O presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, defendeu na noite de domingo, na CNN Portugal, que a morte de Odair Moniz "deve causar inquietação a qualquer português, seja familiares, seja qual for a a raça, seja a quem for."
Apesar de "ainda não se conhecerem os contornos" em que ocorreu a morte do cabo-verdiano, no Bairro da Cova da Moura, durante uma operação policial, o que se conhece até este momento é, segundo o autarca, "muito impressionante e muito preocupante".
"Uma pessoa que não para numa Operação Stop está sujeita ao pagamento de uma coima de 500 euros. Portanto, não é sequer um crime e não justifica uma perseguição policial […]. A consequência de um ato menor não pode ser um ato maior a não ser que haja alguma coisa que ainda não conheçamos. Isto é preocupante porque pode acontecer a qualquer um de nós", atirou, questionando se os polícias em causa "tinham a formação adequada" para lidar com este tipo de situações.
Para Rui Moreira não há ainda justificação para o facto de os polícias não andarem ainda com as câmaras corporais, cuja utilização há foi autorizada e publicada em Diário da República, e que "permitiram filmar o sucedido e não só funciona para preservar os direitos de quem eles interpelam, como também para repor alguma injustiça que esteja a ser cometida contra eles".
Já sobre as manifestações que tiveram lugar no fim semana – uma em defesa de Odair e outra em defesa do polícia que o baleou -, assim como as declarações do Chega e do Bloco de Esquerda, que têm vindo a público, Rui Moreira considerou que "duas forças extremas” criaram “o pasto ideal para ser queimado".
"Aquilo que Mariana Mortágua disse e Daniel Oliveira disse que estas pessoas só veem o Estado quando a aparece a polícia não é verdade. Estas pessoas têm, quase todas elas, habitação porque foi feito um grande esforço nas Áreas Metropolitanas para acabar com as barracas. Estas pessoas têm RSI, estas pessoas têm saúde paga, têm escolas, têm transportes, têm recolha de lixo e têm luz e têm água Portanto, também este discurso é falso. Não é verdade. Portanto, estes tumultos foram incendiados por três razões: pela morte de uma pessoa cujos contornos nós até hoje não conhecemos às mãos da polícia que é suposto nos defender, pelo discurso do Chega, que é um discurso inflamado e absolutamente inaceitável e racista e também pelo discurso do Bloco que positivamente pegaram neste caso e tentaram aproveitar-se", atirou, comparando o discurso "inflamado" de Mariana Mortágua ao "de Trump, do outro lado do Atlântico".
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