Num comunicado pessoal enviado na quinta-feira à noite, Tiago Mayan Gonçalves avançou que não estavam reunidas "as condições pessoais para continuar a exercer" o cargo de presidente da União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde (UFAFDN).
"Tomei hoje a decisão, bastante difícil, de dele [cargo] abdicar", revelou Mayan, acrescentando que o motivo é da sua "inteira responsabilidade". "Apenas a mim me vincula, eximindo dessa responsabilidade os restantes elementos do executivo ou quaisquer funcionários, que nunca tiveram qualquer conhecimento ou interferência direta ou indireta nos atos ou omissões que cometi", acrescentou.
Esta sexta-feira tornou-se público o motivo para a renúncia do cargo. A decisão remete a uma ata da reunião do júri do Fundo de Apoio ao Associativismo Portuense, datada de 16 de setembro, que terá sido elaborada e falsificada por Mayan.
Quando confrontado com o documento, a que a Lusa teve acesso, Mayan confirmou "que foi ele que elaborou o documento e colocou as assinaturas, atribuindo a si próprio tal responsabilidade, isentando de qualquer culpa todos os restantes membros do seu executivo e colaboradores".
O presidente da Iniciativa Liberal (IL), Rui Rocha, manifestou o seu "repúdio total", esta sexta-feira, face às acusações e avançou que o partido deu início a "um processo disciplinar".
"Quero manifestar aqui o repúdio total pelos factos de que tivemos conhecimento e que são imputados ao Tiago Mayan. São factos graves; as notícias que temos e que tive conhecimento apenas ontem imputam condutas inaceitáveis ao senhor Tiago Mayan e, portanto, há aqui uma dupla dimensão", disse Rui Rocha, em declarações aos jornalistas.
O presidente da IL garantiu ainda que "do ponto de vista criminal, ninguém está acima da lei, muito menos alguém que tem responsabilidades de cargos públicos".
De igual forma, o movimento independente pelo qual o presidente da UFAFDN, no Porto, foi eleito também reagiu e diz-se surpreendido com a demissão.
A associação "vem publicamente lamentar e repudiar o comportamento deste autarca que integrou as listas do movimento independente à UFAFDN no âmbito do acordo com o Iniciativa Liberal", referiu.
A concelhia do PS/Porto juntou-se ao leque de reações perante as acusações de que Tiago Mayan é alvo e admitiu a sua "estupefação". Pediu ainda uma auditoria à autarquia.
"O processo em torno do Fundo de Apoio ao Associativismo nesta União de Freguesias já tinha suscitado dúvidas e críticas por parte do PS, devido ao incumprimento de prazos e à inexistência de audiência prévia dos interessados, em violação da lei e das condições do programa aprovadas pela Câmara Municipal do Porto", pode ler-se num comunicado da estrutura liderada pelo vereador socialista na Câmara do Porto, Tiago Barbosa Ribeiro.
"Através dos seus eleitos locais, o PS vai solicitar uma Assembleia de Freguesia extraordinária para analisar este tema e solicitar uma auditoria independente aos atos praticados desde o início do mandato naquela União de Freguesias", conclui o comunicado da concelhia.
O Grupo de Coordenação Local da Iniciativa Liberal (IL) Porto manifestou a "condenação e repúdio total" pela atitude do liberal, que "representa uma clara contradição com os princípios e valores" defendidos pelo partido.
"As ações atribuídas a Tiago Mayan Gonçalves, das quais tomámos conhecimento ontem, são inaceitáveis em qualquer contexto, especialmente no exercício de funções públicas", lê-se na nota enviada às redações.
"Os processos internos para apuramento de responsabilidades já foram iniciados, e aguardaremos com serenidade a conclusão destas diligências", frisaram os liberais portuenses.
O PSD/Porto foi outra das vozes que repudia “veementemente a atitude” de Tiago Mayan e avança que vai requerer a realização de uma Assembleia de Freguesia extraordinária para analisar o tema e solicitar uma auditoria à Inspeção-Geral de Finanças.
"Os autarcas do PSD classificam este ato de enorme gravidade, e afirmam que a situação se traduz numa quebra total de confiança", revela a Comissão Política Concelhia do PSD/Porto e os eleitos do PSD por Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde, em comunicado.
Os social-democratas assinalam ainda que o "ato inaceitável" de Mayan coloca em causa todo o processo do Fundo de Apoio ao Associativismo Portuense e prejudica dezenas de projetos de pequenas associações que "são necessários salvaguardar".
Apesar do ato de Mayan, a Câmara do Porto já reagiu e tranquilizou as associações que iam receber apoio da União de Freguesias da Foz garantindo que tudo iria fazer para que estas não fossem prejudicadas.
"O município fará o que estiver ao seu alcance, dentro do quadro legal aplicável, para garantir que as associações, alheias a este processo, não sejam prejudicadas", adiantou a câmara.
Tiago Mayan, ex-candidato presidencial da IL, formalizou em julho a sua candidatura à liderança do partido por estar insatisfeito com o rumo do mesmo e entender que a IL precisa de alcance, amplitude e arrojo. No entanto, na tarde desta sexta-feira, foi anunciado que tinha desistido da candidatura à liderança da IL na convenção eletiva que está prevista para início de 2025.
"Confirmo que o Tiago Mayan saiu da liderança do movimento Unidos pelo Liberalismo e, por consequência, já não é candidato à presidência da Iniciativa Liberal (IL)", disse à Lusa o conselheiro nacional da IL Pedro João Ermida, que pertence à coordenação daquele movimento, até agora liderado pelo ex-candidato e Belém e principal rosto da oposição à atual direção do partido.
Tiago Mayan foi eleito, em setembro de 2021, presidente da junta com 36,92% dos votos, pelo movimento independente "Rui Moreira: Aqui Há Porto", apoiado pela Iniciativa Liberal (IL), CDS-PP, Nós Cidadãos e MAIS.
Foram eleitos para o executivo da junta Ana Júlia Furtado, José Ramos, Laura Lages Brito, Germano Castro Pinheiro, Tiago Lourenço (PSD) e Cláudia Bravo (PSD).
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