"Oiço muitas vezes que as pessoas só leem a primeira frase, o 'headline' [manchete] porque não querem pagar, mas, quem só vê o 'headline', não consegue ver completamente a história, nem sabe o que é uma notícia verdadeira", afirmou a 'president & global media literacy educator' do Internacional Council for Media Literacy Belinha de Abreu, em declarações à Lusa.
A especialista, que falava à margem da conferência "Confiar no jornalismo, fugir à desinformação", que decorreu na sede da Lusa, em Lisboa, defendeu que as pessoas têm que escolher melhor a informação a que querem ter acesso e que, isso, implica, muitas vezes, pagar pelas notícias.
Belinha de Abreu referiu ainda que, hoje em dia, os jovens já acreditam que tudo é desinformação, mas não sabem distinguir uma opinião de uma notícia.
"Os jovens precisam de ouvir pessoas diferentes. Conversar com outras nacionalidades para saberem que o mundo é maior [...] e se utilizarem também as redes sociais e a internet nesse sentido vão perceber que existem maneiras diferentes de pensar", acrescentou.
Para o comandante Santos Fernandes, chefe da divisão de planeamento do Estado-Maior da Armada, a desconfiança está mais associada à velhice, enquanto os jovens "têm necessidade do imediato em que quase tudo é entendido como um facto".
Neste âmbito, Santos Fernandes acredita que a inteligência artificial vai assumir um duplo papel, uma vez que pode ser "uma ferramenta para o desinformador, mas também para aquele que combate a desinformação".
O investigador Vítor Tomé, que também participou na conferência organizada pela Lusa, disse que o jornalismo e os jornalistas podem assumir diversos papéis no combate às 'fake news' (desinformação).
Isto começa por "fazer a sua profissão, usando novas ferramentas. O segundo [papel] é explicar o processo de produção: como é que se chegou aqui? Como é que fizemos isto? Mostrar às pessoas [...] que se trata de uma informação fidedigna e confiável", sublinhou.
Por outro lado, conforme assinalou, os jornalistas têm também a função de formadores da população, sendo "essencial" que estes profissionais façam parte de projetos de literacia mediática.
"As pessoas não têm noção do que é fazer jornalismo e baralham, muitas vezes, a estrada da Beira com a beira da estrada. O jornalismo-cidadão não é jornalismo. O jornalismo é outra coisa, tem determinadas regras e obriga a carteira profissional", notou.
Questionado sobre a existência de recursos suficientes para desenvolver esse trabalho, Vítor Tomé referiu existir escassez de meios financeiros e humanos, porém considerou que é necessário "fazer-se o possível" com o que está disponível.
Na conferência foi exibido o documentário "Trust Me", do norte-americano Roko Belic, que aborda a desinformação na era digital, com recurso a depoimentos de cientistas, governantes, psicólogos e jornalistas.
"Trust Me" alerta para a forma como o público pode detetar a manipulação de fontes e informações, filtrando o que é ou não factual, e assim evitar a proliferação de 'fake news'.
Leia Também: OMS acusa Elon Musk de divulgar 'fake news'