'Returnal'. Um jogo frenético que 'brilha' na PlayStation 5

O estúdio Housemarque é o responsável por um dos primeiros exclusivos da PlayStation 5. O estúdio manteve-se fiel ao seu ADN e eleva o padrão de qualidade a que tem vindo a habituar.

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© Sony Interactive Entertainment / Housemarque

Miguel Patinha Dias
29/04/2021 13:01 ‧ 29/04/2021 por Miguel Patinha Dias

Tech

Análise

A Sony teve um início promissor com a PlayStation 5. A empresa japonesa confirmou que a consola de nova geração já vendeu 7.8 milhões de unidades desde o lançamento. É um bom número que, todavia, contrasta com o número de exclusivos da plataforma nestes primeiros meses.

Enquanto primeiro exclusivo da PlayStation 5, ‘Returnal’ e o estúdio Housemarque têm uma grande responsabilidade às suas costas mas, depois de passarmos algumas horas presos no planeta Atropos, consideramos que a espera valeu a pena. ‘Returnal’ não é só um bom jogo mas também tudo aquilo que podíamos querer de um exclusivo da consola da Sony na medida que aproveita ao máximo as capacidades da plataforma.

Em ‘Returnal’ o jogador controla Selene, uma astronauta que encalha no planeta Atropos e que cedo se apercebe que está num ‘time loop’ - sempre que Selene morre, volta para a nave momentos depois de se ter despenhado. Este regresso ao início não se trata de um simples ‘checkpoint’, uma vez que todos os percursos explorados até aí são diferentes, tal como todos os itens, recursos e inimigos. Sempre que o jogador morre, deverá estar preparado para lidar com um conjunto de obstáculos completamente diferente da tentativa anterior.

Sim, ‘Returnal’ é o que se chama um roguelike, um género altamente polarizado devido às suas caraterísticas muito específicas. A repetição, a aleatoriedade e o foco na jogabilidade que coloca (muitas vezes) a narrativa em segundo plano são frequentemente criticadas em jogos como ‘Returnal’ mas, felizmente, foi algo que não encontrámos no novo jogo da Housemarque.

Ainda que este jogo tenha como base o género ‘roguelike’, a Housemarque foi buscar também uma série de inspirações a outros títulos que faz com que ‘Returnal’ tenha um ‘sabor’ completamente diferente dos restantes. A vertente de exploração, por exemplo, parece ter em Metroid uma inspiração clara, com os mapas a serem uma evidência. Além disso, para avançar para determinadas áreas, o jogador terá de apanhar certos itens-chave (um sabre de luz para cortar vinhas, um gancho para alcançar plataformas inacessíveis, etc) que o acompanham mesmo depois da morte.

Notícias ao Minuto© Sony Interactive Entertainment / Housemarque

Em vez da habitual dinâmica de um ‘roguelike’ de explorar todo o cenário, em ‘Returnal’ temos uma exploração mais focada e objetiva. Tal como em ‘Metroid’, ao adquirir um novo item fica evidente o percurso que se deve seguir e as possibilidades que estes abrem. O resultado é uma progressão mais recompensadora o que, para um jogo deste género, é uma verdadeira conquista.

Mesmo que saiba o que deve fazer e para onde deve ir, isso não significa que deva ir ‘direto ao assunto’ e não explorar nenhuma das áreas. Há bons motivos para estar atento aos cenários de forma a obter mais vida, encontrar/melhorar as armas e até conseguir itens que o possam ajudar a chegar mais longe. A vertente de exploração também é ajudada por um sistema de teletransporte, que faz com que consiga cobrir grandes distâncias numa questão de poucos segundos. É apenas um dos momentos em que quererá agradecer ao poder de processamento da PlayStation 5, que mantém todos os tempos de carregamento reduzidos ao mínimo.

A gestão de que itens deve apanhar ou deixar para trás é especialmente interessante em ‘Returnal’. É comum em qualquer ‘roguelike’ fazer escolhas a respeito do equipamento e dos itens que se quer para determinada tentativa mas, no caso de ‘Returnal’, esta é uma gestão que deve ser feita de uma forma ainda mais cuidada.

Isto porque não é certo que todos itens que encontrará o ajudarão a progredir, sendo que alguns estão contaminados e podem danificar certos aspetos do fato de Selene. Para os ‘limpar’ terá de usar itens relativamente raros, algo que nem sempre poderá fazer sem ter um risco associado como receber dano em quedas ou ter outro tipo de desvantagem em combate.

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Frenético e dinâmico, fiel à Housemarque 

Falando nisso, é no combate que o estúdio Housemarque consegue realmente ‘brilhar’. ‘Dead Nation’, ‘Alienation’ e ‘Resogun’ já eram boas garantias do que podíamos encontrar em ‘Returnal’ mas (novamente) a produtora volta a brilhar em grande. Em ‘Returnal’ é tão importante infligir dano aos inimigos como evitar os projéteis que estes lançam na direção do jogador. Em ‘Returnal’ é importante ter uma ideia do ambiente e da localização de todos os seus elementos, uma vez que não quererá estar a tentar recuar quando tem uma parede atrás de si.

Returnal’ faz até lembrar os segmentos de ‘bullet hell’ da série Nier em situações mais caóticas, obrigando o jogador a adotar um posicionamento altamente preciso para a barra de vida não sofrer. Há ainda o facto de o jogador ganhar “adrenalina” por matar inimigos em sucessão sem receber dano, o que lhe concede um melhor desempenho durante a luta.

Trata-se de um sistema de combate altamente dinâmico onde as decisões são tomadas numa fração de segundos e que, ao início, poderá ser difícil de lidar devido à exigência de uma postura mais agressiva do jogador. Esta agressividade e necessidade de constante movimento é enaltecida ainda mais pelo facto de os recursos deixados por inimigos mortos (e que podem ser usados para fabricar itens) desaparecerem numa questão de segundos. Ficar num só lugar é, sem dúvida, uma opção mas é provável que não dê tantos ‘frutos’ a longo prazo.

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Uma palavra ainda para a forma como ‘Returnal’ evita cair em alguns dos maiores erros de jogos do género. Enquanto em outros títulos o jogador é obrigado a defrontar alguns dos mesmos ‘bosses’, em ‘Returnal’ o jogador pode evitá-los caso já os tenha defrontado e continuar a progredir no jogo. Mesmo que acabe por ‘violar’ o conceito de um ‘roguelike’, ‘Returnal’ consegue assim um ponto de compromisso para evitar tornar-se demasiado repetitivo ou frustrante para, ao mesmo tempo, não ter problemas em manter a dificuldade na jogabilidade.

Outro benefício desta decisão é manter os bosses ameaçadores. Sempre que é necessário lutar um 'boss' para progredir é certo que o jogador se vai sentir amedrontado e, felizmente, nunca perde o impacto. O mesmo não se pode dizer dos inimigos que, à medida que vão sendo eliminados, também perdem o fator de perigo que tinham ao início. Felizmente, cada um dos biomas apresenta o seu próprio conjunto de inimigos e perigos, pelo que entrar num nova área se torna sempre um momento de apreensão.

Por fim temos de falar do grafismo e da forma como ‘Returnal’ tira partido das capacidades da PlayStation 5. Cada um dos biomas surge exemplarmente representado, com a densa selva do primeiro bioma e as suas tonalidades esverdeadas e azuladas a contrastarem fortemente com o deserto árido e vermelho do segundo bioma.

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Além dos já referidos inimigos e obstáculos distintos, cada uma das áreas tem a sua própria identidade visual e a PlayStation 5 é capaz de lhes fazer justiça, com uma resolução 4K e fluidez de 60fps a acompanhar. As partículas e os efeitos (como a névoa) nunca deixam de impressionar, tal como ver a força dos elementos dos diferentes biomas a refletirem a sua força no fato de Selene.

Returnal’ é também uma oportunidade de ver como tirar o melhor partido do comando DualSense, com os subtis efeitos de vibração a serem particularmente dignos de nota. Sejam os passos de Selene ou os vários projéteis lançados pelos inimigos, todos os elementos no ecrã se traduzem na perfeição para o comando para criar uma sensação de imersão única.

A Housemarque também conseguiu tirar partido dos gatilhos do DualSense. Ao pressionar o gatilho esquerdo até metade, o jogador poderá usar o modo principal de disparo da arma de Selene. Porém, se pressionar o gatilho até ao fim, será ativado o modo secundário mais poderoso. A habituação pode ser um pouco complicada (tal como grande parte do início do jogo devido à grande quantidade de itens) mas, em menos de nada, conseguirá alternar mais rapidamente entre os dois modos de disparo do que se a função tivesse associada a outro botão.

Notícias ao Minuto© Sony Interactive Entertainment / Housemarque

Considerações finais

Returnal’ é um daqueles jogos que tem a jogabilidade como principal argumento mas isso não significa que a narrativa esteja colocada de parte. As cedências que ‘Returnal’ faz no género ‘roguelike’ são precisamente para dar espaço para um desenvolvimento mais fluído do misterioso enredo.

Os segmentos de Selene na estranha casa que (por algum motivo) aparece enquanto está explorar Atropos são possivelmente tão tensos quanto os combates com monstros alienígenas. A sensação de familiaridade e de apreensão parece saída diretamente de ‘P.T.’ - a demonstração de ‘Silent Hills’ de Hideo Kojima que ficou por concretizar. Como saberão as pessoas que tiveram oportunidade de jogar a ‘P.T.’, esta é uma comparação que só abona a favor de ‘Returnal'.

Apesar de o somatório ser claramente positivo, nem tudo é perfeito em ‘Returnal’. As primeiras horas podem ser um pouco confusas (devido à quantidade de itens) e a verdade é que nem todas as armas são tão úteis como deveriam num jogo deste género (sobretudo as de curta distância). Ainda assim, o combate é de tal forma dinâmico que mesmo quando morrer terá certamente vontade de voltar a tentar ir mais longe.

Pontos fortes

- Combates dinâmicos e frenéticos;

- Grafismo e efeitos de excelência;

- Segmentos na casa de Selene;

- Tira partido do comando DualSense.

Pontos fracos

- Nem todas as armas são úteis;

- Primeiras horas podem ser ‘duras’;

Ideal para…

O género ‘roguelike’ é difícil de recomendar a quem não tenha paciência para grandes repetições. Porém, ‘Returnal’ procura reformular o género e torná-lo mais ‘acessível’ sem com isso retirar o desafio do combate ao proporcionar tiroteios frenéticos. Quem gostou de títulos anteriores da Housemarque continuará a encontrar uma experiência de alta qualidade, com ‘Returnal’ a também ser recomendado para quem goste de um bom mistério de ficção científica.

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