'Rabo de Peixe' chegou hoje à Netflix. Conversámos com os atores da série

É a segunda série portuguesa a estrear em exclusivo na Netflix. Conversámos com alguns elementos do elenco sobre como foi adaptar a história real da vila açoriana e as oportunidades que uma produção deste tipo podem representar para o futuro.

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Miguel Dias
26/05/2023 09:00 ‧ 26/05/2023 por Miguel Dias

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Os subscritores da Netflix podem ver esta sexta-feira, dia 26, a segunda série original portuguesa a chegar ao serviço de streaming. Chama-se ‘Rabo de Peixe’ e conta uma versão ficcionada da história real da vila da ilha de São Miguel, nos Açores, com o mesmo nome.

A história é conhecida de praticamente todos os portugueses. Depois de um barco naufragar ao largo da pequena vila açoriana, deram à costa na parte norte da ilha mais de 400 quilos de cocaína. Este acontecimento teve um impacto praticamente irreversível na população local, uma história que serve de base para esta série da Netflix que procura tratar o tema de uma forma um pouco mais leve.

‘Rabo de Peixe’ conta com um total de sete episódios e tem no elenco alguns nomes bem conhecidos do público português, nomeadamente José Condessa, Kelly Bailey, Helena Caldeira, Rodrigo Tomás, André Leitão, Maria João Bastos, Pêpê Rapazote, Albano Jerónimo e Salvador Martinha.

O Notícias ao Minuto teve a oportunidade de conversar com alguns dos elementos do elenco sobre ‘Rabo de Peixe’, procurando perceber de que forma estavam ao corrente da história real da vila açoreana e que expetativas têm para o futuro de produções deste tipo em Portugal.

Notícias ao Minuto© Netflix  

A história real de Rabo de Peixe

Dado que se trata de um acontecimento de 2001 e que teve lugar numa pequena vila dos Açores, nem todos os habitantes de Portugal Continental terão tido conhecimento da história. Questionados sobre a familiaridade com os acontecimentos reais de ‘Rabo de Peixe’, alguns atores da série associam a história ao rapper açoriano Sandro G.

“Tinha um amigo na minha turma que era açoriano. Adorava o sotaque dele, ele levava imensas músicas - entre elas do Sandro G - e eu acho que acabei por ter essa noção da história toda”, relembra Kelly Bailey.

Apesar de admitir que tinha “uma imagem vaga” da história, Salvador Martinha também relembra que o primeiro contacto com Rabo de Peixe foi através de Sandro G. “Aquilo marcou-me porque contou um bocadinho da história”, contou o ator e humorista.

A série traz a beleza de Rabo de Peixe

Maria João Bastos partilha que também se lembra da história, sublinhando que participar na série proporcionou uma oportunidade para saber mais sobre os acontecimentos reais.

“À medida que fui estudando para esta série, fui descobrindo coisas que não sabia - nomeadamente na parte internacional, que havia tanto conhecimento do que tinha acontecido, mesmo os estudos europeus sobre níveis de toxicodependência que, infelizmente, nos colocava numa posição bastante elevada no ‘ranking’ nessa altura. Não tinha consciência que internacionalmente tinha tido tanto peso”, conta Maria João Bastos.

Por outro lado, a entrada na série ‘Rabo de Peixe’ acabou por apresentar a história pela primeira vez ao ator André Leitão que diz “nunca ter ouvido falar” da mesma.

“Foi muito curioso porque, quando transmiti à minha família que ia fazer este projeto e contei a premissa que ia ser usada como enredo, todos eles reconheceram a história. Mas como é que nunca me contaram?! Fiquei muito interessado, quis investigar quanto disto é que era verdade porque para mim era algo completamente novo. Há aqui uma ideia muito interessante por explorar do ponto de vista de ficção”, notou André Leitão.

Além de ter sido uma oportunidade de conhecer a história mais a fundo, ‘Rabo de Peixe’ permitiu ao elenco trabalhar na vila açoriana e ter contacto com aquele que é o pano de fundo da narrativa. Sobre a impressão com que ficou da vila, Maria João Bastos realça que “a série traz a beleza de Rabo de Peixe”. “As paisagens são bonitas e a série mostra um lado muito bonito. Espero que a série traga muito turismo, era um bom sinal”, sublinha Maria João Bastos.

Pêpê Rapazote estende os elogios aos habitantes da vila, sublinhando que “as gentes de Rabo de Peixe são pessoas especiais”

“Isto foi uma história que caiu numa freguesia, que antes era discriminada e tinha problemas com falta de apoio e muita coisa, e onde se abate esta tragédia”, explica Pêpê Rapazote. “É uma história que pode parecer pesada à partida mas que, apesar de tudo, é contada com leveza por estes protagonistas novos e que saem para a pesca. É muito interessante e traz para o mundo ‘normal’ a freguesia de Rabo de Peixe que é muito mais apaixonante e tem coisas muito mais interessantes do que à partida o estigma poderia dizer”.

Notícias ao Minuto© Netflix  

A tragédia e a comédia

Mesmo que ‘Rabo de Peixe’ seja uma série sobre um acontecimento real (e relativamente recente) e dramático, os responsáveis viram na história potencial para criar uma narrativa com um tom mais leve. Esta aproximação à comédia foi algo que tivemos oportunidade de falar com os elementos do elenco, que consideraram natural esta abordagem.

Helena Caldeira recorda mesmo que “a tragédia e o humor estão diretamente ligados”, notando que o “que faz parte da condição humana também é cómico por si só”.

São desgraças atrás de desgraças, parece uma forma de aproximação ‘Tarantiniana’ desta história

“Também é uma forma de contrastar com o que acontece no fim. Se calhar se passarmos as coisas com estas camadas todas também dá oportunidade ao espectador de tirar as suas próprias ilações e conclusões”, explica a atriz.

Já para Pêpê Rapazote, a comédia vem precisamente da premissa que está na base da história.

“De repente, uns pescadores de Rabo de Peixe têm quilos de cocaína nas mãos. O que é vão fazer com isto? O insólito da prerrogativa desta série traz tudo o resto. Tudo o resto são desgraças atrás de desgraças, parece uma forma de aproximação ‘Tarantiniana’ desta história. É o Quentin Tarantino a interpretar esta história. Traficantes italianos, cocaína em Rabo de Peixe, pescadores… É uma loucura total”, nota o ator.

Notícias ao Minuto © Netflix
 

O futuro pós-Netflix

Depois de ‘Glória’, que foi a primeira série original portuguesa a ser lançada exclusivamente na Netflix, ‘Rabo de Peixe’ segue o mesmo caminho e serve de testemunho de que ainda há projetos de grande interesse a serem explorados. O futuro afigura-se como promissor e parte dos elementos do elenco acredita mesmo que ‘players’ como a Netflix podem ser importantes para dinamizar a cultura em Portugal.

“Como ‘Glória’ nos trouxe a ‘Rabo de Peixe’, acho que ‘Rabo de Peixe’ nos vai levar à glória”, brinca Pêpê Rapazote.

Mais do que condições para desenvolver a respetiva personagem, Helena Caldeira acredita que a maior diferença entre ‘Rabo de Peixe’ e outras produções portuguesas “talvez esteja até no guião”. “Neste caso havia muitas cenas de ação, coisas tecnicamente complicadas de fazer e se calhar num projeto para televisão seriam mais difíceis de produzir por causa do orçamento e do ‘know-how’”, nota a atriz.

Helena Caldeira recorda também que, em Portugal, “não se dá muita importância à cultura e à arte”, considerando “importante aceitar que [produtoras como a Netflix] venham para o nosso país”.

“É uma produtora como a Netflix que vai abrir oportunidades para que outras produtoras possam vir para cá, para mais atores e técnicos trabalharem e para guiões diferentes. Sim, por isso é importante a Netflix estar cá e investir na cultura portuguesa”, sublinhou a atriz.

Kelly Bailey realça ainda a exposição como outro elemento de uma produção lançada através da Netflix que, enquanto serviço de streaming, serve como veículo de distribuição para mercados completamente diferentes do português.

Vamos poder levar Portugal para o mundo inteiro

“A grande diferença aqui é essa, que vamos poder levar Portugal para o mundo inteiro. Não vamos ignorar isso e sabemos que temos essa responsabilidade, porque pode abrir portas para outros projetos e colegas nossos também”, nota Kelly Bailey. “Acho que sentimos essa responsabilidade de fazer um projeto para a Netflix, que pode abrir para o futuro, para outros projetos e outros atores”.

Esta maior exposição serve até para Salvador Martinha tecer algumas piadas com as possibilidades que ‘Rabo de Peixe’ poderá criar, notando a estranheza que seria que os elementos do elenco se tornassem populares em outros países completamente diferentes.

“O meu sonho era que me ligassem, depois de a série estrear, a convidarem-me para um filme. Era lindo não era?! Começar a receber chamadas de números de fora de Portugal”, brinca o ator e humorista. “Imaginem sermos conhecidos só num país? ‘Bem, vocês na Índia…’ Imaginem não podermos ir à Índia! No fundo esta é a mensagem da série: que há bom produto e que somos nós!”.

Leia Também: Rabo de Peixe espera que série da Netflix mude imagem da vila

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