Na terça-feira, ao discursar no Estado do Texas, Trump, na que foi a sua primeira aparição pública depois do ataque ao Capitólio, disse que "a liberdade de expressão está sob um ataque sem precedentes".
Em Wall Street, no mesmo dia, entre as empresas que se afastaram de Trump depois do ataque ao Congresso, a Facebook perdeu 2,24% e a Twitter 2,35%, depois de terem bloqueado as contas de Trump, tal como a Alphabet (-1,14%) e a Apple (-0,14 %), que retiraram das suas lojas virtuais a rede social Parler, utilizada pelos conservadores.
No caso particular da Twitter, desde que suspendeu Trump, a cotação das suas ações não parou de cair.
Já na segunda-feira, o seu título tinha perdido mais de seis por cento - e o da Amazon quatro por cento -, com os investidores preocupados com a expulsão de Trump, porque receiam que faça perder o interesse na plataforma e levar muitos dos seus seguidores para outras.
Na sexta-feira, a Twitter anunciou a suspensão permanente da conta de Trump, que tinha mais de 88 milhões de seguidores.
A empresa, que tinha bloqueado temporariamente a conta depois de Trump ter justificado ataque ao Capitólio por parte dos seus seguidores, decidiu tornar o veto permanente, dado o risco de "um maior incitamento à violência", depois de mais mensagens deste.
O movimento gerou críticas à Twitter, desde logo entre os conservadores dos EUA, que denunciaram uma alegada censura da empresa, que durante anos se recusou a censurar mensagens de Trump, incluindo quando divulgavam teorias da conspiração ou incitavam ao ódio, por considerar que eram de interesse público, dada a sua condição presidencial.
Mas a sua decisão deu também início a um debate sobre o poder das grandes empresas tecnológicas na condução do discurso público.
Isto é, a decisão de excluir Trump, tomada também por Snapchat e até Shopify, foi a parte fácil.
Agora, pergunta-se: vão estas empresas manter o padrão face a outros líderes internacionais? Vão aprofundar o condicionamento sobre o que é ou não permitido nas suas plataformas, arriscando-se a alienar grande parte da sua base de utilizadores? Irá isto agravar ainda mais a fragmentação nas redes sociais, levando os que simpatizam com perspetivas extremistas para sítios marginais ou grupos de conversação secretos?
Para já, esta situação, de banir Trump, provocou acusações, se bem que infundadas, de censura e de enviesamentos políticos, de esquerda. Até atraiu criticismo de líderes europeus, como a chanceler alemã, Angela Merkel, que não é propriamente uma pessoa amiga de Trump.
O porta-voz de Merkel, Steffen Seibert, disse que a liberdade de opinião é um direito fundamental de "significado elementar".
No seu entender, "este direito fundamental pode ser objeto de intervenção, mas dentro da lei e no quadro definido pelos legisladores - não como decisão tomada pela gestão das empresas das redes sociais", disse a jornalistas, em Berlim.
"Nesta perspetiva, a chanceler considera problemático que as contas do presidente dos EUA tenham sido bloqueadas permanentemente", acrescentou.
Contudo esta perspetiva alemã, de ser a lei e o governo a decidirem o que conta como discurso perigoso nas plataformas sociais, encontra dificuldades os EUA. Com efeito, aqui a Primeira Emenda da Constituição protege a liberdade de expressão da interferência governamental, mas, de facto, não da política empresarial em plataformas detidas por privados.
Claro que os governos continuam livres para regular os conglomerados tecnológicos, o que tem sido outra área de tensões e polémicas.
Contudo, Sarita Schoenebeck, professora na Universidade do Michigan, que tem trabalhado o tema do assédio em linha, disse que talvez seja tempo de estas plataformas reavaliarem a forma como abordam o material problemático nos seus sítios.
E Jared Schroeder, que trabalha sobre redes sociais e a Primeira Emenda na Universidade Metodista, pensa que a exclusão de Trump vai encorajar os seus seguidores a irem para outras plataformas sociais onde se podem organizar e comunicar ainda com menos restrições.