Numa carta aberta enviada hoje ao reitor João Gabriel Silva, a que a agência Lusa teve acesso, a estrutura concelhia de Coimbra da organização juvenil do PSD solicita a anulação da investidura do antigo chefe de Estado devido às acusações de corrupção de que é alvo pela justiça brasileira.
"Clamamos, portanto, na sequência dos acontecimentos recentes, a anulação do grau de doutor 'honoris causa' a Luiz Inácio Lula da Silva por cessação das causas que fundamentaram a sua atribuição: o seu "prestígio internacional", lê-se no documento.
Para a JSD, "é apanágio desta nossa casa [UC] a transmissão da verdade, das boas práticas administrativas, da competência, transparência, defesa dos interesses públicos e não instrumentalização do magistério público em benefício pessoal".
A investidura de Lula da Silva decorreu em março de 2011, por proposta da Faculdade de Direito, como forma de reconhecer o seu "prestígio internacional" e a atenção que dedicou "aos grandes problemas do mundo e a sua influência na preservação da amizade que une Portugal e o Brasil".
A JSD de Coimbra considera que a imagem internacional da UC, em particular no Brasil, país de onde chegam mais estudantes estrangeiros, "é fundamental para a promoção e expansão da nossa 'alma mater'".
"Com o prestígio internacional vem também a enorme responsabilidade de proteger o nome da UC. Mais ainda, sendo bandeira da sua equipa - que aplaudimos e que tantos frutos tem dado - a atração de estudantes e investigadores estrangeiros para a nossa universidade", refere a carta aberta dos jovens social-democratas.
Em declarações aos jornalistas, à margem da tomada de posse dos órgãos do Centro Académico e Clínico de Coimbra do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra/Universidade de Coimbra, o reitor João Gabriel Silva disse que a decisão de atribuir o título a Lula da Silva não será revista.
"Posso dizer com muita clareza que a história não se reescreve. Nós atribuímos o doutoramento 'honoris causa' ao Presidente Lula da Silva com pleno convencimento de que era uma atitude correta e justa e esse julgamento foi consciente e mantém-se", sublinhou o académico.
Segundo João Gabriel Silva, "ainda falta muito para a história contemporânea do Brasil ser escrita, de modo que não haverá nenhuma revisão da atribuição do grau de 'honoris causa'".
O antigo presidente do Brasil, que governou entre 2003 e 2011, está a ser investigado no âmbito da Operação Lava Jato, que investiga corrupção, fraude e branqueamento de capitais, nomeadamente na Petrobras, a mais importante empresa no país.
O envolvimento de Lula da Silva no caso desencadeou uma onda de protestos contra o governo de Dilma Rousseff, que mobilizou mais de seis milhões de brasileiros no último dia 13.
Lula tomou posse como ministro de Dilma Rousseff há uma semana, mas a sua nomeação está suspensa, devido a vários recursos nos tribunais.
O Ministério Público de São Paulo pediu a prisão preventiva de Lula depois de o acusar formalmente de crimes de lavagem de dinheiro e falsificação de documentos, por alegadamente ter ocultado que é dono de um apartamento de luxo num edifício de uma construtora implicada no caso de corrupção que está a ser investigado no âmbito da Operação Lava Jato.