Quem só lê manchetes não sabe o que é uma notícia, diz especialista

A especialista em literacia mediática Belinha de Abreu defendeu hoje que, quem lê apenas as manchetes não sabe o que é uma notícia e o que é desinformação, vincando que as pessoas devem estar dispostas a pagar pelos artigos.

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Lusa
27/04/2023 20:17 ‧ 27/04/2023 por Lusa

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"Oiço muitas vezes que as pessoas só leem a primeira frase, o 'headline' [manchete] porque não querem pagar, mas, quem só vê o 'headline', não consegue ver completamente a história, nem sabe o que é uma notícia verdadeira", afirmou a 'president & global media literacy educator' do Internacional Council for Media Literacy Belinha de Abreu, em declarações à Lusa.

A especialista, que falava à margem da conferência "Confiar no jornalismo, fugir à desinformação", que decorreu na sede da Lusa, em Lisboa, defendeu que as pessoas têm que escolher melhor a informação a que querem ter acesso e que, isso, implica, muitas vezes, pagar pelas notícias.

Belinha de Abreu referiu ainda que, hoje em dia, os jovens já acreditam que tudo é desinformação, mas não sabem distinguir uma opinião de uma notícia.

"Os jovens precisam de ouvir pessoas diferentes. Conversar com outras nacionalidades para saberem que o mundo é maior [...] e se utilizarem também as redes sociais e a internet nesse sentido vão perceber que existem maneiras diferentes de pensar", acrescentou.

Para o comandante Santos Fernandes, chefe da divisão de planeamento do Estado-Maior da Armada, a desconfiança está mais associada à velhice, enquanto os jovens "têm necessidade do imediato em que quase tudo é entendido como um facto".

Neste âmbito, Santos Fernandes acredita que a inteligência artificial vai assumir um duplo papel, uma vez que pode ser "uma ferramenta para o desinformador, mas também para aquele que combate a desinformação".

O investigador Vítor Tomé, que também participou na conferência organizada pela Lusa, disse que o jornalismo e os jornalistas podem assumir diversos papéis no combate às 'fake news' (desinformação).

Isto começa por "fazer a sua profissão, usando novas ferramentas. O segundo [papel] é explicar o processo de produção: como é que se chegou aqui? Como é que fizemos isto? Mostrar às pessoas [...] que se trata de uma informação fidedigna e confiável", sublinhou.

Por outro lado, conforme assinalou, os jornalistas têm também a função de formadores da população, sendo "essencial" que estes profissionais façam parte de projetos de literacia mediática.

"As pessoas não têm noção do que é fazer jornalismo e baralham, muitas vezes, a estrada da Beira com a beira da estrada. O jornalismo-cidadão não é jornalismo. O jornalismo é outra coisa, tem determinadas regras e obriga a carteira profissional", notou.

Questionado sobre a existência de recursos suficientes para desenvolver esse trabalho, Vítor Tomé referiu existir escassez de meios financeiros e humanos, porém considerou que é necessário "fazer-se o possível" com o que está disponível.

Na conferência foi exibido o documentário "Trust Me", do norte-americano Roko Belic, que aborda a desinformação na era digital, com recurso a depoimentos de cientistas, governantes, psicólogos e jornalistas.

"Trust Me" alerta para a forma como o público pode detetar a manipulação de fontes e informações, filtrando o que é ou não factual, e assim evitar a proliferação de 'fake news'.

Leia Também: OMS acusa Elon Musk de divulgar 'fake news'

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