Já não é vista com a frequência de outros tempos, mas o seu olhar crítico e analítico sobre a atualidade política mantém-se. Numa entrevista concedida ao Notícias ao Minuto, Ana Drago acredita que a atual maioria governativa não só “tem margem” como é também “fundamental que se mantenha por uma legislatura”, pois “aquilo que a sustenta é uma leitura conjunta sobre as políticas da austeridade, que foram desastrosas para o país”.
A antiga deputada do Bloco de Esquerda, hoje membro da Associação Fórum Manifesto, considera que os últimos quatro anos de “política austeritária de direita” deixaram o país “num estado como nunca se viu” e que “não resolveram nenhum dos problemas” que assombram Portugal. “A austeridade não resolveu o problema da dívida, não resolveu o problema do investimento, não resolveu o problema do emprego ou do combate à pobreza”, enumera.
Verdade é que as exigências das instituições europeias continuam a surgir, mas essa “é uma pressão que nós sabíamos que viria de qualquer forma”. Ainda assim, diz, “o que é necessário é encontrar as margens de negociação e ter força a nível interno para não destruir o projeto de desenvolvimento e democracia que o país tem”. Quando confrontada com o “excessivo otimismo” que a Comissão Europeia destaca no Orçamento do Estado, Ana Drago lembra que “não pode haver uma equivalência entre rigor e prudência com a austeridade”, sustentando que “a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu tornaram-se instituições que querem aplicar políticas neo-liberais que não foram defendida pela maioria dos portugueses”.
E seria Marcelo o Presidente da República necessário para uma altura como estas? A resposta é perentória: “Fui apoiante de Sampaio da Nóvoa. Creio que era o presidente necessário. Era o homem que tem a capacidade e a visão para os tempos que Portugal está a atravessar”. “É preciso erradicar a pobreza, dar oportunidades iguais a todos, ter um processo de solidariedade interno que seja capaz de responder aos idosos, aos mais pobres e às crianças. Isso ainda não está feito e Sampaio da Nóvoa tinha essa visão sobre o que falta completar nesse projeto”, acrescenta.
Marcelo, por seu lado, “fez uma campanha baseada no papel de miss Simpatia". "Ele é obviamente uma pessoa simpática e culta, mas não apresentou um projeto para o país e agora está concentrado em reconstituir um bloco central, que eu creio não responder aos constrangimentos que a sociedade portuguesa vive”.
Ainda sobre o fenómeno do feminismo na política, é com “exclamação” que Ana Drago reage ao maior destaque e importância que as mulheres vão tendo no panorama político. “Finalmente as mulheres são levadas a sério no campo político e, nesse sentido, devo dizer que o Bloco teve um papel extremamente importante porque fez uma escolha de ter vozes plurais no confronto político. Esse trabalho teve resultados e hoje, uma parte relevante das pessoas que estão hoje nos projetos políticos são mulheres e é natural que assim seja, porque as mulheres são tão capazes como os homens”.