"A consolidação do JPP como partido alternativo ao PSD começa em 2025 e vai terminar em 2029, se a legislatura durar", disse o secretário-geral do JPP, Élvio Sousa, numa entrevista à agência Lusa, no Funchal, referindo-se às próximas legislativas regionais.
O movimento independente Juntos Pelo Povo (JPP) surgiu em 2008, na freguesia de Gaula, no concelho de Santa Cruz, onde conseguiu afastar o PSD da governação do município madeirense. Mais tarde, elegeu cinco deputados na sua estreia como partido numas regionais, em 2015.
O JPP tendo vindo a crescer em representação no parlamento da Madeira e passou de nove para 11 deputados nas legislativas regionais antecipadas de 23 de março, argumentando o seu líder que um projeto, para se consolidar, requer 10 anos.
No seu entender, o crescimento do partido, que obteve 30.091 votos no mês passado (21,55%) e relegou o PS para a terceira força política regional, "é mérito" do trabalho dos seus elementos e surge também da "conjuntura regional".
O reforço da confiança do eleitorado implica, para o secretário-geral, "maior seriedade e empenho", porque as pessoas transmitem que o JPP passa "uma mensagem credível, séria e responsável".
"O paradigma, o modelo doravante é o da responsabilidade, da causa pública e menos do cálculo partidário", sublinhou, referindo que este "não é um partido de protesto", visto que complementa a sua ação "apresentando medidas para melhorar a vida da população". E, acrescentou, "isso não é protesto, é alternativo".
Sobre a nova legislatura que começou na quinta-feira, dia da tomada de posse da nova Assembleia Legislativa, Élvio Sousa apontou que "qualquer iniciativa do JPP vai focar o problema e vai trazer as soluções" -- essa será a "significativa mudança" neste novo ciclo.
Será também reforçada a "fiscalização preventiva" ao Governo Regional PSD/CDS-PP porque o "setor das negociatas é muito sentido nesta região, até por falta de investigação". O responsável considerou, aliás, que "o Ministério Público podia fazer um pouco mais".
"São estas três questões: responsabilidade, apresentação de problema com soluções e fiscalização apertada. Vamos, naturalmente, manter essas três áreas", sintetizou Élvio Sousa, realçando também que o JPP não deixou de ser um movimento.
O partido apresentou recentemente uma denúncia na Procuradoria-Geral da República e no Tribunal de Contas sobre o negócio do teleférico do Curral das Freiras, apontando "que lesa o Orçamento Regional em mais de 24 milhões de euros".
Mas, salientou o representante, não se tratou de uma "denúncia anónima" - foi assinada por todos os deputados do partido.
Também referiu que o recorrente recurso ao tribunal por parte do JPP para obrigar o Governo Regional a entregar documentos é porque estes são "componentes de prova" e da fiscalização que o JPP "não vai perder", estando determinado a "continuar a ser o partido dos papelinhos e das denúncias".
A Madeira começou a viver uma crise política em janeiro de 2024, quando o presidente Miguel Albuquerque foi constituído arguido numa investigação sobre corrupção, acabando por se demitir. Depois das eleições de maio do ano passado, ganhas sem maioria absoluta pelo PSD, foi aprovada, em dezembro, uma moção de censura ao executivo minoritário, o que acabou por originar novas regionais antecipadas.
Questionado sobre se teria feito alguma coisa diferente durante esta crise, Élvio Sousa referiu, assumindo "inexperiência política", que não teria ido à audiência com o representante da República logo após as eleições de 26 de maio de 2024 com uma proposta de alternativa governativa, que exigia mais tempo e estava a ser negociada.
Indicou também que não deveria ter concordado com a aparição pública, em conferência de imprensa, no dia seguinte, com o PS (os dois partidos, juntos, não conseguiam ultrapassar a soma dos eleitos do PSD e do CDS-PP).
O JPP, lembrou, sempre se mostrou "um partido moderado, alinhado e responsável" no parlamento madeirense, tendo aprovado medidas dos vários partidos, inclusive do PSD quando maioritário.
"Acho que o PSD não deve continuar a ser arrogante, deve cultivar a humildade, tal como os partidos da oposição não devem embandeirar-se em arco. Já disse aos meus colegas, devemos cultivar a humildade, seguramente, e continuar naquela linha que é valorizar o que deve ser valorizado e praticar aquilo que deve ser praticado e apresentar alternativas", argumentou.
O PSD venceu as eleições de março com 23 deputados eleitos, a um assento da maioria absoluta, meta que conseguiu ao assinar um acordo de incidência parlamentar e governativa com o CDS. Miguel Albuquerque governa a região -- gerida pelo PSD desde as primeiras eleições autárquicas - desde 2015.
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