordou que "todos estes acontecimentos, por coincidência, estão a decorrer neste momento", desde o início das reuniões da comissão de inquérito.
"Agora é que ficamos a saber destas buscas e destas constituições de arguido. Não sabemos se é apenas relativo a Lacerda Sales ou se outras pessoas que vamos ouvir também estão a ser ou foram constituídas arguidas", observou.
No entanto, o presidente a comissão de inquérito afirmou que a constituição de arguidos não interfere nos trabalhos.
"Isso não impede a sua ida à comissão, porque tem esse dever. Quem for constituído arguido tem a prorrogativa de ir acompanhado por um advogado e poder não responder a algumas questões que considerem que possam estar em segredo de notícia, tirando isso tem o dever de estar presente perante a comissão", acrescentou.
O antigo governante foi constituído arguido na segunda-feira no âmbito da investigação ao caso das gémeas que foram tratadas no Hospital Santa Maria, disse hoje à Lusa fonte ligada ao processo.
Segundo a mesma fonte, a casa do ex-governante, em Leiria, foi alvo de buscas judiciárias na segunda-feira.
No âmbito do mesmo processo, a Polícia Judiciária (PJ) está hoje a fazer buscas em duas unidades do Serviço Nacional de Saúde (uma delas o Hospital Santa Maria) e em instalações da Segurança Social.
Em causa está o tratamento hospitalar de duas crianças gémeas residentes no Brasil que adquiriram nacionalidade portuguesa e receberam em Portugal, em 2020, o medicamento Zolgensma, com um custo total de quatro milhões de euros.
O caso foi divulgado pela TVI, em novembro passado, e está ainda a ser investigado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) já concluiu que o acesso à consulta de neuropediatria destas crianças foi ilegal.
Também uma auditoria interna do Hospital Santa Maria concluiu que a marcação de uma primeira consulta hospitalar pela Secretaria de Estado da Saúde foi a única exceção ao cumprimento das regras neste caso.
[Notícia atualizada às 12h53]
Leia Também: Lacerda Sales constituído arguido no caso das gémeas luso-brasileiras