Devil May Cry 5: O caminho foi longo mas a espera valeu a pena
Três personagens jogáveis contribuem igualmente para aquele que será considerado como um dos melhores títulos da série ‘Devil May Cry’.
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Tech Análise
Devil May Cry’ é uma daquelas séries que, mesmo não esteja entre as mais reconhecíveis como ‘Call of Duty’ ou ‘Assassin’s Creed’, será sempre de ‘primeira linha’. Resultante de uma versão abandonada de ‘Resident Evil 4’, o ‘Devil May Cry’ original veio a revolucionar os jogos de ação e acabou por abrir caminho para séries como ‘God of War’ ou ‘Bayonetta’.
Depois de quatro jogos, ‘Devil May Cry’ foi colocado em suspenso depois de a editora e produtora Capcom decidir entregar a série à Ninja Theory, acreditando que o estúdio britânico poderia revitalizar a série. O resultado surgiu em 2013 com ‘DmC: Devil May Cry’, uma reinterpretação da série elogiada pelos críticas mas vista com maus olhos pelos fãs, que se sentiram colocados de parte pela Capcom que procura uma outra audiência.
Foi em junho de 2018, durante a E3, que a Capcom revelou ‘Devil May Cry 5’. O facto de ser um título numerado não deixou margens para dúvidas que a produtora nipónica estava de regresso à fórmula original, com o trailer mostrado a também ter colocado as expetativas dos fãs nos píncaros com ação rápida, frenética e com o habitual estilo arrojado que tornou a série famosa.
Já habituados a terem de gerir as expetativas com trailers lançados na E3, os fãs esperaram pacientemente pela chegada ao mercado para lançar o seu veredito. No Tech ao Minuto encontramo-nos entre esses fãs e foi com alegria que, depois de jogarmos a apenas alguns minutos a ‘Devil May Cry 5’, nos apercebemos que a série está definitivamente de volta. Dante, Nero, Trish, Lady estão de volta em melhor forma que nunca acompanhados de novas personagens que ajudam a enriquecer o universo da série. Sim, estamos a olhar para ti Nico Goldstein.
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Em vez de se contentar em lançar mais um jogo da série, com ‘Devil May Cry 5’ a Capcom procurou ‘atar as pontas’ do reconhecidamente vago enredo da série. É notória a preocupação dos produtores em responder às principais questões deixadas no ar pelos jogos anteriores, com a relação entre Dante e Nero (por exemplo) a ser bem mais explorada. Lady e Trish ficam um pouco mais de lado do que seria desejável mas, tendo em conta que o foco está desde o início na dupla de caçadores de demónios, a falta não é sentida de forma tão flagrante.
A abordagem da Capcom à narrativa de ‘Devil May Cry 5’ também é digna de nota. Outrora profundamente linear, a série adotou desta vez uma abordagem com diferentes períodos temporais em que ação salta de constantemente de trás para a frente. A ajudar está o facto de o jogador controlar três protagonistas diferentes: Nero, Dante e o misterioso V.
Tudo começa em Red Grave City com o jogador a tomar controlo de Nero que, na companhia de V, se junta a Dante no combate a um demónio de nome Urizen, numa luta que os fãs poderiam pensar que seria facilmente vencida pelo lendário caçador de demónios. Surpreedentemente as coisas não correm bem e Nero é obrigado por V a recuar enquanto Dante fica para trás. A ação retoma um mês depois, com Nero e Nico a regressarem a uma Red Grave completamente tomada por demónios onde devem recuperar o poder necessário para derrubar Urizen.
A série ‘Devil May Cry’ nunca teve a narrativa como ponto forte mas, como já referimos, este quinto capítulo pode muito bem ser o melhor neste departamento. Não só ficam respondidas algumas das questões mais duradouras da série como também se nota que a história segue verdadeiramente em frente. Obrigatório para os fãs de ‘Devil May Cry’.
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A ‘santa’ trindade
No passado a série ‘Devil May Cry’ também recebeu críticas de ter uma jogabilidade demasiado repetitiva. Tendo apenas Dante como personagem jogável, era difícil levar estes apontamentos a sério nos primeiros três jogos da série, tendo sido só em ‘Devil May Cry 4’ que a Capcom implementou mais alguma variedade com a introdução de Nero e do seu (suspeito) braço demoníaco.
Nero pode ser visto como o protagonista principal de ‘Devil May Cry 5’, algo que os fãs do jovem caçador de demónios não terão qualquer problema se jogaram ao antecessor uma vez que se joga praticamente da mesma forma. Mesmo sem o seu braço demoníaco – que foi arrancado antes do início da história por um estranho homem encapuzado – Nero tem acesso a uma série de braços robóticos cada um com a sua habilidade específica. Enquanto um pode ajudar Nero a esquivar-se de ataques no ar, outro braço pode ser ‘surfado’ como se fosse uma prancha e outro ainda pode parar o tempo.
Todos têm a sua utilidade mas o mais certo é não ficar com eles por muito tempo, uma vez que podem partir-se se Nero sofrer dano enquanto está a realizar um ataque ou até mesmo escolher destruí-los para sair de uma situação mais apertada. Note-se porém que o jogador pode comprar novos braços antes de uma missão e até encontrá-los no cenário mas está impedido de trocar entre eles livremente, numa limitação deliberada que impede o jogador de cair na repetição e obriga-o a pensar em novas estratégias e combinações de ataques. Para todos aqueles que consideravam Nero mais aborrecido que Dante, ‘Devil May Cry 5’ coloca Nero no patamar que lhe pertence.
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E falando de Dante, o protagonista original da série continua tão completo e ‘over the top’ quanto estava à espera. Além da multiplicidade de armas a que tem acesso, Dante continua a ter ao seu dispor quatro estilos de combate. Trickster permite esquivar com mais facilidade, Swordmaster e Gunslinger disponibilizam mais ataques para armas corpo a corpo e de fogo (respetivamente) e Royalguard para os jogadores com maior capacidade de manter a cabeça fria e aguentar ataques para ripostar na altura certa.
Dante é um autêntico canivete suíço, com um estilo versátil que se encaixa em praticamente qualquer jogador. Nesse sentido, pode ser a personagem mais fácil ou, por outro lado, complexa de se jogar uma vez que pode cingir-se a um estilo ou usar todos os recursos à sua disposição, com múltiplos ataques que deve combinar para atingir o ranking máximo SSS – Ou ‘Smoking Sexy Style’ – na habitual ‘dança mortal’ pela qual a série é conhecida. É com Dante que ‘Devil May Cry 5’ está no topo do seu potencial e no mais próximo possível da visão original.
Neste sentido, V é o completo oposto de Dante. Não nos interprete mal, porque V é uma adição relevante e ‘on point’ que é responsável por uma muito desejada evolução na jogabilidade da série. A jogabilidade continua frenética com V mas ganha contornos mais táticos e estratégicos uma vez que o próprio V praticamente não participa na ação. Em vez dele lutam os ‘subordinados’ Shadow e Griffon, uma pantera e corvos demoníacos que podem ser vistos como o equivalente de pistola e espada de V.
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Isto faz com que jogar com V seja uma ação bem diferente do que acontece com Nero e Dante. O jogador controla Shadow e Griffon à distância, preocupando-se não só com os seus medidores de ‘saúde’ (terá apenas de esperar um pouco que retornem à vida caso este medidor chegue a zero) como de V. Convém portanto que esteja atento ao posicionamento dos inimigos mas também da própria personagem, que tem sempre de desferir o golpe fatal. É uma gestão de risco interessante. Não convém ficar demasiado na periferia de um combate porque de um momento para o outro terá de se aproximar, com esta proximidade a também acelerar a recuperação de vida de Shadow e Griffon. Há ainda um terceiro demónio de nome Nightmare, que poderá ser chamado pelo jogador quando o medidor ‘devil trigger’ se encher e que ajudará a aliviar algumas situações mais tensas.
Mais interessante é o facto de os estilos de combate de Nero, Dante e V refletirem as personalidades das próprias personagens e a própria ‘trindade’ que faz do combate de ‘Devil May Cry’ tão interessante e viciante. Enquanto Nero é mais agressivo e tem o combate todo assente em estar frente a frente com inimigos, Dante é o típico caso de estilo em vez de substância onde mais é sempre melhor. Por outro lado, V representa um lado mais estratégico e que mostra como ficar calmo e estar confiante nas suas capacidades.
‘Devil May Cry 5’ continua a estar organizado na habitual estrutura de missões, com todas elas a demorarem sensivelmente entre 8h a 10h para completarem. No entanto, e porque se trata de um ‘Devil May Cry’, os jogadores terão incentivos para regressar uma vez que há novos níveis de dificuldade para conquistar, ataques para comprar, fatos para ganhar e missões secretas espalhadas pelos cenários para completar. Com o prometido modo Bloody Palace a ser lançado no início de abril, é mais que certo que os fãs tenham oportunidade para polir as suas habilidades quanto quiserem para exibirem online.
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Como pode ver pelas imagens acima, o grafismo de ‘Devil May Cry 5’ está no seu melhor nível. Com o mesmo motor de jogo de ‘Resident Evil 7’ e ‘Resident Evil 2’, ‘Devil May Cry 5’ exibe um detalhe que muitos jogos de outros géneros dos dias de hoje ainda não alcançaram. Apesar disso, a ação decorre fluída, com o ecrã repleto de inimigos e uma iluminação de fazer inveja. Nunca deixa de ser um jogo bonito de se admirar e isso é sempre bom ter como seguro. Nota ainda para a banda sonora e atuações vocais, eletrizante e dramáticas (respetivamente) capaz de manter a ação ‘afinada’ e o compromisso com a história no devido lugar, dando espaço a alguns momentos que decerto terão os fãs em polvorosa.
Considerações finais
‘Devil May Cry 5’ acerta naquilo que se pede de um novo jogo de uma série do seu ‘pedigree’. Dante e Nero são os motivos porque volta a jogar a um ‘Devil May Cry’ enquanto V lhe dá algo de novo para, num primeiro momento, debater e, por fim, abraçar por inteiro. As críticas de que a série tem sido alvo ao longo dos anos foram rebatidas da melhor forma naquilo que será, na opinião de muitos, como o melhor ‘Devil May Cry’ alguma vez lançado. Foi um longo caminho para os fãs mas a espera compensou.
Pontos fortes
- Combate variado com três personagens jogáveis;
- Enredo responde a algumas perguntas de longa data da série;
- Grafismo detalhado e fluído;
- Habitual estilo ‘over the top’;
Pontos fracos
- Destruição dos cenários pode tornar-se repetitiva;
- Trish e Lady pediam mais atenção;
- Alguns bosses podiam ser mais memoráveis;
Ideal para…
Os fãs da série sentir-se-ão em casa com ‘Devil May Cry 5’ assim como todos aqueles que já encontraram prazer com jogos do mesmo género. Mesmo aqueles que criticaram a falta de variedade presente nos títulos antecessores encontrarão aqui algo para ‘tirarem teimas’.
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