Em entrevista à RTP, Ramalho Eanes disse: “Estou convencido de que com esta iniciativa do presidente, tão criticada, mas tão ousada e correta, vamos poder sair da situação de crise”.
Na quarta-feira, Cavaco Silva propôs, numa comunicação ao País, um "compromisso de salvação nacional" entre PSD, PS e CDS que permita cumprir o programa de ajuda externa e eleições antecipadas a partir de Junho de 2014.
Porém, Eanes avisou: “Há uma coisa que não pode ser esquecida, em todas as mesas tem de haver o pão necessário, o mínimo necessário”. Caso contrário, “o perigo de uma explosão social existe”.
A este propósito, Eanes considerou que “os portugueses têm-se portado muito bem”, acrescentando: “Em meu entender, demasiado bem”.
Esperançado em que a reforma do Estado possa ser negociada, o ex-presidente considerou-a “indispensável”, porque, justificou, “não é possível, com a economia como está e vai estar nos próximos tempos, ter um Estado social, pagar juros altíssimos, ter ainda empresas público-privadas e o Estado paralelo que foi agora denunciado”.
Mas também avisou que a reforma tem de ser feita a um ritmo que a sociedade portuguesa permita: “Temos de fazer a reforma segundo o nosso ritmo, que a nossa sociedade permite”.
Eanes sugeriu ainda que os portugueses devem actuar, exemplificando com o caso das críticas aos partidos políticos, em que estas deviam ser seguidas por inscrições dos críticos nas organizações partidárias “para as modificar por dentro”, realçando que esta “é uma responsabilidade que cabe a todos”.
A entrevista de Ramalho Eanes foi o terceiro momento de terça-feira em que um ex-Presidente se pronunciou sobre a crise actual, depois dos socialistas Mário Soares e Jorge Sampaio.
Soares, no seu artigo semanal no Diário de Notícias, considerara que “a prioridade das prioridades consiste na demissão do Governo” e que um acordo entre os três partidos será “uma impossibilidade aparente”, apenas possível “se o PS fosse dirigido por alguém que não tivesse senso”.
Sampaio, por sua vez, defendeu, à margem de um encontro de solidariedade com estudantes sírios, que “é preciso, quaisquer que sejam as formas encontradas, reforçar a capacidade de negociação internacional [de Portugal] e assegurar ao mesmo tempo que [se consiga] viver numa democracia que não fica populisticamente destruída e com (…) coesão social”.
Este ex-Presidente da República insistiu na necessidade de “encontrar uma forma de cooperação, seja ela qual for”, manifestando “esperanças positivas de que isso seja possível”, recusando-se a dizer mais “em relação a uma chamada negociação que está em curso”.
Para Sampaio, as conversações “podem chegar a compromissos, que são desejados”, mas insistiu que não iria falar sobre “quais são as soluções”.