Numa interpelação ao Governo, agendada pelo PCP, sobre a "degradação social do país em consequência da política de direita", a líder parlamentar comunista, Paula Santos, salientou que o executivo, perante o aumento dos preços e a "privação de acesso à saúde e habitação, "não consegue esconder as crescentes desigualdades e as injustiças".
"A política de direita não é solução para os problemas, é antes o problema e está na origem da pobreza e exploração", acusou.
Todos os partidos de esquerda convergiram nas críticas à política que tem sido implementada pelo Governo nos últimos 10 meses, com o deputado do PS João Torres a salientar que o executivo não está "em plenitude de funções para fazer face aos desafios do presente e do futuro", em particular porque os seus membros "escondem-se sempre que há uma dificuldade ou uma notícia menos positiva".
"O PSD e o CDS não estavam preparados para governar o nosso país. E, na verdade, é preciso também dizer que não estavam preparados para enfrentar circunstâncias como aquela que vivemos hoje. (...) Quando toca a fazer reformas ou olhar para sinais de incerteza, este Governo não tem nada a dizer", acusou.
O BE, pela voz de Joana Mortágua, criticou a política de habitação do Governo, afirmando que os despejos estão a aumentar significativamente sem que o executivo nada faça para resolver a questão e disse que o Governo só vai agir quando for para "demolir barracas" de pessoas que ficaram desalojadas.
O porta-voz do Livre Rui Tavares defendeu que o Governo não tem um "roteiro claro para o país", com a líder parlamentar do partido, Isabel Mendes Lopes, a criticar o balanço do executivo na habitação, frisando que há pessoas que trabalham, recebem ordenado e estão em situação de sem-abrigo.
Por sua vez, a deputada única do PAN, Inês Sousa Real, defendeu que os resultados do Governo têm sido "mais do que propagandistas e são desapontantes", considerando que se está a revelar "incapaz de resolver os problemas das pessoas" e está a deixar o "país ao abandono em várias áreas".
Os partidos de direita rebateram as críticas, com o deputado do PSD Francisco Sousa Vieira a acusar o PCP de "gozar com quem trabalha" ao agendar este debate e acusou: "estiveram empenhados, com o PS, em aplicar nos últimos anos um plano de desmotivação dos profissionais de saúde".
O presidente do Chega, André Ventura, afirmou que o PCP traz o mesmo debate ao parlamento desde 1974, com "as mesmas palavras, os mesmos textos" mudando só os intervenientes, e acusou os comunistas de culparem tudo menos o "sistema político corrupto" do país do qual, acrescentou, o "PCP fez parte durante 50 anos".
Também o deputado da IL Mário Amorim Lopes acusou o PCP de anacronismo, afirmando que "a realidade muda, os problemas mudam, os tempos mudam, tudo muda exceto duas coisas: o PCP e as soluções do PCP".
O deputado do CDS-PP, Paulo Núncio, disse que o PCP deveria ter definido como tema do debate "os erros cometidos durante os governos do PS" em vez de criticar as políticas do atual executivo, salientando que a "situação social em Portugal está melhor do que estava" em comparação com o último Governo.
No encerramento do debate, o ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, também recuou ao tempo da 'geringonça' para salientar que "foram oito anos de governação perdida, com consequências graves para o país", procurando estabelecer paralelos com a atualidade.
"A postura do PS mostrou-nos que a esquerda unida está mais coesa do que nunca. Hoje, mais uma vez, assistimos a um debate em que não se vislumbrou uma única diferença entre o PS, o BE e o PCP", afirmou, numa intervenção em que defendeu que a luta de classes "perdeu adesão à realidade".
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