"Tivemos um golpe de Estado em Portugal, mas de uma natureza nova"

Para Pedro Adão e Silva, o golpe de Estado foi sustentado através da "remoção de um primeiro-ministro, perpetrada por meios não violentos".

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Notícias ao Minuto
03/07/2024 18:12 ‧ 03/07/2024 por Notícias ao Minuto

Política

Pedro Adão e Silva

O antigo ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, considerou que a queda do Governo socialista teve por base um golpe de Estado “de uma natureza nova”, já que foi levado a cabo “por meios não violentos”.

“’Se se parece com um pato, nada como um pato e grasna como um pato, então o mais provável é tratar-se de um pato.’ Da mesma forma, se se parece com um golpe de Estado e se age como um golpe de Estado, então o mais provável é tratar-se de um golpe de Estado”, escreveu, num artigo de opinião publicado no jornal Público, esta quarta-feira.

Uma vez que “golpes de Estado não têm de ser conduzidos por militares em chaimites”, Pedro Adão e Silva equacionou que “tivemos um golpe de Estado em Portugal, mas de uma natureza nova”.

O ex-ministro foi mais longe, tendo apontando que, desta feita, o golpe foi sustentado através da “remoção de um primeiro-ministro, perpetrada por meios não violentos”.

“Entretanto, o Governo mudou; passámos a estar preocupados com as condições de governabilidade e com o sempiterno ímpeto reformista; o anterior primeiro-ministro foi para outras paragens, o que tranquilizou os espíritos e gerou comoção nacional. E fingimos que não se passou nada”, acusou.

Pedro Adão e Silva recordou ainda o manifesto pela reforma da Justiça, que já foi subscrito por mais de 100 personalidades, tendo indicado que o problema desta área “não é nem a autonomia, nem a independência, mas, sim, o funcionamento e a responsabilidade hierárquicos no Ministério Público”.

“Qualquer intenção de aumentar o controlo político sobre o sistema judicial é mesmo uma emenda pior do que o soneto”, disse.

O antigo ministro terminou da mesma forma que começou, voltando a recorrer à metáfora do pato para lançar que, na realidade, o grande problema da Justiça passa por ter deixado de provar “que é de um pato que se trata”.

“Em matéria de justiça, ao contrário de outras esferas, há que provar objetivamente, em tribunal, que é de um pato que se trata. O que há muito deixou de ser a prioridade. No fundo, é esse o problema”, disse.

Recorde-se que a Operação Influencer levou à detenção de Vítor Escária, chefe de gabinete de António Costa, assim como do advogado, consultor e amigo do ex-primeiro-ministro Diogo Lacerda Machado, dos administradores da empresa Start Campus Afonso Salema e Rui Oliveira Neves, e ainda do presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas, que o juiz colocou em liberdade após interrogatório judicial.

Além destes, há outros quatro arguidos no processo, incluindo o ex-ministro das Infraestruturas João Galamba, o presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, Nuno Lacasta, o advogado, antigo secretário de Estado da Justiça e ex-porta-voz do Partido Socialista (PS) João Tiago Silveira e a empresa Start Campus.

O processo está relacionado com a produção de energia a partir de hidrogénio em Sines, Setúbal, e com o projeto de construção de um centro de dados na zona industrial e logística de Sines pela Start Campus. António Costa surgiu associado a este caso e foi alvo da abertura de um inquérito no Ministério Público junto do STJ, situação que o levou a pedir a demissão e à realização de eleições antecipadas, no dia 10 de março.

Ainda assim, em fevereiro, o juiz da Operação Influencer considerou contraditória e vaga a tese do Ministério Público de que os arguidos Diogo Lacerda Machado e Vitor Escária tentaram pressionar António Costa para aprovação de um decreto-lei favorável à sociedade Start Campus, argumentação constante da resposta do magistrado Nuno Dias Costa ao recurso do Ministério Público de contestação às medidas de coação, nenhuma das quais privativa de liberdade.

Leia Também: Travado requerimento potestativo para ouvir Costa e Galamba no Parlamento

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