"Fiquei chocada com a quantidade de pessoas que demonstraram falta de empatia", revelou à Lusa a natural de Pequim. "Por muito boas que sejam as infraestruturas, espiritualmente [a China] continua a ter características de um país de terceiro mundo", disse.
O mesmo fenómeno foi observado pela organização não governamental Freedom House: "Desde o ataque terrorista do Hamas, em 07 de outubro, e o subsequente bombardeamento da Faixa de Gaza por Israel, a Internet chinesa foi inundada de antissemitismo (...) a par de uma pequena estirpe de conteúdo contra a Palestina que frequentemente descambam para a islamofobia".
"O discurso de ódio é um flagelo mundial", indicou a organização não-governamental, num relatório produzido por Yaqiu Wang, diretora de pesquisa da Freedom House para a China. "No entanto, o espaço de informação chinês é único na medida em que o Partido Comunista controla rigorosamente os comentários que circulam nas redes sociais através de ferramentas automáticas e manuais, o que significa que o discurso de ódio que permanece sem censura reflete decisões do regime", apontou.
Questionado pela agência Lusa sobre a posição da Freedom House, o ministério dos Negócios Estrangeiros chinês afirmou apenas que a legislação chinesa "proíbe claramente a utilização da Internet para promover informações como o extremismo, o ódio étnico, a discriminação e a violência".
Pequim mantém um mecanismo de censura 'online' conhecido por "Grande Firewall da China" que bloqueia portais como Facebook, Youtube e Google ou as versões electrónicas de vários órgãos de comunicação estrangeiros. Conteúdo e comentários nas redes e espaços de discussão 'online' são sujeitos a controlo das autoridades. Os algoritmos permitem censurar rapidamente conteúdo considerado politicamente sensível, enquanto determinadas palavras-chave, como "Massacre de Tiananmen", estão interditas de serem publicadas.
A organização não-governamental citou uma partilha de Jin Canrong, proeminente professor chinês de relações internacionais que tem 2,7 milhões de seguidores na rede social Weibo: "Israel está louco por matar, a ONU não pode fazer muito". A reacção mais votada entre os internautas: "Hitler conhecia realmente bem os judeus".
A Freedom House acusou ainda a imprensa oficial chinesa de explorar o conflito para difundir preconceitos contra os judeus e espalhar desinformação.
A organização citou um programa intitulado "descobrir o elemento israelita na História das eleições norte-americanas", no qual a televisão estatal CCTV "alegou que os judeus, que representam 3% da população dos EUA, controlam 70% da sua riqueza".
O mesmo canal atribuiu os laços próximos entre os dois países à noção de que "os judeus dominam os setores finanças, comunicação social e Internet" nos Estados Unidos.
É uma noção partilhada por Li Men, uma chinesa natural da província de Hunan, que em declarações à Lusa afirmou acreditar que os judeus exercem "controlo político e económico" e declarou que os vê como "opacos e fingidos".
Para a Freedom House, a permissividade de Pequim com "propaganda antissemita" deve-se à parceria entre Israel e os Estados Unidos. O Partido Comunista Chinês vê Washington como uma "ameaça existencial ao seu domínio na China", observou a organização.
"O regime tem aproveitado constantemente conflitos internacionais como oportunidades para minar a posição de Washington na ordem mundial", notou. "Muitos órgãos estatais acusaram o imperialismo dos EUA de ser a causa principal do conflito israelo-palestiniano que dura há décadas", indicou.
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