Questionada sobre qual é o maior desafio da inteligência artificial neste momento, Daniela Braga apontou a "partilha segura de dados anonimizados entre [mercados] verticais porque o problema é que está toda a gente em cima de pilhas e pilhas de dados, sem conseguir tocar neles ou, tocando a medo, mas à procura de ferramentas de anonimização", que é uma das coisas que também a DefinedCrowd faz, "mas sempre tudo muito controlado".
Daniela Braga, que é especialista em inteligência artificial e integra o grupo de trabalho escolhido pelo Presidente norte-americano para definir uma estratégia nesta área nos Estados Unidos, defende que "seria muito interessante que dentro do mesmo vertical se pudessem partilhar dados anonimizados para fazer o avanço da área mais rapidamente".
Ou então, acrescentou, "até entre países, uma espécie de federação, alianças tecnológicas", porque, enquanto a partilha de dados estiver segmentada, a tecnologia não avança.
Este é um dos "problemas da Europa", em que "cada país tem" como o caso da Espanha e Alemanha, que "ainda têm as suas regiões mais restritas, as suas províncias, e cada província tem as suas regras de partilha de dados", aponta a responsável.
"Portanto, enquanto não se tirarem essas barreiras geográficas a tecnologia não avança rápido", alerta.
Atualmente, "cada um está por seu lado a tentar fazer alguma coisa individualmente em vez de criar alianças, isso vai ser muito difícil de ultrapassar, vai atrasar muito a tecnologia", remata.
Recentemente, em entrevista à Lusa, Daniela Braga tinha classificado que a estratégia portuguesa para a IA era uma declaração de intenções. Questionada como se passa à fase de concretização, a especialista foi perentória ao apontar "dinheiro", que pode passar por ser público, privado até capital de risco.
Mas não é só investimento, também é preciso saber como se faz esse investimento, o que pode passar por importar especialistas quer da Europa ou dos Estados Unidos para se poder perceber onde se vai apostar.
Sobre o 5G, Daniela Braga considerou que o atraso no leilão não é preocupante e referiu que o impacto da nova tecnologia não será tanto para o cidadão comum, mas sim para o setor tecnológico.
Relativamente ao contributo da IA nos media, Daniela Braga admite que já teve vários pedidos nesta área para resolver.
Desde aplicações que permitem a diarização - transcrição que identifica os intervenientes numa conversa, a transcrição de uma gravação e a sumarização (de uma reunião, videoconferência, entre outros) são algumas das soluções que já estão a ser desenvolvidas e que podem ser utilizadas não só por jornalistas, mas por tribunais, parlamentos, só para dar alguns exemplos.
A CEO da DefinedCrowd salienta que os media são um dos verticais considerados 'late adopters' [que adotam tardiamente] e nos Estados Unidos estão a "começar agora a acordar", considerando que é preciso mostrar-lhes o caminho e soluções fechadas.
A aplicação da IA é totalmente transversal a todos os setores e dos que neste momento mais beneficiam são as áreas de atendimento ao cliente.
Sobre a utilização de algoritmos na contratação de pessoas, Daniela Braga reforça que a IA está ao serviço de aumentar os humanos e não de os substituir, referindo que não imagina um mundo em que haja a substituição do processo presencial nalgum ponto do processo de recrutamento.
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