A coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, anunciou, este domingo, a convocação de uma manifestação pelo direito à habitação, a decorrer a 28 de setembro.
No discurso da 'rentrée' política do partido, que decorre em Braga, a bloquista apontou que tanto o Partido Socialista como o atual Governo da Aliança Democrática estavam a falhar em duas áreas: a saúde e a habitação.
"PS e PSD falharam na saúde e na habitação porque trabalham para os mesmos interesses que ganham com a crise da saúde e da habitação. Ao abandono e falta de coragem que o PS teve para resolver problemas, o PSD está a acrescentar uma dose revanchismo e incompetência, de defesa despudorada do maior privilégio de quem ganha com aquilo que é essencial à vida de todos", apontou, considerando que "os fundos de investimento internacional tratam Portugal como se fosse o seu quintal".
"Há milionários de todo o mundo que se dirigem a Portugal para adquirir as suas mansões, com ajuda de 'vistos gold' ou benefícios fiscais. Há hotéis a surgir todos os dias como cogumelos, que se vão juntar ao Alojamento Local", disse, questionando: "E o povo? Onde é que vive o povo que trabalha nos hotéis? Que constrói o país das casas dos milionários?"
Criticando o 'pacote' de medidas anunciado pelo Governo e que entrou em vigor este mês, Mortágua disse: "Há uma geração inteira para quem ter uma casa se tornou uma miragem".
"O plano é esgotar as capacidades do SNS para privatizar as suas valências"
No plano da saúde, Mariana Mortágua considerou que "não era por incompetência" do Executivo que não havia soluções e acordos com o SNS, falando sim da existência de um plano: "O plano é esgotar as capacidades do SNS para privatizar as suas valências. O que quer dizer privatizar é pagar ao privado mais para fazer pior o que o SNS fazia melhor. É isto que está em causa neste plano".
A bloquista lembrou o tempo da Covid-19, no "cartel dos laboratórios privados que combinaram preços para roubar o Estado no maior momento de aflição nacional". Após as críticas, Maria Mortágua propôs algo "muito simples": "20% de aumento em todos os salários do SNS. E mais 40% para todos os profissionais que neste momento aceitarem ficar em regime de exclusividade. Sem truques, sem condições, sem letras pequeninas. Está aqui a proposta", apontou.
"Havemos de provar a este país que o melhor negócio é termos serviços de saúde de qualidade", referiu.
Mortágua falou ainda da reforma fiscal do Governo, a "mais injusta e regressiva desde que Maria Luís Albuquerque fazia parte do Governo e Luís Montenegro era o líder da maioria parlamentar" - e exemplificou.
"A quem serve o IRS Jovem? Futebolistas de sucesso? Tenho a certeza. Nómadas digitais que se querem instalar em Portugal? Com certeza. Meia dúzia de sortudos e dúzia e meia de herdeiros? Todos eles vão beneficiar com o IRS Jovem. Quem não vai beneficiar é a maioria dos jovens que vive em Portugal, não cabe na bolha de elite em que vive o Governo e que ganha mil euros por mês. Não conseguem encontrar uma casa de 200 mil, quanto mais a casa de 450 mil que a ministra tanto apregoava e gabava nos seus benefícios fiscais", atirou.
[Notícia atualizada às 16h57]
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