O primeiro debate quinzenal da sessão legislativa desta quinta-feira ficou marcado por uma conturbada troca de acusações entre bancadas.
O tema da intervenção do Governo foi o documento que fundamenta o Orçamento do Estado, com as "linhas orientadoras das Grandes Opções do Plano para 2017".
Um plano demasiado otimista aponta o PSD, com Passos Coelho a acusar António Costa de retratar a realidade "como se ela fosse outra" e a comparar a atitude do primeiro-ministro ao seu antecessor socialista, José Sócrates.
"Lembro-me de o que o seu colega primeiro-ministro de então dizia em 2010 é muito parecido consigo, não demorou muito e estava a propor o aumento dos impostos como os senhores agora fazem, o corte do investimento público, o corte das prestações sociais e o governo seguinte que trate de limpar a casa. Há uma coisa que eu lhe garanto: esta parte da limpeza será mesmo vossa excelência que terá o prazer de a fazer", disse o líder do PSD.
Na resposta, António Costa gracejou ter "muito gosto em fazer limpezas", mas esta seria apenas a primeira pedra destinada a atingir Passos e restante oposição.
Na sequência de uma intervenção proferida pelo líder da bancada socialista, Carlos César, procurando colocar em contraponto a atuação da Oposição e o rumo do Governo, António Costa deixou o seguinte comentário: "Não precisamos de nos distrair em relação à nossa missão".
"Não nos distraímos a ler livros de mexericos de que fomos convidados a apresentar. Nem temos de andar a ler à pressa o guia das ruas de Lisboa para conhecer a cidade”.
Palavras proferidas por Costa numa alusão ao livro da autoria de José António Saraiva que Passos, entretanto, se desobrigou a apresentar, e também à candidatura da líder do CDS à Câmara de Lisboa.
Por sua vez, Assunção Cristas questionou o primeiro-ministro sobre a proposta de imposto sobre património imobiliário que foi anunciado na semana passada pelo Bloco de Esquerda e pelo PS no Parlamento e sobre o acesso do Fisco a contas bancárias acima dos 50 mil euros.
“Está do lado aqueles que não acham bem que a pessoa poupe, invista - sim senhora, crie riqueza - , deixe para os seus filhos, se está do lado daqueles que acreditam que é possível progredir na vida e que, portanto, não quer acabar com a riqueza?”, indagou.
A polémica em torno do potencial novo imposto está lançada e a discussão continua fora do Parlamento. Num texto de opinião no jornal Avante!, o líder parlamentar do PCP, João Oliveira, sugeriu: “andam uns a juntar com o bico e outros a espalhar com as patas...".
E para juntar à discussão… Um relatório do FMI
Esta quinta-feira o FMI recomendou que o Governo socialista aplique em 2017 medidas de austeridade de 0,5% do PIB, cerca de 900 milhões de euros, focando-se nos salários e pensões da função pública.
Num relatório sobre as contas do país, o fundo insistiu que são precisas "mais medidas adicionais" para que Portugal cumpra a meta do défice com que se comprometeu para este ano, de 2,2% do PIB.
Como seria de esperar estes avisos foram encarados de forma distinta de parte a parte. O líder parlamentar socialista, Carlos César, desvalorizou. Esta organização "não trabalha em Portugal nem é um gabinete do Governo" e ao longo dos anos teve "sucessivas falhas nas previsões", comentou.
Já líder parlamentar social-democrata, Luís Montenegro, diz que este relatório é prova dos “falhanços" da governação de António Costa, que está em "absoluta negação".