Em declarações à agência Lusa no âmbito do debate sobre o estado da nação, quarta-feira na Assembleia da República, Rui Tavares disse ver um país "no qual as polémicas do dia-a-dia e o comentário político vão escondendo o que são fragilidades, debilidades muito grandes".
O deputado do Livre considerou que o país está excessivamente focado em "demissões e no tema do momento para o comentário político", o que acaba por disfarçar os "problemas essenciais do país" que o partido quer "destapar para que Portugal encare as grandes discussões que tem que fazer sobre o seu futuro".
Rui Tavares insistiu na crítica de falta de diálogo por parte do Governo minoritário PSD/CDS-PP, afirmando que se passou de uma situação de maioria absoluta socialista "muito fechada sobre si mesma" para uma "situação de muita incerteza e praticamente ingovernabilidade, mas com uma minoria que também não faz diálogo nenhum, o que é ainda mais estranho".
Interrogado sobre quais serão as prioridades da bancada do Livre em setembro, após a pausa para férias dos trabalhos parlamentares, Rui Tavares salientou, em primeiro lugar, que Portugal precisa de "reinventar a sua economia".
"Numa Europa alargada a mais de 30 países em que o PIB 'per capita' descerá bastante, não podemos depender de fundos de coesão como temos estado a depender. Não quer dizer que os fundos europeus acabem, como certos partidos muitas vezes tentam fazer crer, o que quer dizer é que temos que saber concorrer e captar fundos europeus muito mais interessantes mas que são aqueles nos quais os Estados têm que pôr mais dinheiro e que são muito especializados", salientou.
Neste âmbito, o deputado lembrou uma proposta do Livre para criar uma agência portuguesa de inteligência artificial.
Com o aproximar das eleições autárquicas no próximo ano, o Livre quer também colocar no centro do debate político "o tema da qualidade de vida" nas cidades e vilas, ou seja, "menos poluição, menos carros, melhores transportes públicos e pavimentos mais seguros".
Tavares argumentou que estes temas, por vezes considerados "secundários", não o são "em nenhuma democracia avançada, em nenhuma sociedade mais rica da Europa e não há nenhuma razão para que em Portugal o sejam".
O Livre quer ainda melhorar a relação entre o Estado e os cidadãos, que considera "muitas vezes demasiado hierárquica, demasiado rígida, demasiado autoritária, apesar de esforços feitos no passado de 'Simplex' ou de lojas do cidadão".
Está agendado para esta quarta-feira o debate sobre o estado da nação, o primeiro desde que o executivo minoritário PSD/CDS-PP tomou posse, que contará com a presença do primeiro-ministro, Luís Montenegro, e do restante elenco governativo.
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