"Não cheguei a autarca porque recebi das mãos de alguém o cargo"

O entrevistado de hoje do Vozes ao Minuto é Paulo Vistas, presidente da Câmara Municipal de Oeiras. A trabalhar na autarquia há 20 anos, Paulo Vistas conversou com o Notícias ao Minuto sobre as eleições autárquicas que se vão realizar a 1 de outubro.

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Patrícia Martins Carvalho
03/04/2017 08:30 ‧ 03/04/2017 por Patrícia Martins Carvalho

Política

Paulo Vistas

Paulo Vistas descreve-se como um homem do concelho e é neste concelho que exerce o cargo de autarca há quatro anos.

A cerca de meio ano das eleições autárquicas, Paulo Vistas diz não recear a concorrência, mesmo que tenha como adversário Isaltino Morais, o ex-presidente da Câmara de quem foi 'vice'.

Critico da legislação no que diz respeito às candidaturas independentes, este oeirense é otimista e acredita que a lei é algo que irá mudar de forma natural.

Para já, Paulo Vistas concorre como independente, embora não descarte o apoio de partidos que queiram associar-se ao seu projeto Oeiras Mais à Frente que mantém o 'I', mas é de Independente e não de Isaltino

Não cheguei a presidente de câmara porque recebi das mãos de alguém o cargo de presidente. Recebi o cargo de presidente pelo voto dos eleitores em 2013Como foi suceder a um autarca tão popular como Isaltino Morais?

Foi um bom desafio. É sempre bastante desafiante e exigente suceder a um autarca como o dr. Isaltino Morais que governou esta Câmara durante 30 anos.

Encontrou alguma dificuldade em aproximar-se dos eleitores?

Eu cheguei a esta câmara em 1997, depois tive uma temporada fora e regressei como vice-presidente em 2005. Estive como ‘vice’ do dr. Isaltino entre 2005 e 2009 e de 2009 a 2013 e fui eleito. Às vezes as pessoas esquecem-se ou querem esquecer-se, mas eu fui eleito. Não cheguei a presidente de câmara porque recebi das mãos de alguém o cargo de presidente. Recebi o cargo de presidente pelo voto dos eleitores em 2013. Foi um processo de transição tranquilo, porque eu cheguei a ter 12 pelouros e praticamente trabalhei com todas as unidades orgânicas da casa. Havia já um universo de munícipes que me conhecia e contactava comigo regularmente.

Não tenho de forma alguma a arrogância para recusar o apoio de qualquer partidoEstá em vista ter o apoio de algum partido? Já recusou algum apoio?

Não, eu não tenho de forma alguma a arrogância para recusar o apoio de qualquer partido. O apoio dos partidos, seja ele qual for, é sempre bem-vindo. Mas não só dos partidos. Outras instituições que queiram associar-se a nós são bem-vindas. A união faz a força e quantos mais apoios tivermos mais força teremos.

Não há então nenhum partido no momento?

Não.

Há outros candidatos que optam por concorrer de forma independente. É um sinal de que a máquina partidária está saturada?

Não. É sinal que a democracia não se esgota nos partidos. Os partidos têm uma importância grande naquilo que é o exercício da democracia e foram fundamentais no pós-25 de Abril para a consolidação da nossa democracia, mas a democracia não se esgota nos partidos.

Mas não é um sinal de que os candidatos não se revêem nos partidos?

Ao nível autárquico cada vez mais as pessoas não votam nos partidos, votam nas pessoas. Temos vários exemplos que comprovam isso. A nível autárquico, cada vez mais o sucesso dos partidos não depende da força dos partidos, mas sim da força do candidato que os partidos escolherem. O eleitor quando vota, não vota em função deste ou daquele partido – poderá haver uma pequena percentagem que o faz – mas penso que, na esmagadora maioria, a avaliação que as pessoas fazem é da pessoa e alguns, eventualmente, da lista que esse candidato apresentar.

Será este o futuro das eleições autárquicas. Pessoas e não partidos?

Acho que vai continuar a haver pessoas nas listas dos partidos e vai continuar a haver cada vez mais pessoas a concorrer de forma independente. Embora possa dizer que a legislação ainda é injusta para com os movimentos independentes. Os movimentos de cidadãos independentes têm de suportar o IVA na sua totalidade, os partidos não precisam de recolher subscrições e no caso de Oeiras, um movimento como o meu tem de recolher no mínimo 7.500 assinaturas. Ainda há na legislação um caminho árduo para os movimentos independentes comparativamente com o caminho dos partidos, mas é algo que com o tempo se vai resolvendo e no futuro teremos cada vez mais as duas formas de se apresentarem candidatos.

Preocupado com Isaltino? Quanto mais e quão melhores candidatos Oeiras tiver mais positivo é para o processo eleitoralO movimento deixou de ser Isaltino e passou a ser Independentes...

Neste momento o movimento ainda não está criado porque ainda não temos a totalidade das assinaturas. O que permanece no tempo não é o movimento, é a associação. Temos uma associação que foi fundada pelo dr. Isaltino e por mim e por muitas outras pessoas após as eleições de 2005. Associação essa da qual eu fui sempre o presidente da direção e o dr. Isaltino presidente da Assembleia-geral. A associação chama-se Oeiras Mais à Frente. O nome do movimento ainda não está definido, mas queremos dizer às pessoas aquilo que somos: Independentes, Oeiras Mais à Frente.

Preocupa-o que Isaltino se possa candidatar?

Quanto mais e quão melhores candidatos Oeiras tiver mais positivo é para o processo eleitoral. E o dr. Isaltino é um bom candidato. Se o combate for feito de forma elevada todos ganham.

Mas Isaltino não é um candidato como os demais…

Isso pode ser uma vantagem ou uma desvantagem...

E parece-lhe que é uma vantagem ou uma desvantagem?

Não sei, o futuro o dirá. Eu tenho muito orgulho no passado. Mas o combate hoje é com o futuro e portanto o passado é passado. Aquilo que no próximo ato eleitoral vamos tratar é do futuro. Todos temos vantagens, todos temos pontos fortes e espero sinceramente que seja um combate eleitoral saudável, onde as ideias se possam confrontar e as opiniões divergir. Mas acima de tudo o que eu acho fundamental é que os eleitores fiquem com a noção exata daquilo que cada um dos candidatos pode trazer de mais-valia para o futuro de Oeiras.

Isaltino falou com os presidentes de junta. Isso deixou-o de alguma forma incomodado?

Nós somos homens livres, portanto, somos livres de falar com quem entendemos. Felizmente vivemos numa sociedade livre onde é possível falarmos com quem pretendemos e não há qualquer tipo de receio nesse sentido.

Disse que não fez tudo o queria neste mandato. O que ficou por fazer?

Quem se dá por satisfeito não tem perfil para autarca. Eu sou uma pessoa constantemente insatisfeita. Todos os dias quero mais. Pese embora tenhamos feito muito, e fizemos, nunca estamos satisfeitos, queremos sempre fazer mais. Mas de qualquer maneira é positivo dizer que a totalidade dos compromissos que assumimos com os eleitores em 2013 vão ser cumpridos. Grande parte já está cumprida e até ao final do mandato o restante será cumprido, como é o caso da aquisição do Centro de Congressos, Feiras e Exposições da Quinta da Fonte e do Centro de Formação Profissional da Outurela.

Quem governa para um ciclo de quatro anos nunca acrescenta o valor que deveria acrescentar à gestão autárquicaQue compromissos vai assumir na nova campanha?

O compromisso mais importante é continuar a trabalhar, mas acima de tudo o compromisso de envolver as pessoas na gestão autárquica. Em 2013 o meu compromisso com os eleitores foi ser candidato para 12 anos e não para quatro anos. Nós planeamos no médio-longo prazo. Quem governa para um ciclo de quatro anos nunca acrescenta o valor que deveria acrescentar à gestão autárquica.

Mas isso pode ser um risco…

É claro que tem um risco, porque quando se planeia no médio-longo prazo as coisas não acontecem no imediato e, por isso, há sempre uma primeira avaliação negativa por parte dos eleitores. Mas eu acho que se queremos verdadeiramente deixar uma boa herança às gerações futuras não podemos governar com base numa visão de quatro anos. Em 2013 o que prometi foi ser candidato para 12 anos e, portanto, em 12 anos com certeza que vai ser bastante visível a marca desta governação.

*Pode ler a segunda parte desta entrevista aqui

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