"A Madeira tem de ser estudada do ponto de vista sociológico", afirmou a cabeça de lista da coligação PTP/MPT/RIR às eleições legislativas madeirenses, Raquel Coelho, considerando que "é incompreensível" o resultado deste ato eleitoral, realizado no domingo, em que o PSD venceu sem maioria absoluta.
Em declarações à agência Lusa, Raquel Coelho reforçou que "a Madeira é um caso de estudo", por entender que a vitória de PSD significa que os madeirenses preferiram votar num governo "suspeito de corrupção".
"Ninguém consegue explicar este crescimento, novamente, do PSD, que ficou a 300 votos da maioria absoluta, depois de tudo aquilo que aconteceu", disse a candidata da Força Madeira, referindo-se a processos judiciais por suspeitas de corrupção.
Como justificação para este alegado fenómeno, apontou como possibilidade a proximidade da Madeira com África, onde há "regimes ditatoriais", e o facto de o arquipélago estar "longe e isolado do continente europeu".
"Estamos a bater recordes africanos de longevidade do mesmo partido no poder", indicou Raquel Coelho, referindo que "há um défice democrático" na Madeira, com "vícios graves" do ponto de vista político, "que insistem em resistir, apesar das investigações judiciais".
O PSD governa a região desde as primeiras eleições regionais, em 1976.
Para a cabeça de lista da Força Madeira, em democracia é normal perder ou ganhar, "o que não é normal é um partido ganhar sempre, que é o caso do PSD", pelo que tal significa que "o jogo está viciado".
De acordo com os dados disponibilizados pela Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna (MAI), nestas eleições regionais, PTP/MPT/RIR obteve 789 votos (0,55%), o que representa um resultado pior ao que cada partido desta coligação conseguiu no anterior ato eleitoral.
Nas anteriores eleições, em maio de 2024, o MPT conseguiu 1.222 votos (0,90%), o MPT 577 votos (0,42%) e o RIR 527 votos (0,39%).
Sobre o resultado eleitoral da coligação Força Madeira, Raquel Coelho afirmou que "houve um voto útil claro no JPP, que esvaziou a maior parte dos pequenos partidos".
A cabeça de lista apontou ainda como falha o nome da coligação, que teria de ser mais divulgado, mas explicou que os recursos disponíveis não são os mesmos que os dos grandes partidos.
"Os partidos não concorrem em igualdade de circunstâncias. Há partidos que vão na meta já a 1.000 metros à frente dos restantes partidos que concorrem nestas eleições e, portanto, há uma desigualdade profunda", expôs.
Sobre a continuidade da coligação Força Madeira após as eleições, Raquel Coelho disse que "é prematuro" uma decisão, porque ainda vão avaliar os resultados, "com clareza e com serenidade, nos próximos dias". "Mas acredito que esta coligação tem pernas para andar. Acho que isto foi só um pequeno ponto de partida", disse.
"Da parte da coligação Força Madeira, não estamos arrependidos da união dos pequenos partidos. De facto, consideramos que é a única solução, que é a união dos partidos da oposição para ser uma alternativa ao PSD. Temos só a lamentar e apontar baterias aos maiores partidos da oposição, ao PS e ao JPP, que deviam ter tomado uma iniciativa de fazer uma coligação alargada, de facto, unindo a maior parte dos partidos da oposição para fazer frente a este regime despótico e corrupto do PSD", declarou Raquel Coelho.
O PSD venceu as eleições legislativas regionais antecipadas da Madeira, falhando por um deputado a maioria absoluta, de acordo com os dados oficiais provisórios, que indicam que o JPP se tornou o principal partido da oposição, deixando para trás o PS.
Segundo informação disponibilizada pela Secretaria-Geral do MAI, os sociais-democratas obtiveram 43,43% dos votos (62.085 votos) e 23 lugares na Assembleia Legislativa Regional, constituída por um total de 47 deputados.
O JPP alcançou 21,05% dos votos (30.094 votos) e 11 mandatos no parlamento regional, enquanto o PS teve 15,64% (22.355) e oito lugares na Assembleia Legislativa Regional, seguindo-se o Chega, que elegeu três deputados, a IL e o CDS-PP, que obtiveram um cada.
Ao círculo eleitoral único do arquipélago, com 47 assentos parlamentares, concorrem 14 listas: CDU (PCP/PEV), PSD, Livre, JPP, Nova Direita, PAN, Força Madeira (PTP/MPT/RIR), PS, IL, PPM, BE, Chega, ADN e CDS-PP.
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