Montenegro rejeita "apodrecimento" e prefere "clarificação à Sá Carneiro"

O primeiro-ministro afirmou hoje que o Governo "não está interessado em eleições, mas em condições", dizendo não querer "o apodrecimento" e preferir "a clarificação à Sá Carneiro".

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Lusa
11/03/2025 17:21 ‧ ontem por Lusa

Política

Governo/Crise

No debate da moção de confiança do Governo, no parlamento, foi o socialista Eurico Brilhante Dias o primeiro a evocar o fundador do PSD, Francisco Sá Caneiro, e a sua frase célebre, na qual defende que primeiro está Portugal, depois o interesse do partido e só no fim a "circunstância pessoal" de cada um, tendo sido aplaudido pela bancada social-democrata.

 

"Estamos hoje aqui porque o senhor inverteu esta frase; com a sua circunstância sequestrou o seu Governo, o seu partido e quer sequestrar o nosso país, isso não é admissível, não contará com o voto do PS para calar a oposição", afirmou.

Na resposta, Luís Montenegro disse ficar sempre agradado com as citações de Francisco Sá Carneiro e aproveitou para deixar algumas comparações.

"O primeiro é que Francisco Sá Carneiro foi também ele alvo de uma campanha, uma campanha abjeta a propósito de uma questão financeira no final dos anos 1970", disse, aludindo a uma polémica envolvendo empréstimos ao Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa para a compra de ações.

Montenegro afirmou que foi também olhando para "o seu exemplo e a sua inspiração" que defende uma política de "clareza, da clarificação, da lealdade, não é da hipocrisia, não é dos jogos escondidos".

"Eu tenho a certeza que ele seria o primeiro, nestas circunstâncias, a preferir a clarificação ao apodrecimento da situação (...) Os senhores querem o apodrecimento e eu sou à Sá Carneiro pela clarificação", afirmou.

"Eu não estou nem o Governo interessado em eleições, nós estamos interessados em condições, nós temos de ter condições para executar o nosso programa. E os senhores têm à vossa disposição o instrumento para fazer ou não prosseguir a atividade do Governo", disse.

Montenegro voltou a manifestar disponibilidade para "consensualizar com o PS uma solução" que evite o apodrecimento.

"Digam em concreto o que é que querem, que informação querem, vamos estabelecer um método e um prazo para em duas, três semanas podermos de uma vez por todas encerrar este capítulo do esclarecimento. Se os senhores não o querem, é porque verdadeiramente a máscara vos está a cair", acusou.

A Assembleia da República debate e vota hoje a moção de confiança ao Governo, com chumbo anunciado e que ditará a demissão do executivo, apenas um ano e um dia após a vitória da AD nas legislativas antecipadas.

A moção, intitulada "Estabilidade efetiva, com sentido de responsabilidade", foi anunciada pelo primeiro-ministro a 05 de março, na abertura do debate da moção de censura do PCP ao executivo minoritário PSD/CDS-PP, perante dúvidas levantadas quanto à vida patrimonial e profissional de Luís Montenegro.

A atual crise política teve início em fevereiro com a publicação de uma notícia, pelo Correio da Manhã, sobre a empresa familiar de Luís Montenegro, Spinumviva, detida à altura pelos filhos e pela mulher, com quem é casado em comunhão de adquiridos, - e que passou na semana passada apenas para os filhos de ambos - levantando dúvidas sobre o cumprimento do regime de incompatibilidades e impedimentos dos titulares de cargos públicos e políticos.

Seguiram-se semanas de notícias -- incluindo a do Expresso de que a empresa Solverde pagava uma avença mensal de 4.500 euros à Spinumviva -, duas moções de censura ao Governo, de Chega e PCP, ambas rejeitadas, e o anúncio do PS de que iria apresentar uma comissão de inquérito.

Leia Também: Montenegro desafia Pedro Nuno a definir método para esclarecimentos

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