O cientista Peter Gleick, especialista em clima e água e com cerca de 99.000 seguidores no Twitter, anunciou no domingo que vai deixar de publicar nesta plataforma, que acusa de amplificar o racismo e o sexismo.
Este investigador disse, citado pela agência France Presse, que está habituado a "ataques agressivos, pessoais e 'ad hominem', até ao ponto de ameaças físicas diretas", adiantando que desde a chegada do novo 'dono' do Twitter e das mudanças geradas, a "quantidade e a intensidade dos ataques dispararam".
Desde que comprou o Twitter, há seis meses, o bilionário Elon Musk flexibilizou a moderação de conteúdos considerados mais problemáticos e permitiu o regresso à rede de personalidades anteriormente proibidas, como Donald Trump.
O físico Robert Rohde da Berkeley Earth, uma organização de pesquisa sem fins lucrativos com sede na Califórnia, analisou a atividade de centenas de contas de especialistas em ciências do clima, com muitos seguidores, antes e depois da compra da empresa por Elon Musk.
Robert Rohde concluiu que os 'tweets' dos cientistas já não tinham o mesmo impacto, afirmando que o número médio de 'gostos' nas publicações, que traduz a aprovação por quem as lê, caiu 38%. Houve também uma queda de 40% na partilha destas publicações.
Numa outra análise, a cientista de ciências do clima Katharine Hayhoe analisou as respostas ao mesmo tweet que publicou voluntariamente duas vezes, antes e depois da tomada de controlo do Twitter por Elon Musk.
As respostas de 'bots' -- contas falsas geridas por computador -- e 'trolls' -- perfis que recorrem a insultos e desinformação - aumentaram entre 15 a 30 vezes em comparação com os dois anos anteriores, concluiu.
Andrew Dessler, professor de ciências atmosféricas na Universidade A&M do Texas, decidiu transferir a maior parte da sua comunicação sobre o clima para outra plataforma, a Substack.
"Nas respostas a quase todos os tweets sobre as alterações climáticas, sou inundado por respostas com afirmações erróneas ou mal informadas", salientou.
Outros investigadores abandonaram simplesmente o Twitter. A investigadora Katharine Hayhoe calcula que, dos 3.000 cientistas do clima que listou, 100 já desapareceram da rede.
A especialista em glaciares Ruth Mottram, que era seguida por mais de 10.000 pessoas no Twitter, optou por sair da rede em fevereiro, juntando-se a um fórum de cientistas no Mastodon, uma rede social descentralizada criada em 2016.
Michael Mann, um dos principais cientistas do clima da Universidade da Pensilvânia, que é regularmente atacado na Internet, considera que o aumento da desinformação é "organizado e orquestrado" pelos opositores às políticas climáticas.
Num livro publicado em 2022 - "A nova guerra climática" - relatou a ação dos produtores de petróleo para incentivar a negação das alterações do clima nas redes sociais.
"Os 'trolls' profissionais estão a manipular o ambiente na Internet com publicações estratégicas que geram conflitos e divisões", disse Michael Mann à AFP.
Até agora, a rede Twitter não se pronunciou diretamente sobre as alterações dos seus algoritmos, que geram tráfego e visibilidade na rede. Contactado pela AFP, o gabinete de imprensa da empresa respondeu com um e-mail gerado automaticamente... "com um emoji de cocó".
Elon Musk já explicou a filosofia subjacente às alterações ocorridas em janeiro: "As pessoas mais conotadas com a 'direita' devem ver mais coisas de 'esquerda' e as pessoas de 'esquerda' devem ver mais coisas de 'direita'".
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