Disponível em qualquer telemóvel com o sistema Android, essa ferramenta é a mais recente componente de um programa que aquela instituição particular de solidariedade social de Ovar, no distrito de Aveiro, já desenvolve desde 2017, com o apoio do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e Dependência, tutelado pelo Ministério da Saúde.
A coordenação do projeto cabe ao animador social Germano Borges e à psicóloga Olívia Resende, que explica que o programa resultou de "necessidades identificadas no concelho" ao nível de comportamentos aditivos, o que justifica a intervenção do Abispa-te em contexto escolar, para prevenção e treino de competências, e também em formato individual, numa consulta própria para jovens que apresentem fatores de risco.
"Faltava-nos uma ferramenta de uso mais generalizado, que permitisse a qualquer jovem -- e mesmo a adultos -- fazer um autodiagnóstico dos seus comportamentos de forma individual, reservada e anónima, e foi assim que decidimos criar a app, com a ajuda de um voluntário da empresa Catnap Apps Mobile, que garantiu a sua conceção técnica a custo zero, já que não havia financiamento para esta componente do programa", revela hoje Olívia Resende à agência Lusa.
Na aplicação, o utilizador deve consultar o menu horizontal no fundo do ecrã, onde, além de detalhes sobre o projeto Abispa-te, encontra três opções de ação, a começar pela associada ao ícone da listagem, que permite acesso a informação sobre dependências como alucinogénios, anfetaminas, canábis, redes sociais, tabaco, videojogos e álcool.
O símbolo com o ponto de interrogação remete depois para os testes destinados a identificar padrões de consumo, de acordo com perguntas baseadas num formato de rastreio definido pela Organização Mundial de Saúde, e o ícone do telefone disponibiliza o número da Linha Vida SOS Droga e ainda o do gabinete do Abispa-te destinado a aconselhamento e orientação de jovens ou famílias.
Olívia Resende acredita que esses serviços de diagnóstico e terapia são "cada vez mais necessários", explicando que tem como referência os 110 jovens que a consulta de psicologia do projeto já acompanhou desde 2017.
A maioria desses casos foram encaminhados por decisão dos tribunais, após serem identificados pela polícia na posse de estupefacientes, e das comissões de proteção de menores, que muitas vezes os encaminham para atendimento "com as próprias famílias".
Nesses contactos, uma das situações críticas mais comuns tanto afeta jovens como adultos: "É o caso das pessoas que consomem um charro por dia e desvalorizam esse comportamento, porque acham que essa regularidade não é preocupante e que não há aí dependência nenhuma".
Além da canábis -- cujo consumo diário "é um problema, sim" -- também o uso do telemóvel, da internet e dos jogos se tem confirmado como causa crescente de comportamentos aditivos, "sobretudo entre os jovens, mas numa tendência transversal, que afeta igualmente outras idades".
A diferença é que "os adultos costumam desvalorizar isso por não estarem cientes dos riscos que essas dependências causam" e daí o alerta da psicóloga: "Ao contrário do que se pensa, não são só as drogas que conduzem ao desenvolvimento de doenças mentais, como quadros ansiogénicos ou depressivos, e perturbações de personalidade; isso também acontece devido a redes sociais e videojogos".
Nesse contexto, a vantagem da app Abispa-te é que, mediante "respostas honestas" aos testes, demonstrará quais os comportamentos que indiciam um problema já instalado e facilitará "um acesso mais rápido a apoio psicológico e terapêutico, se o utilizador quiser aproveitar a oportunidade e pedir ajuda", concluiu Olívia Resende.
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