A professora da Faculdade de Direito da Universidade de Miami especializada em IA e segurança participou na segunda-feira numa conferência da Lusa sobre o tema "Inteligência Artificial - Negócios e Democracia", num debate em que também esteve presente o diretor-geral do Gabinete Nacional de Segurança, o almirante António Gameiro Marques.
"O mais importante é que os governos se unam", defende Weldone, apontando que a União Europeia já avançou com legislação sobre a IA, enquanto nos EUA estão a debater o tema.
Nos EUA, "uma coisa boa" que aconteceu há poucas semanas foi o facto de cerca de 60 senadores se terem reunido com as maiores empresas tecnológicas, entre outros, para refletir sobre como deveria ser a regulação, o que mostra o quão importante é o tema.
"Apesar de algumas pessoas nos EUA pensarem que a UE foi demasiado longe" em termos de regulação, uma posição que as tecnológicas norte-americanas também partilham, "preocupa-me que possamos não ir tão longe", prossegue.
"Não sabemos o que a China está a fazer com a IA, não sabemos o que a Rússia está a fazer com a IA" ou Irão, alerta.
Quando as pessoas usam a IA generativa do ChatGPT ou Bard, por exemplo, entre outros, estas "não sabem para onde vai essa informação e é por isso que considero que o mundo inteiro precisa de se unir, o que é difícil porque o mundo está muito polarizado", enfatiza.
"Não tenho soluções, sou apenas uma professara de direito", diz a sorrir, para logo insistir "esta é a única coisa" e deveria ser capaz de unir os países.
"Há muita desgraça e tristeza em relação à IA" e questões como se vai chegar à inteligência artificial geral, que será basicamente parecido com um humano, algo que pode acontecer dentro de cinco, 20, 50 ou 100 anos, ninguém sabe quando.
Chegar a um consenso mundial é difícil, de acordo com Weldone, que dá o exemplo das questões relativas às alterações climáticas, em que nem todos partilham da mesma ideia, mas o certo é que há inundações, pessoas a morrer devido a ondas de calor, entre outros eventos climáticos.
Uma das preocupações atuais tem a ver "com a desinformação", dos EUA à Índia, está em todas as partes do mundo.
"Com o advento da IA, os 'chatbots podem exponencialmente multiplicar-se onde é possível infiltrarem-se pelas redes sociais" e as pessoas pensam que estão a falar com uma pessoa real, uma fonte confiável e isso não é assim.
"Infelizmente [nas redes sociais] é onde as pessoas vão buscar informação", e não nas notícias, lamenta, recordando que o CEO (presidente executivo) da Open AI, Sam Altman, dona do ChatGPT, também já disse que um dos seus grandes receios é a desinformação intencional.
"E essa é a pessoa que está a colocar toda a IA no mundo", comenta.
Apesar de reconhecer os méritos da inteligência artificial, Marcia Naride Weldone refere que pessoas desonestas, com más intenções, podem "desenhar uma mensagem" que afete uma pessoa e não outra.
"Então, embora eu possa não ser influenciada, isso será adaptado para que seja influenciada a votar ou não, a fazer com que saia na rua e proteste ou não saia na rua e proteste", aponta, reiterando a sua preocupação com a desinformação.
Com a IA, as mensagens são "muito mais" eficazes do que as criadas pelos humanos, porque vê o que ressoa nas pessoas.
"É o que se chama de redes neurais, que é da mesma forma que o cérebro trabalha, por isso estou preocupada" com o tema.
Aponta ainda as 'deep fakes', no qual é possível imitar a voz, clonar a imagem de alguém para dizer algo falso, por exemplo, o que pode ter efeitos em períodos eleitorais.
"O mundo já está a sofrer de falta de confiança", sublinha.
A Google anunciou recentemente que vai exigir que em anúncios políticos as pessoas digam se usaram IA ou se a mensagem foi gerada por IA, aponta Marcia Narine Weldone.
OS EUA têm eleições no próximo ano, mas a corrida começa muito antes.
Do lado positivo, a responsável aponta a aplicação da IA na educação, no envolvimento cívico, em iniciativas de desenvolvimento sustentável, no fomento de parcerias públicas e privadas, entre outras áreas.
Mas "irá piorar primeiro antes de melhorar", considera.
E se "estivermos todos unidos" neste âmbito "penso que, mais uma vez, a democracia prospera", remata.
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