Esta foi uma das conclusões da conferência 'online' Inteligência Artificial e o Futuro do Jornalismo, que hoje se realizou em Lisboa, com a participação de vários especialistas na área.
"Tal como em muitas tecnologias há uma ameaça [da IA], particularmente para os media locais", disse Anita Zielina, diretora de iniciativas estratégicas da Craig Newmark Graduate School of Journalism, durante um painel sobre os impactos desta tecnologia no jornalismo.
"Se não têm dinheiro é quase impossível implementar os avanços tecnológicos sem ajuda exterior", salientou, apontando que deve ser questionada a forma de dar mais poder a estas organizações "e apoiá-las na implementação da tecnologia".
Por outro lado, Anita Zielina acredita que as empresas mais pequenas podem ter uma oportunidade com as novas tecnologias em termos de análise de informação e mesmo distribuição, alertando que há "tarefas repetitivas" das quais é preciso libertar os profissionais para um "jornalismo mais em profundidade".
Por sua vez, Rasmus Kleis Nielsen, diretor do Reuters Institute for the Study of Journalism referiu que, a nível da União Europeia, era preciso "fazer escolhas" sobre investimentos direcionados para grandes grupos, com mais capacidade de sobreviver ou para organizações mais pequenas.
"As iniciativas para estimular IA estão centradas em gerar escala o que é um problema para os grupos mais pequenos que não têm escala", ressalvou, no mesmo debate, Natali Helberger, professora de direito e tecnologia digital da Universidade de Amsterdão.
Quanto ao impacto na prática do dia-a-dia dos jornalistas, as opiniões convergiram: os profissionais têm de conhecer a tecnologia e saber tirar proveito dela.
"Estamos numa batalha por atenção no digital, espaço digital e para isso é preciso dominar o básico do IA", disse Vincent Peyrègne, presidente da WAN-Ifra Associação Mundial de Jornais e Editores de Notícias.
Os jornalistas "têm que controlar, têm de ser lidos, ter atenção", adiantou, salientando que "para isso têm que perceber não só de conteúdo, mas também de distribuição. Os jornalistas têm que ter controlo do IA, ao contrário de aconteceu com os publicitários", rematou. ?
"Estamos numa era em que, mesmo que sejamos da parte editorial, temos que estar cientes do negócio e da IA e do seu impacto", defendeu Anita Zielina.
Num outro painel, sobre casos práticos de uso desta tecnologia nas redações, Emilia Díaz Struck, coordenadora na América Latina do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação disse que a IA é importante para compilar e analisar os milhares de documentos com que a entidade normalmente trabalha e que, por vezes, têm uma elevada complexidade financeira.
"Não é mágico, leva tempo e envolve muita gente", salientou, vincando que é sempre preciso um processo aprofundado de verificação dos dados, que chega a envolver 11 pessoas.
Para Francesco Marconi, jornalista computacional, é "crucial investir nestes tipos de tecnologia porque serão a infraestrutura da informação", defendendo que esta "é a única forma de acompanhar a explosão de informação" a que se assiste.
"É humanamente impossível acompanhar esta enxurrada de informação", salientou.
A conferência continua esta quarta-feira, em sessões mais viradas para o serviço público, desinformação e democracia e políticas públicas.
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