A deputada socialista Ana Sofia Antunes, confirmou, esta sexta-feira, que ouviu vários insultos que lhe foram dirigidos pela bancada parlamentar do Chega, depois de um momento polémico protagonizado com a parlamentar Diva Ribeiro, no dia de ontem.
"Não fui só eu que ouvi, todas as bancadas ouviram", disse a deputada do Partido Socialista (PS), em entrevista à SIC Notícias, referindo ainda que estes "apartes" são "uma coisa que é permanente no Parlamento" por parte do partido liderado por André Ventura.
Interrogada sobre que insultos ouviu, confirmou: "'Aberração, devias estar numa esquina, isto não é uma esquina, drogada' e outras expressões que, de momento, não me recordo".
"Não foi a primeira vez, toda a gente sabe que não foi a primeira vez", relatou a também antiga secretária de Estado da Inclusão.
"Durante muito tempo toda a gente achou que ignorar, não dar importância, era a melhor forma de reduzir este tipo de comportamentos por parte destas pessoas à sua verdadeira dimensão. Não funcionou e nunca vai funcionar, porque eu acho que esse comportamento apenas está a conseguir dar força à indignidade, à calunia, à ofensa, ao mau trato. Ontem, infelizmente, foi comigo, tocámos no fundo, chegámos a um limiar que eu acho que, na verdade, todos pensámos que nunca iríamos chegar", confessou.
A socialista sublinhou que, na altura, conseguiu apenas "rir-se" e apontou que o que foi dito pela deputada do Chega Diva Ribeiro "é falso". "Ontem, foi a primeira intervenção que fiz em plenário em 11 meses em matéria de deficiência", adiantou.
Filipe Melo, Pedro Frazão, que são efetivamente as pessoas que mais frequentemente estão envolvidas nestas questões e nestas polémicas. Mas não são os únicos: Rita MatiasInterrogada sobre se há pessoas que têm regularmente este tipo de comportamento, a parlamentar foi clara: "Claro que há. Claro que há. Há aqueles que são os permanentes daquela bancada e que são os especialistas, os mestres, da ofensa e do insulto".
Reconhecendo que "são vários" os parlamentares nesta situação, não teve receio de citar nomes. "Filipe Melo, Pedro Frazão, que são efetivamente as pessoas que mais frequentemente estão envolvidas nestas questões e nestas polémicas. Mas não são os únicos: Rita Matias", nomeou.
"No momento em que vivi isto, aquilo que faço é rir, é dar uma gargalhada. É tão absurdo que só se pode reagir assim. Mas, de facto, eu não posso. Aquilo que é feito ali, naquele momento, não é contra mim, é contra um conjunto de pessoas", disse a deputada do PS, falando num "desrespeito por todas as pessoas que têm algum tipo de deficiência" em Portugal.
Ana Sofia Antunes defendeu que o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, "deveria, em determinados momentos, fazer mais". "Este silêncio e o permitir tudo é que está a fazer com que, efetivamente, as coisas estejam a atingir um limiar inaceitável", criticou.
Sobre o dia de hoje, fez questão de destacar "dois momentos bastante infelizes".
Primeiro, disse, a reação de André Ventura, presidente do Chega. "Aquilo que André Ventura veio fazer hoje, uma vez mais, foi vitimizar-se, foi vitimizar os deputados do seu partido", considerou. Sobre o facto de Ventura ter recusado pedir desculpas, notou: "Isto não é uma resposta de uma pessoa digna e de alguém que se considere, efetivamente, um líder partidário à altura".
O outro momento, descreveu, foi protagonizado pelo deputado do Chega Pedro Pinto, no final do debate de hoje. Ana Sofia Antunes disse que o deputado veio dizer que "houve excessos nos apartes" por parte da bancada do Chega no debate de ontem, mas "esqueceu-se de dizer" que também "houve excessos nas intervenções de microfone ligado".
Recorde-se que, ontem, a deputada do Chega Diva Ribeiro acusou a socialista Ana Sofia Antunes, que é cega, de só conseguir "intervir em assuntos que, infelizmente, envolvem deficiência", tendo depois sido relatados insultos dirigidos à bancada do PS.
O PS condenou e anunciou hoje que vai propor alterações ao código de conduta dos deputados para incluir novas sanções. Além disso, pretende que o presidente da Assembleia da República peça desculpa a Ana Sofia Antunes, em nome do Parlamento.
Já o presidente do Chega disse que vai ponderar se aceita uma revisão do código de conduta dos deputados para introduzir novas sanções, admitiu fazer autocrítica sobre comportamentos, mas considerou-se o mais ofendido por insultos na Assembleia da República.
[Notícia atualizada às 22h44]
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