Por esta altura já é sabido que os gatos dominam grande parte da Internet, com memes, vídeos engraçados e todo o tipo de conteúdo a ser partilhado sobre este animal de estimação. Não se sabe se foi este ‘estatuto' que levou a produtora BlueTwelve Studio a escolher um gato como protagonista de ‘Stray’ mas, ainda assim, dificilmente seria possível encontrar uma decisão mais acertada.
Independentemente da popularidade dos gatos entre os internautas, esta decisão da BlueTwelve Studio permitiu criar algo verdadeiramente especial e genuíno com ‘Stray’. Com um lançamento apoiado pela editora Annapurna Interactive - responsável por ‘Outer Wilds’, ‘Sayonara Wild Hearts’, ‘ What Remains of Edith Finch’ e ‘Twelve Minutes’ - foi fácil para ‘Stray’ manter-se no radar dos jogadores assim que foi anunciado oficialmente no início do verão de 2020.
Dois anos depois, o Notícias ao Minuto recebeu um código para a PlayStation 5 de forma a experimentar ‘Stray’, o que nos proporcionou a oportunidade de perceber se o jogo tem mais para oferecer do que o seu (fofo) protagonista.
Em ‘Stray’ o jogador controla um gato (sem nome) que, depois de se separar acidentalmente dos companheiros felinos, dá por si num estranho mundo ‘cyberpunk’ habitado por robots. Depois de no início estar rodeado por natureza, o jogador é ‘atirado’ para um ambiente hostil e que parece ter sido tomado por estranhas criaturas - uma mistura entre pulgas e os ‘headcrabs’ de ‘Half-Life’ - os Zurk, capazes de destruir vida orgânica e sintética.
© Annapurna Interactive / Blue Twelve Studio
É ao encontrar um pequeno robot amnésico com Inteligência Artificial - de nome B-12 - que o jogador (e o gato que controla) pode começar a desvendar os segredos deste novo mundo, percebendo quem o criou e como chegou ao estado em que está. É uma história simples mas suficientemente intrigante para cativar o interesse dos jogadores, sobretudo os que são fãs de distopias e da estética ‘cyberpunk’.
Mais interessante é o facto de todos robots que servem de elenco secundário serem tão expressivos, manifestando emoções através de um pequeno ecrã no lugar da cabeça e também por via de gestos (e de um argumento bem escrito e cuidado). Enquanto forma de vida orgânica, o gato controlado pelo jogador é inicialmente visto com receio pelos robots e esta forma de tratamento evolui naturalmente ao longo da narrativa - uma progressão interessante e que ajuda o jogador a criar ele próprio uma ligação com a história.
O facto de o jogador controlar um gato também foi aproveitado para alterar um pouco a forma como se abordam as sequências de plataformas do jogo. Não se trata propriamente de ter de pensar como um gato mas, inevitavelmente, os olhos do jogador devem ser atraídos para determinadas zonas do cenário de modo a perceber um caminho em frente.
© Annapurna Interactive / Blue Twelve Studio
Além disso, controlar este gato será certamente algo delicioso para quem tem especial carinho por estes companheiros felinos. O jogador poderá correr, miar à sua vontade, afiar as garras em portas, saltar para cima de todas as superfícies possíveis (incluindo pianos), roçar-se em pernas alheias e também deitar ao chão tudo o que é objeto. No fundo, pode dizer-se que ‘Stray’ é o derradeiro simulador felino, algo que poderia ser um ponto negativo mas que o jogo transforma num dos seus fatores mais positivos.
Estes elementos de jogabilidade e que são parte do esquema de controlo deste gato são usados para mais do que um efeito estilístico, tendo também objetivos práticos. Miar, por exemplo, poderá servir para apontar o caminho em frente caso o jogador não saiba o que tem de fazer. Além disso, ao miar o jogador poderá atrair a atenção dos Zurk e afastá-los de elementos do cenário com que poderá interagir.
Eventualmente, o jogador contará com meios (de uso limitado) que poderá utilizar para destruir estes pequenos inimigos mas, ainda assim, não desvirtua drasticamente o estilo de jogo e que continua a estar assente em segmentos de plataformas e alguns puzzles mais simples.
© Annapurna Interactive / Blue Twelve Studio
‘Stray’ tem uma progressão linear mas, numa boa parte do jogo, será possível explorar com maior liberdade a vila habitada por robots, entrar pelas casas, recolher itens colecionáveis (sob forma de pautas musicais ou de memórias para B-12). Seja ao deambular pelas ruas algo labirínticas ou pelos telhados mais altos, explorar este mundo ‘cyberpunk’ nunca deixa de ser fascinante e está cheio de pequenos cantos e recantos, algo surpreendente tendo em conta o verdadeiro tamanho do cenário.
Mais do que um visual super detalhado, ‘Stray’ destaca-se pela direção artística. O grafismo não desilude ou compromete. As texturas estão bem trabalhadas, a iluminação transmite o ambiente certo e será certamente agradável para os jogadores ouvir os temas musicais, que entram sempre no momento certo e apenas reforçam a estética tão cativante de ‘Stray’.
Ao contrário de muitos jogos atualmente, ‘Stray’ não se prolonga mais do que deveria. Para alguns as 5 a 6 horas que demorarem a terminar a história do jogo saberão a pouco mas, no caso de ‘Stray’, esta longevidade ajuda a criar uma experiência sumarenta. Caso exista o desejo de prolongar esta experiência o jogador é livre de encontrar todos os itens colecionáveis e até tentar conquistar o troféu de platina mas, em relação à campanha, deve esperar uma experiência concisa.
© Annapurna Interactive / Blue Twelve Studio
Considerações finais
‘Stray’ é um daqueles jogos que só podia ter o selo de qualidade da Annapurna Interactive. Mesmo não tendo todos os ingredientes que costumam ser adotados por jogos tidos como AAA, ‘Stray’ consegue ainda assim apresentar motivos mais do que suficientes para ser experimentado.
Tudo somado, é um jogo sólido com uma estética ‘cyberpunk’ que agradará a qualquer fã do género e um estilo único - não devido aos segmentos de plataformas e puzzles - mas sobretudo devido ao protagonista, que ajuda a conferir ao jogador uma perspetiva única do mundo à sua volta.
‘Stray’ não é um jogo longo mas, para tudo o que oferece, também não precisaria de ser para oferecer uma experiência muito positiva. O jogo está disponível para PlayStation 5, PlayStation 4 e PC.
Pontos positivos
- Controlar um gato… É preciso dizer mais?
- Mundo ‘cyberpunk’ e personagens
- Segmentos de exploração
- Música ajuda a criar ambiente
Pontos negativos
- Para alguns poderá ser demasiado curto
- Áreas com os Zurk quebram um pouco ambiente
Ideal para…
Quem tem gatos ou diz ser apaixonado por estes animais de estimação terá certamente em ‘Stray’ um jogo obrigatório, capaz de maravilhar a praticamente todos os instantes. Além disso, os fãs de jogos distópicos com estética ‘cyberpunk’ também poderá olhar para esta experiência com interesse.
Se, por outro lado, está cansado de jogos demasiado longos com centenas de missões secundárias e procura algo mais ‘leve’ e fácil de digerir, ‘Stray’ pode ser exatamente aquilo que procura.
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